
A cultura portuguesa, ao longo da sua história, já nos presenteou com muitos ensinamentos espalhados pelas mais variadas áreas artísticas. Da prosa à poesia, da música ao próprio desporto, já muito se pregou por este país fora. Os Rádio Macau, por exemplo, brindaram a história da música portuguesa em 1989 com uma canção que leva o nome deste exato texto, inspirado nela mesma – Amanhã é sempre longe demais.
Uma pequena frase que exprime todo um sentimento puro sobre a maneira de viver o presente. Presente esse que, este sábado, não foi vivido da forma como era suposto, pelo menos pelos que se encontravam dentro das quatro linhas do Estádio da Luz. Nem Benfica, nem Sporting, viveram o jogo da maneira que se esperava, exceto aqueles que nele não podiam participar.
Este encontro, que se perspetivava como o jogo do título, ou o dérbi do século até, vai passar despercebido na história do mais belo duelo da cidade de Lisboa. E não há nenhuma razão aparente que desculpe esse facto.
Isto porque os adeptos que se deslocaram ao local e que enfervereceram por completo o estádio, não fizeram por isso. Aqueles que lá de fora apoiavam por não terem meios ou formas de entrar, não fizeram por isso. Os que vibraram pela televisão e pelo rádio, porque não puderam até lá viajar, certamente não fizeram por isso.

Todos estes milhões que ansiavam com tudo este jogo e que pararam o país àquela hora, não fizeram por merecer um espetáculo pobre como aquele que se assistiu. É indesculpável para qualquer um dos lados, e por diversas razões.
Na antevisão à partida, Bruno Lage falava numa ótima oportunidade para promover o futebol português. Uma verdade absoluta. Haverá melhor maneira de discutir o título de campeão com um dérbi entre os dois maiores rivais? Provavelmente não.
O único problema é que tanto uma equipa como a outra não pareceram querer festejar no final do encontro, nem mostraram um futebol suficientemente convincente para tal. O futebol português, por isso, ficou a perder mais uma vez.
A jogar em casa, e extremamente beneficiada por esse mesmo fator que se fez sentir, a equipa do Benfica entrou da pior maneira possível. Depois de uma das maiores avalanches humanas alguma vez registadas na receção à equipa no Estádio da Luz, quer dentro, quer fora, os jogadores deixaram escapar esse ímpeto dado pelos adeptos em poucos minutos.
Quando se esperava ser o Benfica a entrar em força, uma falha enorme dos encarnados viu Gyokeres fazer o que quis perante três adversários e entregar a Trincão, que fez o que sabe melhor. Um momento que comprometeu por completo o resto do encontro porque fez o Benfica correr atrás do prejuízo e, como sabemos, essa tarefa é sempre mais difícil.

Isto não quer dizer que o Benfica não tenha conseguido reerguer-se no resto dos 90 minutos, porque conseguiu efetivamente chegar à igualdade e criar outras tantas ocasiões. Ainda assim, num jogo em que para se sagrar campeão o Benfica tinha de vencer por dois ou mais golos, não se pode cometer este tipo de erros e correr atrás do resultado durante o resto da partida. São erros que podem custar campeonatos. O jogo frente ao Arouca já deveria ter servido de exemplo disso mesmo.
Já o Sporting, por outro lado, serviu-se da fortuna madrugadora e pouco fez por tentar carimbar efetivamente o título também. Como que se o empate também desse o troféu no imediato. A verdade é que, apesar de ajudar muito, não o dá ainda. O conjunto de Rui Borges, depois do golo marcado aos quatro minutos, não fez por agarrar com força o jogo que tinha ali na mão.
O Sporting não pareceu querer assumir esse mérito de estar em vantagem no marcador em plena casa adversária. É uma sensação estranha que fica e que foi espelhada na forma dos leões jogarem o resto da partida ao entregar o protagonismo ao Benfica.
Essa falta de empenho e ímpeto ofensivo, não correu da pior maneira dadas as hipóteses existentes, no entanto, o pior cenário esteve a apenas a um poste de distância. Nesse momento, a fraca postura apresentada já seria mais evidente.

Por esta altura, o Marquês de Pombal já estaria pintado com uma enchente viva e eufórica e a ansiedade sentida por muitos nestes últimos dias já teria sido substituída por um outro sentimento, fosse ele positivo ou negativo. No entanto, não se fez por isso hoje.
Assim sendo, a derradeira decisão foi adiada por mais uma semana, e, até lá, quem sabe o que pode acontecer. A narrativa será outra. Aprenda-se com a história popular portuguesa e não se deixe para amanhã o que se pode fazer hoje.