Candidatos à presidência do V. Guimarães esgrimem argumentos

As contas da SAD, concretamente o passivo que ascende a 71 milhões de euros, marcou a primeira parte do aceso debate. Luís Cirilo deu o pontapé de saída: "Quando formalizamos a candidatura, a 30 de janeiro, pedimos um conjunto de esclarecimentos à direção do Vitória porque queríamos estar na posse do máximo de informação. Parte desses pedidos não nos foram facultados. É uma questão central, a VSports. Não sabemos o ponto da situação. A VSports veio para ser um investidor e não um financiador", atirou. Na resposta, António Miguel Cardoso esclareceu: "Estiveram seis horas reunidos com o vice-presidente Rui Rodrigues e o administrador Silvério Alves, certamente não estiveram apenas a tomar café. Pelo que sei saíram de lá tranquilos e satisfeitos. Foi enviado um e-mail à Lista A a dizer que estávamos disponíveis a explicar as contas publicadas, não tivemos resposta. Entendo que é uma não questão, estiveram seis horas a ouvir todas as explicações. "Não desistimos nada, para ouvir o que ouvimos não valia a pena", explicou Luís Cirilo.
O candidato da lista A lembrou, logo depois, que António Miguel Cardoso "prometeu uma auditoria à entrada e outra à saída", uma "promessa não cumprida." "Entrámos e fizemos uma auditoria. O que sentimos é que no momento em que sairmos deve haver uma auditoria exaustiva. Se o senhor Cirilo ganhar acho bem que faça uma auditoria exaustiva. Havendo o risco de sair, porque é que iríamos onerar o clube com uma auditoria, se o senhor Cirilo, a ganhar, pode fazer outra e duvidar da nossa", retorquiu o presidente do V. Guimarães, que se recandidata a um segundo mandato.
Luís Cirilo, antigo vice-presidente do V. Guimarães, acusou depois a gestão de António Miguel Cardoso de colocar o clube e a SAD "com o maior passivo de todos os tempos". "O passivo da SAD é de 71 milhões de euros, não sabemos o passivo do clube. É um passivo extremamente preocupante, aumentou cerca de 30 milhões de euros em três anos. O ativo corrente é um terço do passivo. A SAD está em falência técnica", sustentou. Na resposta, António Miguel Cardoso, eleito pela primeira vez há três anos, deu uma resposta demorada: "Podemos ser sensacionalistas, mas temos de ser factuais. O senhor Cirilo acompanhou o mandato de Miguel Pinto Lisboa, apoiou-o e na altura não falou em passivo. Em três anos tivemos receitas de 88 milhões de euros. Em três anos, o Miguel Pinto Lisboa teve 107 milhões. Aumentamos o passivo em 15 milhões, o Miguel Pinto Lisboa em 30 milhões. Temos de ser sérios. Claro que aumentou, não estamos contentes com isso. O clube tinha o passivo que tinha, as receitas antecipadas, como é que iríamos inverter o ciclo catastrófico que o clube estava a seguir? Com menos receitas estamos a dar a volta. Este é o passivo neste momento, não estamos a contabilizar as receitas das vendas de janeiro, nem as das receitas recorde da Liga Conferência. O passivo vai diminuir seguramente mais de 10 milhões de euros. Perante o passivo que havia e as receitas que existem, nem quero imaginar onde o Vitória estaria com a gestão que o senhor Cirilo apoiava. Em três anos, recebemos 1,8 milhões de euros de receitas televisivas. Sobrevivemos com estabilidade." Luís Cirilo voltou ao tema logo a seguir: "O passivo da SAD quando António Miguel Cardoso tomou posse estava na casa dos 40 milhões de euros, agora é de 71 milhões de euros. Isso é um facto. Nunca tomei qualquer decisão na gestão do Miguel Pinto Lisboa. Está a tentar ligar-me à gestão de Miguel Pinto Lisboa, mas não tenho nada a ver com isso", esclareceu.
António Miguel Cardoso foi, mais tarde, confrontado com várias questões por parte de Luís Cirilo. O líder da lista A quis perceber o que significam os "26 milhões de euros contas a pagar, que estão no relatório revelado pela SAD." De acordo com António Miguel Cardoso esse valore prende-se com "prémios a jogadores, dívidas a clubes e a agentes". "Tem a noção de quanto devíamos a agentes? Não é com um passe de magia que eliminamos tudo. É evidente que estas dívidas existiam, já existiam, não fomos nós que as trouxemos", vincou António Miguel Cardoso.
