
Os Parisienses perderam a sua grande estrela e melhor marcador da história do clube, Kylian Mbappé, para o Real Madrid a custo zero, nesta última janela de transferências. O mundo do futebol parou, por completo, e as esperanças de alcançar a Liga dos Campeões pareciam estar a desvanecer. Todos nós achámos que o Paris ia ficar pior e não poderíamos estar mais enganados.
O Paris Saint Germain tem sido nestas últimas décadas, um clube de estrelas, onde a individualidade se sobrepõe ao coletivo. Jogadores como Neymar, Mbappé, Messi, Cavani e Ibrahimovic, mostram qual a imagem de marca do clube de Paris.
Desde a sua compra em 2011 que o seu CEO, Nasser Al Khaleifi, tem vindo a apostar em contratar os maiores nomes do futebol, seja para atrair mais investimento na marca do clube ou como fórmula de sucesso nos campeonatos. Não podemos negar que essa fórmula no campeonato francês tem resultado e com excelência, mas no seu real objetivo, que é a Liga dos Campeões…não tanto.
O início de Luis Enrique
No dia 5 de Julho de 2023, Nasser Al Khaleifi fez uma aposta num treinador espanhol que revolucionaria o seu clube. O Rei das Remontadas, Luís Enrique, que conseguiu manter esse título este ano, com remontadas frente ao Manchester City e Liverpool. Enrique chegou a Paris com um único objetivo, trazer finalmente a “Orelhuda” para o Parque dos Príncipes.
O primeiro ano para Luís Enrique foi um pouco complicado, apesar do PSG ter ganho a Liga Francesa, mas isso já é praticamente dado adquirido quando começa uma época na Ligue 1.
Os “Les Rouge-et-Bleu”, voaram na liga e foram campeões com uma diferença de nove pontos, com maior parte dos seus pontos a serem feitos nas deslocações fora. Já na Liga dos Campeões, começaram com um início atribulado naquele que seria o grupo da morte, mas conseguiram chegar até às meias-finais da competição e só não chegaram à final porque faltou uma pinga de sorte.

Com estes resultados, Luís Enrique poderia dar-se como satisfeito, pois nem todos os treinadores conseguem o luxo de serem campeões na primeira época. Mas para o ex-Barcelona, os resultados não eram suficientes face ao fraco futebol que se jogava.
O Paris mantinha o seu sistema habitual de 4-3-3, mas jogava sem a fluidez que nos tem habituado nesta última época. Para Enrique existia um claro culpado, Kylian Mbappé, o próprio disse-o numa conferência de imprensa em Fevereiro:
“Fui muito corajoso na época passada, quando vos disse que teríamos um melhor ataque e uma melhor defesa. Todos queriam o Kylian, mas a equipa está a responder a um nível espetacular. Eu queria que mais jogadores marcassem golos.”
Enrique, bem disse que queria mais jogadores a marcar, mas na sua primeira época no clube, tinha uma equipa pregada às suas posições, que apenas esperava pelos movimentos de Mbappé, nas costas da defesa e rezava para que o francês fizesse o golo. Mbappé marcou 54% dos 81 golos do clube na época passada e contribuiu para 66% dos golos.
A máquina bem oleada
Apenas na sua segunda época, Luís Enrique conseguiu transformar um futebol estagnante, num dos mais atrativos do mundo. Nesta época o Paris Saint Germain é a melhor equipa a praticar futebol e fá-lo sem qualquer tipo de grandes estrelas, apenas através de um futebol fluído e através da coesão e união da equipa. Honestamente, não vejo outra equipa a ganhar a Liga dos Campeões
O PSG volta a apresentar-se da mesma maneira da época passada. Numa saída de bola em 4-3-3, quando se dá o pontapé de baliza. No entanto, apesar de no papel termos um 4-3-3 convencional, esta equipa do PSG apresenta-se ofensivamente num 3-2-5, habitualmente subindo o seu lateral direito, Hakimi, metendo Kvaratskhelia numa posição mais interior.
No lado esquerdo, observamos a descida de Nuno Mendes para uma posição de terceiro central, com Barcola a abrir bem na ala e Fabian Ruiz a subir para a zona de avançado interior. Apesar de Dembelé aparecer muitas vezes nas alas, a sua posição é de falso nove, demonstrando o quão fluído pode ser este sistema de Luís Enrique:


