Adriano Leite Ribeiro, conhecido no mundo do futebol por 'Adriano imperador', foi um dos melhores e mais promissores avançados brasileiros na sua época, concretamente na primeira década do século XXI, mas não conseguiu permanecer no auge durante muito tempo. Viveu anos de ouro com a camisola dos italianos do Inter, clube onde conseguiu demonstrar verdadeiramente a sua relação intíma com as balizas adversárias, por culpa de um pé esquerdo temível e de uma complexão física invejável, mas a verdade é que a trajetória descendente começou mais cedo do que muitos imaginariam. É certo que o ex-internacional brasileiro já abordou, em tempos, alguns fantasmas do passado, mas agora decidiu abrir o coração numa autobiografia, intitulada 'Meu Maior Medo', na qual está refletida a dependência do álcool e a depressão que enfrentou.
"Eu chegava a casa e encontrava sempre uma desculpa para beber. Ou porque os meus amigos estavam lá ou porque não queria ficar em silêncio com pensamentos maus... ou apenas para conseguir dormir. Eu desmaiava em qualquer lugar, nem dava para sonhar. Muitas pessoas usam o futebol como uma fuga. Eu precisava de uma fuga do futebol. Essa fuga era a minha família. O meu pai. Quando olhava à volta, ele não estava lá. Uma coisa levou a outra, e o álcool tornou-se no meu companheiro. Eu chegava atrasado aos treinos. O clube tentou proteger-me da imprensa. Era multado no salário e não me importava. Ganhava muito dinheiro. A primeira multa dói. A segunda? Ficava irritado. À terceira eu já nem ligava", conta Adriano, abordando depois a conversa que teve com Massimo Moratti, então presidente dos nerazzurri.
"'Adri, primeiro que tudo quero dizer-te uma coisa. O que está a acontecer contigo não é motivo para te deixar envergonhado. Aconteceu e está acontecer com muitas pessoas'. Moratti falou comigo com a sua maneira calma e elegante. 'Quero dar-te uma sugestão. Gostaríamos de te enviar para um lugar muito especial,' continuou. Eu olhei para minha mãe. Os olhos dela arregalaram-se... agarrou a minha mão. 'O Dr. Combi vai explicar todos os detalhes para entenderes. Ele vai contar-te sobre este lugar na Suíça. É uma clínica com discrição'... Eu não estava a perceber nada daquela," admite o ex-internacional brasileiro, atualmente com 42 anos, complementando.
"Eles queriam internar-me. Disseram-me que eu deveria passar um tempo numa clínica de reabilitação na Suíça. Estava deprimido e não tinha noção da realidade. Não entendia o que eles estavam a querer dizer. Que raio de ideia era essa? 'Eu não sou louco, presidente. Com todo o respeito. Porque quer enviar-me para um manicómio?' eu disse. Comecei a ficar agitado na reunião. Aquela ideia era absurda. Já viu um jogador internado numa clínica de reabilitação? Que me***", conta Adriano, que passou por diversos clubes brasileiros e italianos.
À boleia do lançamento da biografia, Adriano visitou a comunidade da Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde foi criado. Entrevistado pelo "The Players Tribune", o antigo craque canarinho voltou a abordar o estado em que a sua vida se transformou. "Bebo a cada dois dias... e nos outros também. Como é que uma pessoa como eu chega ao ponto de beber quase todos os dias? Não gosto de me explicar aos outros, mas não é fácil ser uma promessa falhada. E na minha idade, é ainda pior", diz, contando depois um caso específico, nomeadamente sobre o primeiro Natal que passou sozinho em Milão. "Fiquei arrasado. Bebi uma garrafa de vodca. Não estou a exagerar, bebi aquela me*** toda sozinho. Chorei a noite toda. Desmaiei no sofá porque bebi demasiado", prossegue.
Como referido anteriormente, foi no Inter onde acabou por colher mais protagonismo, tendo apontado 74 golos em 177 jogos. Na seleção brasileira também mostrou todo o seu potencial, com 27 golos em 48 jogos. Muitos acreditavam que o avançado brasileiro seria o melhor da sua geração, mas o lado sombrio extra-futebol acabou por arredá-lo dos grandes palcos quando não era suposto, tendo pendurado as chuteiras nos norte-americanos do Miami United, em 2016.