
Precisavam ambos de “esfriar um pouco”. Em janeiro, acabado de desistir na meia-final do Open da Austrália, obrigado a tal por uma rutura muscular na perna esquerda, Novak Djokovic ainda estava quente em demasia na sala de imprensa em Melbourne, “acabado de sair do court”, portanto incapaz de responder à pergunta se o teste à improvável parceria feita na ressaca dos Jogos Olímpicos era para continuar. “Estamos ambos desapontados com o que aconteceu. Vou ter uma conversa com ele, agradecer-lhe e dar-lhe o meu feedback, claro que é positivo”, soltou o sérvio, deixando a dúvida a marinar.
Houve tempo de sobra para o homem com mais Grand Slams conquistados matutar. A incerteza perdurou quase dois meses, até confirmar, esta segunda-feira, o reatar da parceira que já revelara em fevereiro sem detalhar quando seria retomada. “Expressei o meu desejo de manter a parceria e estou muito contente que ele tenha aceitado”, revelou apenas Djokovic, no Catar, onde perdeu na primeira ronda do torneio ATP 500 local contra Matteo Berretini, ainda enferrujado da falta de atividade desde a mazela na Austrália.
Entretanto nada mais disse, mas, esta segunda-feira, vários meios como a “BBC” e a agência britânica “PA Media” noticiaram que Andy Murray retomará o trabalho com Novak Djokovic já a partir desta semana, no deserto da Califórnia. Apesar de no passado recente ter sugerido que a idade e as respetivas repercussões no seu corpo o levariam a competir em menos provas, o sérvio irá jogar no Masters 1000 de Indian Wells onde desde 2020 mal apareceu: nesse ano não se realizou devido à pandemia, em 2021 o tenista optou por não participar e, no par de edições seguintes, era-lhe impossível entrar nos EUA por não estar vacinado contra a covid-19. Só regressou em 2024, para inesperadamente perder na terceira ronda contra o italiano Luca Nardi.
Aplicou quase o mesmo ao Masters de Miami, o torneio com que anda de braço dado no calendário ATP por se iniciar mal o de Indian Wells termina - são conhecidos como o Sunshine Double. O sérvio escolheu não jogar a prova situada na Flórida o ano passado, mas, havendo permissão do físico, planeia estar em ambos este mês. Ajudado já por Andy Murray, o campeão de três Grand Slams, velho rival com quem partilhou 36 encontros nos bons velhos tempos, ambos terão de congeminar forma de o sérvio adaptar o seu chassis aos novos courts de Indian Wells.
Na véspera de arrancar o qualifying, a organização do torneio anunciou a mudança de fornecedor dos seus campos de piso rápido, trocando a Plexipave, parceiro dos últimos 25 anos, pela Laykold, a mesma empresa que fabrica as superfícies que existem no US Open e no Masters de Miami, onde tradicionalmente um jogo de ténis é bastante mais rápido do que um que seja realizado em Indian Wells. Por vários motivos, não exclusivos ao court.
Localizado no deserto do estado da Califórnia, o clima, por hábito, quente e seco confere menos atrito a cada viagem da bola, mas os campos da Plexipave, mais rugosos, criavam condições para o ressalto da esférica amarela no chão a fazer levantar mais. Tal beneficiava jogadores, por exemplo, mais adeptos de injetar top spin às suas pancadas, porque as rotações impostas à bola tinham maior aderência ao tocarem no campo. Há mais de duas décadas que Indian Wells era o Masters mais lento entre os de piso rápido, o que agradava a uns e desgostava a outros.
O desbocado Daniil Medvedev deixou claro a sua desavença com o piso há dois anos. “Este maldito court é uma desgraça para o ténis. Devíamos ser banidos de jogar aqui. É uma vergonha chamar a isto um piso rápido”, queixou-se o excêntrico russo, arquétipo de tenista que sai beneficiado por campos que permitam um jogo mais veloz: Medvedev é muito alto e adepto de pancadas fortes da linha de fundo. O contrário, por exemplo, de Rafael Nadal e da sua pancada tão rotativa, cheia de spin, a ‘pedir’ uma superfície mais permeável a captar essas rotações - e o espanhol venceu três edições em Indian Wells e jamais triunfou em Miami.
Até o quadro principal do torneio arrancar, esta quarta-feira, e os jogadores experimentarem os maiores campos, as suspeições não serão confirmadas, mas o novo fornecedor de piso tem historicamente optado por superfícies rápidas. À morfologia do ténis de Novak Djokovic até convém ter condições velozes de jogo, mesmo que cada vez mais testem a resistência das suas articulações com 37 anos. A história, porém, também vai estar em campo: caso vença em Indian Wells e em Miami (começa a 19 de março), ultrapassará Roger Federer e Andre Agassi. Com cinco e seis títulos, o suíço e o norte-americanos estão empatados com o sérvio na lista dos mais titulados nesses torneios.