Os ataques de escorpiões estão a alastrar no Brasil. Investigadores alertam que os escorpiões estão a “tomar conta” das cidades brasileiras e que, em menos de uma década, os casos de picadas aumentaram 250%.

As conclusões são de um estudo publicado na revista científica Frontiers in Public Health. Dados provisórios relativos ao último ano, citados pelo jornal The Guardian, indicam que houve cerca de 200 mil casos de picadas de escorpião, que causaram a morte de 133 pessoas, no Brasil.

A tendência tem vindo a intensificar-se na última década. Só entre 2014 e 2013, foram registadas mais de 1,1 milhões de picadas. E a escala do problema pode ser ainda maior, uma vez que nem todos os casos são reportados.

Os cientistas afirmam que entre as razões para o aumento do número de casos estão as alterações climáticas e a rápida urbanização, feita sem planeamento – nomeadamente nas favelas.

Como as favelas ajudam à propagação dos escorpiões

"A urbanização no Brasil está a mudar profundamente os ecossistemas”, aponta Manuela Berto Pucca, investigadora da Universidade Estadual Paulista.

As favelas são locais que, referem os cientistas, se caracterizam por terem habitações sobrelotadas e deficiente recolha de lixo – o que cria novos ambientes propícios ao aparecimento de escorpiões.

Estes animais gostam particularmente dos esgotos, local onde o ambiente é quente durante todo o ano, onde quase não encontram predadores e que lhes fornece bastante alimento, sobretudo baratas.

“De forma não intencional, as cidades estão a oferecer aos escorpiões tudo o que eles precisam: abrigo (em muros, esgotos, entulho e resíduos de construção) , calor constante e uma fonte de alimentação fiável sob a forma de baratas e outros insetos urbanos , afirma Manuela Berto Pucca .

O contributo das alterações climáticas

Em relação às alterações climáticas, são também facilitadoras do aparecimento de escorpiões, uma vez que têm tornado os verões mais quentes e aumentado os períodos de chuva intensa – e estes animais adaptam-se bem ao calor e a ambientes húmidos.

Também não ajuda que algumas espécies de escorpião consigam sobreviver durante mais de 400 dias sem se alimentarem e reproduzirem-se sem acasalamento, tornando muito difícil erradicá-las.

Os investigadores estimam o surgimento de mais 2 milhões de casos de picadas em humanos, só nos próximos oito anos. “Os números mostram-nos que, no futuro, o problema vai ser ainda maior”, afirma Pucca.

O que fazer para prevenir e em caso de picada

Os cientistas defendem que a chave contra as picadas de escorpião está na prevenção. Manter as áreas limpas, vedar as fendas nas paredes, utilizar tampas nos esgotos e verificar sempre os sapatos, toalhas e roupas antes de os utilizar”, aconselha a investigadora Manuela Berto Pucca.

“Se for picado, não espere que os sintomas se agravem. Dirija-se de imediato ao posto de saúde mais próximo”, recomenda Eliane Candiani Arantes, investigadora da Universidade de São Paulo e outra das autoras do estudo.

As crianças e os idosos são os mais vulneráveis às picadas de escorpião.Uma pequena picada pode matar uma criança”, alerta Eliane Candiani Arantes.

Para quem sobrevive a uma picada de escorpião, os sintomas – como dor, queimaduras, inchaço, vermelhidão, formigueiros e náuseas - podem permanecer durante vários dias.

Apesar do crescimento exponencial no Brasil, o problema não é exclusivo do país, estando a verificar-se um alarmante aumento dos casos de picadas de escorpião também no Paraguai, na Bolívia, no México, na Guiana e na Venezuela.

Quanto à Europa, acredita-se que existirão à volta de 35 espécies nativas de escorpião, mas não há estudos concretos sobre as tendências recentes das mesmas.