
A 17 de novembro de 2024, saiu a sorte grande às Dallas Wings. A equipa texana da WNBA foi a vencedora da lotaria e assegurou ter prioridade máxima de escolha no Draft que só se viria a realizar cinco meses mais tarde. A confiança que a sorte depositou num dos piores conjuntos da liga norte-americana de basquetebol feminino passou despercebida, como um fait divers.
Na cidade que também é sede dos Mavericks, outra equipa de basquetebol, muito aconteceu desde aí. Luka Dončić, um dos maiores embaixadores desportivos do Texas, foi descartado para os Los Angeles Lakers por troca com Anthony Davis. A mudança indesejada pelos adeptos locais difundiu revolta e perplexidade. À porta do pavilhão organizou-se um funeral fictício. Na sua conta no X, Noah Weber, jornalista do "The Smoking Cuban", portal que acompanha os Mavs, publicou uma fotografia de um adepto que, numa camisola do esloveno, substituiu o nome por outro escrito à mão numa folha de papel e colado com fita apropriada. À Tribuna Expresso, o repórter falou das sensações que assolam a região: "A energia estava visivelmente em baixo depois da troca do Luka Dončić."
Finalistas vencidos em 2024, na utopia dos dirigentes dos Mavericks, o negócio aproximá-los-ia do título. A realidade demonstrou o contrário e nem passaram do play-in, eliminatórias a um jogo que filtram os últimos apurados para o play-off. Apesar da lesão de Kyrie Irving não ter ajudado, os acontecimentos pareciam em contraciclo com as expectativas.
Foi então que, para um incremento do ânimo nos texanos, a primeira pick do Draft da WNBA tomou proporções inicialmente pouco esperadas. As Wings selecionaram Paige Bueckers, o ícone do basquetebol universitário que todos desejavam. Acabada de vencer o título da NCAA, a ex-jogadora de UConn e um dos mais entusiasmantes talentos a ingressar na WNBA aterrou em Dallas.
A popularidade de Caitlin Clark é difícil de igualar. Sem a presença da base das Indiana Fever, as audiências do March Madness desceram (segundo o “Front Office Sports”, a Final Four registou uma quebra de 64%). A aparente menor capacidade de atração de Paige Bueckers não atropela os atributos basquetebolísticos ou não tivesse ela deixado a universidade com um título nacional, algo que Clark falhou.
A WNBA arrancou na madrugada deste sábado com uma nova fornada de prodigiosas jogadoras encabeçadas por Paige Bueckers. Há muito que se perspetivava este momento para a jogadora de 23 anos que teve um percurso marcado por lesões. Enquanto preparava a temporada 2022/23, rompeu o ligamento cruzado anterior, passando a estar incluída na lista de vítimas de um dos danos mais temidos pelos desportistas. A época foi por água abaixo.
Quando recuperou e antes de rumar à WNBA, nada deixou por fazer. Ganhou o campeonato universitário e tornou-se a melhor marcadora de UConn, a instituição mais conceituada do basquetebol feminino norte-americano, no March Madness, ao passar à frente da lendária Maya Moore. Nesse mesmo torneio, conseguiu também arrebatar a honra de ser a primeira jogadora da história da universidade a marcar 40 pontos e a mais rápida a chegar aos 2.000.
As Wings só tiveram oportunidade de a recrutar, porque, tal como os Mavericks, não foram extraordinárias na época passada. Apenas alcançaram nove triunfos em 40 jogos e falharam os play-offs num fraco aproveitamento da dupla Arike Ogunbowale/Satou Sabally. Paige Bueckers deseja mudar o cenário. “Quero que Dallas seja um lugar onde toda a gente quer jogar e quem cá está, quer ficar. Quero construir essa cultura”, expressou no dia 1 com na nova casa.
No meio das ruínas provocadas pela despedida de Luka Dončić, Dallas parece estar a renascer para o basquetebol. Culpa de Paige Bueckers, mas não só. Querendo os deuses do basquetebol corrigir os desleixos dos humanos, os Mavericks garantiram a primeira escolha do Draft da NBA. Qual a razão da aparente intervenção metafísica? A equipa treinada por Jason Kidd tinha apenas 1,8% de probabilidade de assegurar a pick mais alta, algo que nunca tinha acontecido na história do franchise. Hornets, Wizard e Jazz tinham 14% de chances de a obterem e saíram frustrados.
Foi aí que "tudo mudou", verifica Noah Weber. "Ter as duas primeiras escolhas reacendeu a vida em Dallas." Caso não cometa um erro que coloque os adeptos de novo a duvidarem da sua sanidade mental, o responsável dos Mavericks, Nico Harrison, deve selecionar um talento geracional chamado Cooper Flagg e dar início a uma nova era, algo que, para o repórter, revigorou o ambiente. "A oportunidade de draftá-lo deixou os fãs totalmente envolvidos de novo." O próprio jogador de 18 anos parece já ter assumido o destino. “Se Dallas me escolher, eles têm boas peças”, comentou na antecâmara do Draft.
Tudo isto pode não ser o mesmo que ter Luka Dončić, mas ajuda a atenuar o luto da sua partida.