79 golos em 78 jogos pelo Grupo Desportivo Vila Nova de Foz Côa.

 Os golos são a arte de Rui Domingues em Foz Côa, local conhecido por ter o maior complexo de gravuras rupestres paleolítico ao ar livre.

«Tiro proveito do sentido de oportunidade, não há nenhum grupo. Ronaldo de Foz Côa? Embora entenda a analogia pela quantidade de golos e seja alguém que admire, não me vejo dessa forma», começa por dizer a A BOLA.

O goleador, de 26 anos, partilha o balneário com o irmão gémeo, mas não só. Os dois são, de resto, inseparáveis.

«Jogámos quase sempre nas mesmas equipas. Acho que só estivemos separados ano e meio. Sinceramente, é prático, mas também porque sentimo-nos melhor a jogar juntos. Trabalhamos juntos como técnicos de telecomunicações na zona de Foz Côa num raio de 150km, vamos juntos ao ginásio e aos treinos. Já não vivemos juntos porque o meu irmão saiu de casa dos pais», relata Diogo.

Rui Domingues lembra o «campo improvisado pelo avô com duas balizas feitas de canas». Foi um «saltinho», conforme refere, até ambos entrarem nos infantis do Grupo Desportivo de Vila Nova de Foz Côa.

«Era muito mais fácil para o meu pai levar os dois filhos ao mesmo sítio. Com o passar do tempo, tornou-se numa questão emocional, para além do entendimento que temos em campo», reforça o avançado.

Há quase duas décadas, Rui e Diogo cruzam-se com José Pedro Marra, atual treinador dos seniores do clube e que os treinou na formação.

«Foram os dois meus jogadores nos sub-12. Eles trabalham juntos, passam muito tempo só os dois numa carrinha. Mas são muito diferentes, o Rui é muito introvertido, não gosta de falar no balneário, mas é um dos capitães e lidera pelo exemplo. O Diogo é mais extrovertido e refilão», descreve, entre risos.

Embora não os confunda, José Pedro Marra, que trabalha como técnico de desporto no município de Foz Côa, considera que a cobrança que existe entre ambos é enorme.

«Conhecem-se bem, mas também discutem em campo, cobram muito um ao outro», aponta o técnico.

A descrição feita pelo treinador é corroborada por Rui Domingues. «Na maioria do tempo conseguimos fazer uma boa gestão da atividade desportiva, profissional e familiar. Irmãos, irmãos, negócios à parte, não é? Mas estaria a mentir se dissesse que a cobrança não é maior. Acaba por ser inevitável pela confiança que temos», diz.

Rui é «um matador por excelência» enquanto Diogo «é mais criativo, entende muito bem o jogo e é muito tecnicista, joga bem em qualquer posição», descreve José Pedro Marra. É esse entendimento entre ambos que lhes permite brilhar na 1.ª divisão distrital da AF Guarda.

«Conhecemo-nos muito bem, sabemos os pontos fortes um do outro. Faço muitas assistências para os golos do meu irmão. Fico feliz que ele marque. Ainda no último jogo, falhei isolado e ele acabou por marcar na recarga. Fico mais feliz que seja ele a marcar do que se for eu. Espero que seja o melhor marcador outra vez. Se me paga jantares pelas assistências? Que remédio», atira Diogo.

«É inegável, completamo-nos. O que um não tem, o outro tem a dobrar e vice-versa», concorda Rui.

Rui Domingues aproveita para relembrar as dificuldades do quotidiano de quem joga futebol por amor ao jogo.

 «É difícil porque as 8h de trabalho são exigentes fisicamente. As tarefas variam ao longo do dia e ainda tento ir ao ginásio. Três vezes por semana, temos treino que acaba às 21h30. Mais jantar, acaba por não sobrar muito tempo para descansar», sublinha.

Com golos e assistências, Rui e Diogo Domingues voltaram ao Grupo Desportivo de Vila Nova de Foz Côa após experiências no Sporting Clube de Mêda, no Campeonato de Portugal.

«O clube estava mal. No Sp. Mêda estávamos cinco ou seis de Foz Côa e decidimos voltar para ver se mudávamos o rumo do clube. Conseguimos fazê-lo», assinada Diogo.

À custa de assistências e golos, muitos golos. Foz Côa tem o ‘seu’ Cristiano Ronaldo.