Em Paris, coube a Jordan Chiles o momento fotográfico (e publicitário) da praxe. Enquanto medalhista de bronze, foi-lhe entregue um telemóvel da marca que patrocinava os Jogos Olímpicos para ela, de braço esticado, tirar uma selfie enquanto Simone Biles luzia a sua prata e Rebeca Andrade empunhava o ouro por trás da americana, todas sorridentes, cada uma com o seu penduricalho ao pescoço. Seguir-se-iam mais fotos, inúmeros abraços, sorrisos multiplicados e uma vénia prestada pelas americanas à brasileira, em pleno pódio, precisamente ideia de Chiles. Foi uma apoteose que contribuiu ainda mais para o anti-clímax.
Já com festa e êxtase feitos, a Federação Internacional de Ginástica acatou uma decisão do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), que deu razão ao protesto formal de Ana Bărbosu que trocou as voltas ao medalheiro da final da prova de solo da ginástica artística dos últimos Jogos Olímpicos: a romena era quem estava em 3.º quando todas as atletas tinham competido, chegou a celebrar o feito, mas, na arena, os EUA apresentaram uma queixa que os juízes da prova validaram, revendo a nota atribuída ao exercício de Jordan Chiles. O bronze passou para a americana, a tristeza ficou com a romena durante os Jogos, os papéis depois inverter-se-iam de novo.
Desde meio de agosto que Jordan Chiles tenta reaver a medalha olímpica que mais saltitou de mão em mão. A norte-americana, de 23 anos, teve um primeiro recurso ser devolvido sem sucesso e agora recorreu ao Supremo Tribunal Federal da Suíça, onde o TAD está sediado, para tentar reverter a decisão e contrariar a prova na qual se baseou a queixa da ginasta romena que por enquanto detém o bronze olímpico.
A defesa de Ana Bărbosu alegou que Cecile Landi, a treinadora da equipa dos EUA, se dirigiu à mesa dos juízes da prova e apresentou o pedido para revisão da nota quatro segundos após o tempo limite (um minuto) que está estipulado para que tal possa ser feito. O TAD deu razão a esta queixa. Mas, noticiam o “The Athletic” ou a “CNN”, a segunda tentativa dos advogados da ginasta norte-americana tem como base uma prova que desconheciam quando apresentaram o primeiro recurso - vinda das pessoas que andaram a perseguir Simone Biles em Paris.
A multititulada campeã, dona de 11 medalhas olímpicas e 30 conquistadas em Mundiais, teve uma equipa da Netflix a acompanhá-la nos Jogos para gravarem imagens e entrevistas destinadas à série que Biles tem produtora. Quando os advogados de Chiles viram o conteúdo (ainda não é público), terão chegado à conclusão de que a queixa da ginasta romena virá de um “erro factual” na contagem do tempo. “As filmagens gravadas pela equipa do documentário durante a final claramente provam que o protesto foi feito dentro do tempo”, alegam. O esforço está coordenado com Federação de Ginástica dos EUA, que em comunicado reforçou a ideia: “As filmagens provam definitivamente que a queixa foi apresentada bem dentro do período limite.”
A salvação de Jordan Chiles para resgatar a segunda medalha que conquistou em Paris - também venceu o ouro na prova por equipas - assenta também em que o Supremo Tribunal Federal da Suíça aceite reabrir o processo no TAD, para que seja revisto tendo em conta as filmagens da Netflix. “Pedimos simplesmente que o caso seja decidido com base na compreensão verdadeira e certeira dos factos. Este caso, como a Jordan já disse, é sobre paz e justiça”, argumentou a federação norte-americana.