Ouvido esta terça-feira na 8.ª sessão do julgamento da Operação Pretoriano, o enfermeiro Daniel Cunha relatou o ambiente que viveu na AG do FC Porto de novembro de 2023, recordando que foi intimidado diretamente. "Nesse dia nem pensei na roupa que ia vestir e levei uma camisola verde. O senhor Vítor 'Catão' veio na minha direção e disse-me: 'oh filho da p. porque é que estás vestido de verde? Veio na minha direção e só não aconteceu nada mais grave porque outro elemento dos Super Dragões chegou em meu auxílio", disse perante os juizes no tribunal São João Novo onde decorre o julgamento.

E relatou: "O auditório era muito pequeno e a assembleia passou então para o Dragão Arena. Quando cheguei fui buscar o equipamento médico e depois fui para o pavilhão. Dava para perceber a insatisfação das pessoas, que era uma vergonha. Queixavam-se que era uma confusão, comentava-se que estava muita gente fora e não conseguiam entrar. Estava de facto muita confusão e eram proferidos insultos. Pessoas nas bancadas dirigiram-se a outros sócios... Diziam para se calarem, para estarem sentados. Não consigo identificar quem se levantou, alguns tinham roupas alusivas a claques. Quem tentava falar na assembleia, outros diziam: 'cala-te, está calado, não é para falar'. Existiram confrontos físicos depois disso", recordou.

"Tratei de sócios que foram agredidos na assembleia. Em determinado momento cheguei a ter 7 pessoas à minha beira que tinham sido agredidas, penso que no total tratei umas 12 pessoas. Existiram também pessoas que caíram nas bancadas. As pessoas estavam muito ansiosas, nervosas. Assisti um casal que estava muito assustado, tinham sido agredidos e queriam sair dali rapidamente. Já tinha estado em assembleias e nunca tinha acontecido isto".

Sobre os membros da mesa da assembleia, o enfermeiro falou também em passividade. "Em momento algum tiveram algum tipo de atitude para travar o que aconteceu. Acredito que se tivessem pegado no microfone em algum momento podiam ter conseguido impedir que aquilo continuasse. A sensação que tenho é que as pessoas tentavam opinar e eram impedidas, mandadas calar", acrescenta a testemunha já em resposta a perguntas da advogada do FC Porto.