O FC Porto procede esta sexta-feira à apresentação do Relatório e Contas do FC Porto 2023/24 com a presença de José Pereira da Costa, CFO da SAD, e o presidente André Villas-Boas.
Recorde-se que o FC Porto apresenta um resultado líquido negativo de 21 milhões de euros relativo à temporada de 2023/2. A 31 de dezembro, a anterior administração, que permaneceu no cargo até 27 de maio, havia anunciado um saldo de 35 M€ no primeiro semestre.
«Nota prévia para contextualizar: estes resultados abrangem o período de 1 de julho de 2023 e 30 de junho de 2024. Esta Admnistração tomou posse de 28 de maio, este exercício corresponde a 11 meses da anterior Administração e a um mês da atual», começou por resumir Pereira da Costa, que apontou o facto de a equipa ficar fora da Liga dos Campeões provocou grande impacto.
O dirigente apontou crescimento, apesar do resultado negativo: «Mensagem positiva: crescimento de todas as linhas de receitas operacionais e em particular as receitas comerciais. Apesar do crescimento positivo, o resultado acaba por ficar próximo de zero, à semelhança do exercício anterior. Os resultados com transações de passes são insuficientes para compensar os custos financeiros bastante significativos e que se agravaram. Na conjugação destes dois efeitos, apesar de melhorar, continua ainda em território bastante negativo.»
«Nos próximos três anos vamos registar receitas de 43 milhões, mas cash vai ser zero», referiu.
Explicação das contas: «A atividade de uma SAD é constituída pela atividade mais operacional, onde se incluem as receitas principais recorrentes e operacionais da SAD, desde direitos televisivos e as receitas da UEFA, onde se incluem também os custos. No caso do FC Porto SAD tem sido um resultado operacional que nos últimos anos foram próximo de zero. A outra atividade tem que ver com a transação de passes de jogadores. Na conjugação de vendas, custos de vendas e amortizações, resultou num resultado positivo de 9 M€, ao contrário do ano anterior, que tinha sido negativo. Em todas as linhas de receitas operacionais, registámos crescimento nas três linhas. As receitas de provas da UEFA, que registaram um incremento, passaram de 61,9 M€ para 65 M€. Este incremento justificou-se por um maior valor atribuído no início da temporada, fruto da melhoria do ranking do FC Porto nas últimas 10 épocas. Isso deu um incremento na ordem dos 4 M€. Nos direitos televisivos, que está fechado até 2028, o valor é fixo por ano e registamos cerca de 43 M€.
-As receitas comerciais são o que cresce mais, na ordem dos 6,3 M€ de um ano para o outro. Resultam do merchandising, com destaque do sucesso da nossa terceira camisola do equipamento do ano passado. Na área da bilhética houve melhoria relativamente expressiva, na ordem dos 10%, sendo de notar que contribuíram as boas receitas que tivemos nos jogos com o Barcelona e com o Arsenal. O resultado operacional resulta das receitas operacionais e dos custos operacionais, sendo os custos com o pessoal, FSE e outros custos. Tivemos incrementos de receita que se situa no total de 8M€, que infelizmente acabou anulado por ser anulado pelos custos operacionais. Nestes resultados, têm algum impacto fatores que não temos todos os anos, como a multa da UEFA, a imparidade do Porto Canal, a imparidade de ativos fixos e 6 M€ em provisões, nomeadamente a um clube de futebol relativo à transferência de um jogador. Sendo estes custos de natureza não recorrente, acabam por impactar o resultado. Se não fossem estes custos, teríamos obtido um resultado positivo. Mas havia que os registar. Passando para a atividade com a transação com passes de jogadores: voltamos atrás dois anos e incluímos dois exercícios, para vermos a importância deles para a obtenção de um resultado positivo de qualquer SAD. Nos exercícios de 20/21 e 21/22 tivemos dois bons anos em termos de resultados com transações de passes, em que registamos num ano 30 M€ e noutro 40 M€. O exercício 22/23 foi um ano fraco em termos de vendas e este ano, a venda do Otávio, permitiu-nos estar no positivo na transação de passes, mas insuficiente para que o resultado líquido fosse positivo. Com a Liga dos Campeões e a estrututa de custos, precisávamos até junho de gerar na ordem de 20, 25, 30 milhões de euros com transações de passes jogadores para obtermos resultado líquido positivo. Tivemos um agravamento muito significativo de 22/23 para 23/24, passamos de cerca de 22,7 para 29,7 M€. Para este agravamento contribuíram novos financiamentos contratados com juros elevados. Destaque para o desconto da segunda tranche do atleta Otávio, que vencia a 1 de julho de 2024, que foi antecipada para o final de março e que teve um custo de pagamento de cerca de 2,2 M€. Um custo de 12% por um período de três meses. É uma operação muito onerosa. A isto juntaram-se outras muito elevadas para o que devia ser a atividade normal.»
