Iúri Leitão foi o grande destaque português dos Jogos Olímpicos de Paris depois de ter garantido a medalha de prata no omnium e de ouro em madison, juntamente com Rui Oliveira. Esta terça-feira, o campeão português contou, em entrevista à SIC, como viveu, e continua a viver, as históricas conquistas olímpicas.
A partir dos estúdios da SIC, em Matosinhos, o atleta português confessou que nunca esperou ter conquistado o que conquistou em Paris, apesar de ter chegado à capital francesa com o estatuto de campeão do mundo.
Centenas de pessoas esperavam a dupla de atletas na sua chegada a Portugal, uma receção “memorável” que ficará para sempre na sua memória, garante.
O tão desejado ouro chegou 48 horas depois ter sido vice-campeão no omnium, o que, para si, “não foi um peso”, mas sim “uma facilidade”.
“Sabia que ia estar num bom momento, mas não sabia se isso ia ser suficiente e, depois de competir na quinta-feira, no omnium, tive a oportunidade de tomar um pulso aos meus adversários. Sabia que estava num bom momento de forma em relação a eles e que podíamos fazer algum estrago no sábado”, contou.
Confessou, no entanto, que antes da grande final de madison não estava muito confiante, uma vez que sentiu “um pouco a fadiga de quinta-feira”.
Ainda assim, não deixou que isso o afetasse porque, para além de “ter uma responsabilidade com o país”, “tinha uma responsabilidade muito grande” para com o colega, Rui Oliveira.
“Eu tive duas oportunidade de competir, ele teve apenas uma. Não podia deixá-lo ficar mal, ele trabalhou tanto como eu para conseguirmos este resultado e não podíamos baixar os braços e fiz das tripas coração para conseguirmos aplicar a tática que tínhamos planeado”, revelou o atleta natural do distrito de Viana do Castelo.
Em relação ao madison, modalidade que valeu o único ouro português em Paris, Iúri Leitão explicou que, como a prova “está constantemente a mudar”, tem de “estar aberto a novos planos e a vários cenários possíveis”.
“Fizemos os últimos 10 quilómetros no nosso limite”
Revelou também que a dupla lusa estava focada no último quarto da prova - últimas 50 voltas -, apesar de ter sentido o impulso de “atacar mais cedo”:
“O Rui teve a frieza de me acalmar e dizer para esperarmos um pouco mais. E, enfim, quando sentimos que era o momento, a 40 voltas, fizemos os últimos 10 quilómetros no nosso limite, que era isso que estávamos preparados para fazer”.
Disse ainda que a 10 voltas do final da prova começou verdadeiramente a sentir que o lugar mais alto do pódio era possibilidade real.
“Eu estava confiante de que tinha ainda guardada a energia que precisava para esse sprint [final] e o Rui estava tão confiante quanto eu. Nós tínhamos a certeza que íamos conseguir vencer, não pela força que ainda nos restava, mas pela determinação que nós tínhamos”, assumiu.
A verdade é que cruzaram a meta no primeiro posto e inscreveram os seus nomes nos livros de História do desporto nacional. No momento de subia ao pódio, revelou, foram “completamente arrebatados por uma mistura de sentimentos”.
O feito inédito do ciclista português
As duas medalhas que acrescentou ao seu palmarés, em Paris, fizeram do ciclista de 26 anos o primeiro português com duas presenças no pódio numa só edição dos Jogos Olímpicos.
Sobre este outro feito, confessou que soube pela comunicação social, após a conquista da prata por Pedro Pichardo, que nenhum português havia conseguido o que conseguiu em Paris:
“Quando vi essa notícia percebi que no dia a seguir tinha a oportunidade de fazer história”
Entre as muitas reações à sua conquista que têm surgido nos últimos dias, entre as quais a de Cristiano Ronaldo e de Tadej Pogačar, destaca aquelas que chegam das “pessoas que estão sempre [presentes] quando as coisas correm mal”.
Mas irão agora os portugueses olhar com outros olhos para o ciclismo de pista? O atleta acredita que a modalidade “tem tudo para ganhar mais audiência”.
“É uma prova muito eletrizante, até enervante, é uma prova com muita adrenalina, muita velocidade. Há sempre muita coisa a acontecer, são provas muito intensas e eu acho que é isso que atrai o espetador e agarra as pessoas”, considerou.
Atletas portugueses têm "o básico do básico”
Sobre as condições do atletismo português, o ciclista aponta que os atletas lusos têm "o básico do básico” e que, mesmo assim, conseguem ter sucesso, muito por culpa das pessoas “que se desdobram no seu trabalho e conseguem compensar a falta de outras pessoas que deviam estar connosco”.
Sobre futuros possíveis apoios, acredita que podem “dar um ‘boost’ ” ao atletismo em Portugal.
Mesmo depois de um título mundial e duas medalhas olímpicas, garantiu que irá continuar a trabalhar, já partir de setembro, “para elevar a honra de Portugal” e defender as recentes conquistas.