A polémica em torno do financiamento garantido pela SAD junto do grupo MSD, que está na estrutura acionista do Casa Pia, marcou a segunda parte do debate. "É uma sociedade que empresta dinheiro ao Vitória, a uma taxa de juro de 11 por cento. Simultaneamente, a MSD é acionista do Casa Pia. O Casa Pia vendeu agora o Beni ao Vitória por 3 milhões de euros. Era uma situação a evitar, acho estranha, não vou dizer que há conflito de interesses. Por valores inferiores vendemos jogadores como o Ricardo Mangas." Este foi um dos temas que teve uma resposta mais inflamada por parte de António Miguel Cardoso: "Dizem que há um plano final para a MSD ficar com o Vitória. Gostava que concretizassem o que dizem. Não sei se sabe a lei, um proprietário não pode ter dois clubes na Liga. É surreal o que ouvi. Fizemos um empréstimo com a VSports, que passou o empréstimo à MSD. A taxa é alta, foi uma situação urgente. Temos tido uma política de contratação assertiva. Já seguíamos o Beni há muito tempo, lançar uma suspeição sobre mim sobre essa contratação é surreal. Nunca iríamos contratar um jogador que não fosse por valor desportivo, vamos ver o que o futuro nos vai trazer." "O que quero dizer é que há um risco de que o Vitória se possa endividar com a MSD e que esse endividamento seja insustentável ao ponto dos credores tomarem conta da SAD. A sua gestão corre para esse risco. Não acha que se isso acontecesse, se desfaziam do Casa Pia para ficarem com o Vitória", acrescentou Luís Cirilo.
Procurando distanciar-se da gestão de Miguel Pinto Lisboa, que apoiou há três anos, Luís Cirilo acusou António Miguel Cardoso de ter um V. Guimarães que "vive de aparências, da aparência de uma gestão financeira de sucesso, que não existe, na aparência de grandes negócios, que não são tão bons como se diz, como da aparência de estabilidade, quando dezenas e dezenas de dirigentes e quadros intermédios se demitiram". "Defendemos um alinhamento em prol do Vitória, temos de seguir todos o mesmo caminho, se havia pessoas que queriam seguir outros caminhos, frontalmente, sem bloqueios, as coisas foram feitas.
É uma ficção exagerada, que leva a que a imagem do Vitória fique denegrida", retorquiu o presidente dos vimaranenses.
Após ter ouvido Luís Cirilo afirmar que Kaio César "foi mal vendido", que "consigo, o Vitória nunca vendeu ninguém pela cláusula de rescisão" e ainda que "não teria deixado sair sete jogadores em janeiro, afetando profundamente a estrutura da equipa", António Miguel Cardoso passou ao ataque: "O que sinto é que desde que esteve na coordenação da Comissão do Centenário, nunca falou mal do Miguel Pinto Lisboa. De mim, fala mal. Desde que saiu da Comissão do Centenário passou a haver um ataque a esta direção.
Em relação ao Kaio César, foi uma excelente contratação. Quem está no clube fala de factos, não de suposições. Respondo com verdade. Perante o estado atual do Vitória, perante as propostas que tivemos, seria impossível e inconsciente não fazer estas vendas do Kaio César, Manu e Alberto. É óbvio que os 9 milhões de euros pelo Kaio César não são líquidos, mas tínhamos de fazer as vendas. O jogador não podia ficar aqui contrariado. Por exemplo, o senhor Cirilo escreveu que o Alberto devia ir para a equipa B quando recusou ir para um clube, lá iam 12 milhões de euros à vida."
Sem muito tempo para debaterem ideias para o futuro, os dois candidatos trocaram novas acusações. Face ao rol de críticas à sua gestão, António Miguel Cardoso apontou: "O que sei é que se o senhor Cirilo ganhar, não sei se na segunda-feira a D. Albertina [n.d.r.: rececionista da Academia] lhe abre a porta, pois diz mal de toda a gente. Tenho receio de como as pessoas, jogadores, treinadores e staff possam olhar para si se ganhar as eleições. O senhor Cirilo, numa entrevista, andou a promover o treinador do Sporting. Isso é surreal". "Surreal é dizer que o dinheiro que recebeu do Rui Borges deu para pagar ao Paulo Turra e ao Daniel Sousa, dois erros seus", respondeu Luís Cirilo, que ouviu nova acusação. "Na reunião da Comissão do Centenário em que o senhor Cirilo abdicou da remuneração, e tinha o direito a receber, percebi que os restantes elementos da Comissão não sabiam que usufria de um vencimento. Isso não é bonito e define o perfil. Sei o que estou a dizer. Pergunte-lhes a todos." "Isso não define perfil nenhum. O meu contrato com o Vitória não era para ser discutido publicamente. O Vitória não gastou dinheiro comigo na Comissão do Centenário", voltou a responder Cirilo.