Há três anos, Putin lançou uma invasão de grande escala em solo europeu. Cenas que pareciam ter saído diretamente dos livros de história chegaram até nós através dos nossos smartphones e ecrãs de televisão de um dia para o outro.
Nunca devemos esquecer o horror infligido aos civis ucranianos. Na semana passada, num evento organizado pela Embaixada da Ucrânia, Universidade NOVA e parceiros, ouvi o testemunho angustiante de uma corajosa ucraniana, Olena, sobre o horror da sua experiência como refém no cativeiro russo, incluindo tortura, violência sexual, condições de vida desumanas e trabalho forçado. Este pesadelo, para o qual os ucranianos têm de acordar todos os dias, é causado por um homem e apenas por um homem - Putin.
A dura realidade da guerra de Putin pode parecer distante para nós, na fronteira ocidental da Europa. No entanto, a verdade nua e crua é que não são apenas a segurança e o futuro da Ucrânia que estão em causa. Está também em causa a segurança do Reino Unido e de Portugal.
Enquanto os militares russos se desgastem no campo de batalha, a um custo humano terrível, vemos os homens de mão de Putin a tentar atacar profundamente o coração do nosso continente.
Os serviços secretos britânicos identificaram que atores estatais russos estão a levar a cabo uma missão contínua para gerar o caos nas ruas europeias: fogo posto, sabotagem, interferência eleitoral e muito mais. Ações perigosas conduzidas com crescente imprudência.
Nas águas que rodeiam o Reino Unido e Portugal, vemos relatos de navios russos cuja presença provavelmente não se deve à beleza das nossas costas, mas sim ao valor estratégico das nossas águas territoriais, incluindo os cabos submarinos que nelas se encontram.
Entretanto, a crise do custo de vida que tem afetado trabalhadores em Portugal e no Reino Unido tem uma ligação clara com a guerra na Ucrânia, com o aumento dos preços da energia e dos alimentos.
É por isso que o primeiro-ministro Keir Starmer descreve esta situação como um momento único numa geração para a segurança coletiva do nosso continente. Este é o momento de agir.
O primeiro-ministro comprometeu-se a aumentar as despesas de defesa do Reino Unido para 2,5% do produto interno bruto até 2027, com a ambição de atingir 3% na próxima legislatura, se as condições económicas o permitirem. Este compromisso representa o maior aumento sustentado das despesas com a defesa do Reino Unido desde a Guerra Fria.
Representa também uma oportunidade para nós e para os nossos aliados. O aumento da despesa com defesa contribuirá para o crescimento da nossa economia e para a melhoria do nível de vida, que é a missão fundamental do Governo do Reino Unido. O investimento em defesa traduzir-se-á em emprego, crescimento, competências e inovação.
É claro que temos de encontrar o dinheiro. E, neste caso, isso significa que o Reino Unido reduzirá a despesa de apoio ao desenvolvimento, passando dos atuais 0,5% do rendimento nacional bruto para 0,3% em 2027, financiando totalmente o nosso maior investimento na defesa.
Esta é uma escolha incrivelmente difícil para nós, e não a fizemos de ânimo leve.
Mas a realidade é que a Europa deve assumir a responsabilidade pela nossa própria segurança e aumentar o investimento na nossa própria defesa, pelo que o primeiro-ministro propôs aos líderes europeus uma parceria ambiciosa entre o Reino Unido e a UE em matéria de defesa e segurança.
Queremos dar mais atenção à investigação e ao desenvolvimento, reunindo as mentes mais brilhantes do Reino Unido e da UE através do programa Horizon Europe e do Acelerador da Inovação no domínio da Defesa da NATO.
Precisamos de uma maior cooperação para nos protegermos das ameaças estatais e da sabotagem das nossas infraestruturas nacionais críticas pela Rússia.
E temos de aprofundar a colaboração industrial entre a UE e o Reino Unido, criando emprego e crescimento no nosso país e reforçando simultaneamente a nossa defesa coletiva.
Orgulho-me do facto de o Reino Unido e Portugal estarem já a trabalhar arduamente para concretizar este objetivo. Em dezembro, Portugal contribuiu com 52 milhões de euros para a compra de drones, para o Fundo Internacional para a Ucrânia, gerido pelo Reino Unido.
Até à data, este Fundo reuniu mais de 1500 milhões de euros de ajuda militar para satisfazer as necessidades da Ucrânia no campo de batalha. Posso dizer-vos com toda a confiança que está a fazer a diferença na linha da frente.
Tal como a Europa tem agora de fazer o trabalho pesado para apoiar a paz no nosso continente, este esforço tem de ter o apoio dos Estados Unidos para assegurar uma paz forte, justa e duradoura que garanta a futura soberania e segurança da Ucrânia. Estamos a trabalhar com os Estados Unidos nesta matéria, após o encontro do primeiro-ministro com o Presidente Trump na semana passada.
Portugal e o Reino Unido têm uma longa história de apoio mútuo em momentos de perigo real. Mais uma vez, temos de estar à altura desta tarefa histórica e trabalhar em conjunto para a segurança do nosso continente.