Os acessos a Maputo pela ponte de Katembe foram bloqueados esta manhã por automobilistas, que contestam a concessionária Revimo por voltar a cobrar portagens, o que não aconteceu nas últimas semanas devido às manifestações pós-eleitorais.

Após momentos de tensão, dezenas de pessoas aproximaram-se das portagens e das instalações da Revimo, à saída da ponte, exigindo o fim da cobrança, tendo sido repelidas pela polícia, cerca das 10:40 (menos duas horas em Lisboa) com tiros e granadas de gás lacrimogéneo, precipitando a fuga, por alguns momentos.

Uma dessas granadas acabou por partir o vidro da viatura, uma das dezenas que estava parada na fila à saída da portagem, sem poder avançar devido ao bloqueio à frente, e acabou por deflagrar no interior.

"Eu estava dentro do carro, e o carro pegou fogo, queimou-me o banco e tudo. Estava sozinha, estava a ir para o trabalho, o meu carro é praticamente o último aqui na fila", descreveu a condutora, que sofreu escoriações e queimaduras.

A ação policial levou à revolta dos automobilistas e outras pessoas no local, pedindo satisfações à polícia, seguindo-se novos momentos de tensão e tentativas de negociação por parte das autoridades no local, que levou à libertação de um manifestante, cobrador de uma viatura de transporte informal, detido pouco antes neste protesto.

Desde o início da manhã que os automobilistas que acediam à praça de portagens da ponte, em Katembe, única entrada na capital a partir do sul do país, buzinavam e recusavam-se a pagar portagem, apesar do forte contingente policial.

A recusa no pagamento provocava enormes filas o que levava os responsáveis da Revimo a abrir por momentos, em várias alturas, para escoar o trânsito, sem que os automobilistas pagassem, pelo que a passagem era feita em clima de festa.

Já cerca das 09:30, automobilistas imobilizaram viaturas algumas dezenas de metros antes da praça de portagem, bloqueando por completo o trânsito no acesso a Maputo, levando dezenas de pessoas a deixar as viaturas e fazerem o percurso até à cidade, pela ponte, a pé, apesar da proibição da circulação pedonal, o mesmo acontecendo com as viaturas, que regressavam em contramão numa via rápida de duas faixas.

A Rede Viária de Moçambique (Revimo), responsável pela construção, conservação e exploração de várias estradas nacionais, retoma hoje a cobrança de taxas nas portagens no país, suspensas devido aos protestos pós-eleitorais.

"Informamos que, a partir de segunda-feira, 27/01/2025, será retomada a cobrança de taxas nas portagens [...] sob nossa gestão", lê-se num comunicado divulgado pela Revimo.

Também a sul-africana Trans African Concessions (TRAC), concessionária da estrada N4, que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia, retomou, na quinta-feira, a cobrança de portagens, causando revolta popular, com os manifestantes a bloquearem a via e a polícia a efetuar vários disparos para reabrir os acessos à portagem de Maputo.

O então candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou em dezembro ao não pagamento de portagens no país, sendo que, após a destruição e vandalização de algumas cabines de cobrança, várias foram fechadas, sem receber pagamentos.

Entretanto, num documento publicado na terça-feira, com 30 medidas que exige para os próximos 100 dias, Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados oficiais das eleições gerais de 09 de outubro que deram a vitória a Daniel Chapo, já empossado como quinto Presidente de Moçambique, voltou a apontar a não cobrança de portagens em todo o país como exigência.

"Na N4 as portagens, pelo tempo de vida que já têm, cumpriram com tempo de rentabilidade face ao investimento efetuado", refere no documento, exigindo a extensão do não pagamento de portagens neste período, alegando, também, que em várias vias com portagens no país "não houve consulta pública" sobre essa cobrança e "não se respeitou o princípio da via alternativa".

Já a Revimo refere que as taxas cobradas através das portagens garantem a manutenção das infraestruturas rodoviárias, afirmando que vai continuar a implementar medidas para a mitigação dos custos, "incluindo descontos" para o transporte coletivo de passageiros e de utilizadores frequentes.

Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, com confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, além de saques e destruição de equipamentos públicos e privados.

De acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, nestes protestos há registo de pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e pelo menos 750 pessoas baleadas.

PVJ // JMC

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