A época é uma infante, ainda há pouco começou, mas a história do ano provavelmente permanecerá em Santos, plantada à beira do oceano. Com mais quilos no corpo, incontáveis tatuagens na pele e sem o penteado moicano que tinha, o filho da terra regressou ao clube de Edson Arantes do Nascimento, o endeusado Pelé que acolheu, no dealbar da década anterior, o ‘filho’ Neymar. A herança do génio de um nome só foi passada a outro e quando o melhor futebolista do Santos desde o Rei, envolto na bruma das lesões, voltou ao clube, a recebê-lo esteve Pedro Caixinha.

Quando o português disse “temos muito claro onde ele vai jogar”, janeiro dava as suas últimas respirações. “Estamos muito satisfeitos de receber um jogador como Neymar, vai dar dinâmicas diferentes para a nossa equipa”, augurou o treinador, então ainda a palmilhar terreno competitivo no cargo: tinha cinco jogos feitos, todos no Paulistão, com três derrotas, um empate e apenas uma vitória. O percurso era assim-assim, mas vinha aí boa-nova do filho pródigo retornar a casa.

O contágio da alegria do moleque, com as suas fintas e baldrocas no campo, empurrou o Santos até às meias-finais do estadual, onde perdeu contra o Corinthians, por 2-1. Para uma equipa acabada de subir à Série A do Brasileirão, a sarar as feridas de ter feito uma época na segunda divisão e a fazer pela vida num dos mais adversos estaduais do Brasil - também com Palmeiras e São Paulo -, não se poderia cobrar muito mais. A paciência com o treinador português, contudo, foi menor quando o campeonato arrancou.

Pouco mais de dois meses passados, o clube despediu Pedro Caixinha esta segunda-feira ao fim de 16 jogos, pontuados só por meia dúzia de vitórias. Os últimos três terão sido fatais no magro vagar do futebol brasileiro para dar tempo aos técnicos: derrota com o Vasco da Gama (2-1), empate com o Bahia (2-2) e outra derrota na visita ao Fluminense (1-0). Nem a entrada do periclitante Neymar ao intervalo, recuperado de mais uma lesão, evitou o desfecho.

Com o despedimento do Santos, onde também coincidiu com Tiquinho Soares, Gabriel Veron ou Benjamín Rolheiser, nomes conhecidos do futebol português, o treinador acumula a segunda saída de um clube brasileiro em menos de meio ano. Em outubro, o adeus foi ao Red Bull Bragantino, onde esteve nas duas temporadas anteriores depois de uma aventura no Talleres, da Argentina, em 2022. Há treze anos que o técnico está longe de Portugal, tendo entretanto ido ao Santos Laguna e Cruz Azul, do México, ao Al-Gharafa do Catar, ao Glasgow Rangers da Escócia e ao Al-Shabab da Arábia Saudita.