O objetivo deste 3-2-5 de Enrique é a completa imprevisibilidade que proporciona, a equipa torna-se tão fluída com tantas trocas posicionais, que por vezes nem nós espectadores conseguimos perceber onde está quem. A forma habitual é a que já demonstrei, mas por vezes Nuno Mendes sobe para a zona mais subida na lateral tal como Hakimi e depois é Vitinha que vem jogar atrás na linha de três centrais.
É esta imprevisibilidade que fascina e Enrique definiu não só a surpresa como mote, mas também a lateralidade. A aposta nas laterais e no virar rápido do jogo, o mais rápido possível, são o que torna este PSG tão letal. Os parisienses, muitas vezes criam uma forma em losango na ala com bola para promover essa lateralidade e a saída fácil das zonas de pressão para o lado contrário.
A forma é feita da seguinte maneira: imaginemos que a bola está do lado esquerdo, o que acontece é que o lateral esquerdo, neste caso Nuno Mendes, sobe com a bola no terreno para a zona do meio-campo.
De seguida Vitinha, sendo um dos dois médios que está recuado, coloca-se na diagonal de Nuno Mendes pelo meio. Barcola abre bem na ala para proporcionar mais uma linha de passe na ala e assim constituí a triangulação. Por fim, Fabian Ruiz sobe no terreno e faz a posição de avançado interior, completando assim o losango.
Não entenderam? Então meto umas ilustrações para explicar:

Mas não é só no processo ofensivo que a equipa de Luís Enrique brilha. No processo defensivo o PSG soube desenvolver uma pressão alta em que todas as peças têm de ser solidárias e estar unidas.
Defensivamente, organizam-se por norma num 4-3-3, mas claro que isso varia dependendo da formação, pois a premissa é fazer uma pressão alta, homem a homem, em marcação cerrada. Nos exemplos que vou demonstrar, a referência são equipas que saem com três centrais.
O objetivo passa pela pressão alta dos avançados, com Dembelé a fazer uma pressão direta no portador da bola e com os avançados interiores, Barcola e Kvaratskhelia a fazer uma pressão em “L” nos outros dois defesas a dar linha de passe ao portador da bola, condicionando assim o adversário a jogar por dentro.


De seguida, os dois médios centros mais avançados, Fabian Ruiz e João Neves, caem em cima rapidamente dos dois médios adversários, que estão a dar a linha de passe interior. Os restantes jogadores depois encaixam homem a homem.
As Peças Chave
A grande peça chave deste Paris Saint-Germain é claramente o obreiro desta reestruturação, Luís Enrique. No entanto, um bom treinador não é bom treinador sem boas respostas dos seus jogadores, tal como um grande jogador não é um grande jogador sem um grande treinador. Por isso tenho de destacar três jogadores fundamentais desta equipa.
Ousmane Dembelé

O francês tem estado verdadeiramente endiabrado, desde a chegada de Luís Enrique. Dembelé está a ter a melhor época da carreira e já soma 28 golos esta temporada. O jogador que era chamado de “flop” quando estava no Barcelona tem se mostrado uma peça vital na equipa de Luís Enrique.
Gianluigi Donnarumma

O guarda-redes italiano, esteve sempre à altura do desafio e tem vindo a mostrar o seu valor desde que se estreou pelo AC Milan com apenas 16 anos. O campeão europeu é um dos melhores do mundo e com desempenhos fantásticos tanto no jogo como nas grandes penalidades. É uma figura preponderante na possível conquista da Liga dos Campeões.
Vitinha

Por fim, Vítor Ferreira, mais conhecido por Vitinha. O médio português é para muitos o melhor do mundo, na sua posição, e confesso que para mim também. Como Thierry Henry disse, Vitinha joga um futebol diferente e de facto joga.
O ex-FC Porto controla por completo o tempo do jogo e é o grande maestro do Parque dos Príncipes.