A 7 de dezembro, Alberto Oliveira Baio preparava-se para ser suplente no Benfica-Vitória SC. A condição do jovem de 21 anos não era surpreendente, sendo a mais habitual na recente carreira do jogador.

Naquele dia, há pouco mais de um mês, o natural de Santo Tirso não ia ser titular no encontro da 13.ª jornada, tal com não fora opção inicial em 10 das 12 rondas anteriores. A sua carreira na I Liga limitava-se a 238 minutos de utilização no escalão maior, o equivalente a menos de três desafios completos.

Dos 25 primeiros embates da época do Vitória SC, o jovem foi titular em oito. Mas, desses oito, três foram nos cómodos triunfos em pré-eliminatórias europeias diante de Floriana e Zrinjski Mostar.

Até que o inesperado abriu uma janela de oportunidade. Bruno Gaspar lesionou-se no aquecimento e, pouco antes do apito inicial, Alberto Oliveira Baio foi lançado para o onze, entrando em campo desde o arranque num jogo da I Liga apenas pela terceira vez na vida.

Passados meros 39 dias, tudo mudou na vida do jovem: deixou de ser habitual suplente no Vitória para se tornar titular indiscutível, fazendo todos os minutos de todas as partidas desde que entrou na Luz até à eliminatória da Taça diante de O Elvas; passou de ser normalmente chamado como Alberto Baio para, a pedido do próprio, ser tratado como Alberto Costa ou apenas Alberto; passou de pouco utilizado pelo Vitória no campeonato para ser eleito o melhor defesa de dezembro da I Liga e, agora, protagonizar uma venda milionária para um colosso europeu.

A Juventus comprou Alberto ao Vitória. O negócio, feito por €15 milhões, €12,5 milhões, mais €2,5 em objetivos futuros, é a segunda maior venda da história dos minhotos, apenas superada pela ida de Tapsoba para o Bayer Leverkusen, por €20 milhões. O lateral assinou até junho de 2029.

O jogo na Luz mudou o rumo da carreira de Alberto
O jogo na Luz mudou o rumo da carreira de Alberto Gualter Fatia

Alberto, vindo ao mundo a 29 de setembro de 2003, chegou ao Vitória Sport Clube em 2013/14, era ainda uma criança. Depois de ir subindo nos escalões de formação dos vimaranenses, somando também duas internacionalizações pelos sub-18 de Portugal e outras duas pelos sub-20, estreou-se pela equipa principal na época passada.

Após fazer um minuto numa partida da Taça de Portugal contra Penafiel, em janeiro, o lateral debutou na I Liga numa casa que, durante os últimos dias, se especulou que poderia vir a ser a sua. A 21 de abril, em Alvalade, fez 15 minutos frente ao Sporting, que estava prestes a sagrar-se campeão. “Quem cresce de rei ao peito, acorda todos os dias a sonhar com este dia”, escreveu, na altura, no Instagram.

Se na época passada partilhou estas duas esporádicas aparições com 22 presenças na equipa B, nesta campanha só jogou pela formação principal. Começou lentamente, sem se fazer notar muito, com as tais titularidades nas pré-eliminatórias europeias. A primeira vez que foi titular no campeonato foi na sétima jornada, no 1-1 diante do Casa Pia.

Até que chegou o tal jogo na Luz, onde Alberto ia ser suplente pela 11.ª vez em 13 jornadas. No entanto, a oportunidade que a lesão de Bruno Gaspar deu foi o momento de viragem na vida do jovem.

No seu oitavo encontro a titular pela equipa principal do Vitória, Alberto brilhou. Evitou um golo quase certo de Kerem Aktürkoğlu com um corte no limite, protagonizou a jogada de maior perigo dos visitantes, numa combinação pela direita que terminou com um remate que passou perto do poste direito de Trubin.

No final do desafio de Lisboa, Rui Borges — que chegou a parecer ir reencontrar-se com o lateral em Alvalade — teceu rasgados elogios ao jovem: “Faltou o Gaspar, que se lesionou no aquecimento. Entrou o miúdo, que será soberbo no futuro, não tenho dúvidas. É um puto extraordinário. Fez um grande jogo, encheu o campo”.

O bom nível do lateral contra o Benfica, associado à paragem por lesão de Bruno Gaspar, tornou a titularidade no estatuto habitual do futebolista. Passadas duas semanas do confronto da Luz, Alberto já somava mais encontros de início na I Liga do que em toda a carreira antes de defrontar as águias e igualou o número de vezes que foi opção desde o primeiro minuto na fase de liga da Liga Conferência.

O novo reforço da Juventus fez todos os minutos de todos os sete jogos do Vitória SC entre aquele 7 de dezembro e 3 de janeiro, período em que realizou tantos encontros a titular como em toda a restante carreira na equipa principal do seu emblema de sempre. A despedida foi amarga, dando-se na eliminação contra O Elvas, embate em que o jovem saiu do banco aos 63'.

Alberto estreou-se na I Liga em abril, contra o Sporting. Foi o único jogo que fez no campeonato da época passada
Alberto estreou-se na I Liga em abril, contra o Sporting. Foi o único jogo que fez no campeonato da época passada Gualter Fatia

Com um golo apontado ao St. Gallen, na Liga Conferência, e um bis de assistências diante do Farense, Alberto está em destaque nalguns parâmetros estatísticos da I Liga. Recorrendo aos dados da plataforma especializada Driblab Pro, constatamos que, entre os laterais da competição, é o terceiro com maior percentagem de duelos ganhos através de cortes, com 77,8%, apenas atrás de Matheus Pereira (78,3%), do Santa Clara, e de Rodrigo Pinheiro (80%), do Famalicão.

Com um físico imponente, Alberto é o sétimo lateral com maior média de recuperações de bola por partida, com 3,38, numa tabela liderada por Bah, do Benfica, com 4,38. É o quinto com mais cruzamentos com êxito por jogo, com 1,16 de média, num parâmetro em que o melhor é João Mário, do FC Porto, com 2,49.

Um aspeto em que o reforço da Juventus se realça pela negativa é o das perdas de bola, sendo o segundo lateral que mais cede a posse ao adversário por 90 minutos, com 0,65 ações dessas por 90 minutos, apenas menos do que os 0,81 de Frimpong, do Moreirense.

Em Itália, Alberto integrará o plantel liderado por Thiago Motta e terá como companheiro um compatriota, Francisco Conceição. Poderá estrear-se na Liga dos Campeões já no dia 21, contra o Club Brugge, e a 29 de janeiro terá um embate contra o Benfica.

O colosso italiano, 36 vezes triunfador da Serie A e duas vezes campeão europeu, terá em Alberto o 10.º português da sua história. Houve alguns com passagens muitíssimos breves, como Tiago Djaló ou Félix Correia, que só vestiram a camisola da vecchia signora uma vez, ou Jorge Andrade, que apenas representou o emblema de Turim cinco vezes. O líder de presenças — e de golos — é Cristiano Ronaldo, que marcou 101 vezes em 134 jogos, havendo ainda Rui Barros, Paulo Sousa, Dimas, Tiago, João Cancelo e, claro, Francisco Conceição.

Há pouco mais de um mês, um jovem conhecido como Alberto Baio entrou, por infortúnio alheio e à última hora, no Estádio da Luz. Passados menos de 40 dias, Alberto, destaque de dezembro no futebol nacional, reforça um dos mais titulados e famosos clubes do planta, após protagonizar uma transferência milionária, para justificar o estatuto de “puto extraordinário”.