Reavaliação realizada ao Estádio do Dragão: «O Estádio do Dragão em 2023 tinha valor contabilístico de 112 M€, no final foi efetuado uma primeira reavaliação ainda pela anterior administração que levou o valor para os 279 M€. Em termos de impactos nos capitais próprios, estes mais de 167 M€ reusltaram em impacto nos capitais próprios de 130 M€. Esta reavaliação veio a ser desafiada pela CMVM, num processo que se iniciou em março do ano passado e durou até agora, o que nos obrigou a rever. Trata-se de uma metodologia distinta que foi utilizada para avaliação do estádio. Inicialmente tinha o chamado método de rendimento em função dos fluxos de caixa gerados pelo estádio, com base no plano de negócios que existia. A CMVM questionou se essas receitas eram exclusivas do estádio ou cotribuíam outros ativos. Desconsiderou a avaliação que foi feita, utilizámos o tal método distinto, utilizando os fluxos de caixa de uma renda. Considerámos o Estádio do Dragão como um ativo imobiliário, fazendo o desconto de rendas que um clube de futebol utilizaria. Ela foi aceite pela CMVM, e descontando os fluxos resultou uma nova valorização, que agora se situa nos 213 M€. Houve redução de 66 M€ e em termos de capitais próprios tivemos uma redução de capitais próprios na ordem dos 47 M€.»
Falhada a presença na Liga dos Campeões: «O impacto da não participação na Champions significa uma perda que situa na ordem dos 40 a 45 M€. No final do ano, o facto de termos sido 'despromovidos' implicou a perda de receita na ordem dos 30 M€.»
Qualificação para o Mundial de Clubes: «Temos a qualificação para o Mundial de clubes, estimamos que o prémio venha a ser contabilizado neste exercício de 24/25. Não é certo, mas pode acontecer que a receita gerada pelo Mundial de clubes venha a ficar abaixo do que foi inicialmente estimado. Aquele valor de 50 M€ de receita potencial que se falava, vamos ficar um bom bocado aquém deste vaor. Ainda é incerto. Outro aspeto relevante: o campeonato joga-se em junho e nunca antes de abril teremos acesso a estas verbas.»
Os direitos televisivos: «Em relação aos direitos televisivos, em termos de impacto económico tem o mesmo valor por ano. Vamos registar os tais 43 M€ até 2027. Mas em termos de tesouraria a situação não é igual, uma vez que os valores estão descontados até dezembro de 2027. Portanto, nos próximos quatro anos, temos 3,5 anos descontados em termos de receitas com taxas muito elevadas, acima dos 10 %. Nos próximos três anos vamos registar receitas de 43 M€, mas cash vai ser 0. Se olharmos para o agregado, para um valor de 170 M€, vamos ter cash de 30. Vamos ter 3 anos e meio sem receitas cash de direitos televisivos.»
Acordo com a Ithaka: «Quando este novo conselho de administração chegou existia um acordo para explorar esta atividade comercial do Estádio do Dragão. Um acordo com a Ithaka em que o FC Porto cedia 30% dos direitos económicos por 65 M€ por uma ligação de 25 anos. Estas receitas comerciais têm potencial de crescimento. São o motor da atividade. Já sob este conselho de administração, depois de conseguimos renegociar e chegar a um valor potencial de 100 M€, achamos que o valor será superior aos 65 M€, sendo que o valor no closing da operação passou de 40 para 50 M€, sendo que ficou estipulada a opção de o FC Porto recomprar os 30%. Esta semana concretizámos e assinámos os contratos com a Ithaka. Já se concretizou este encaixe de 50 milhões de euros. Esta semana já temos 50 M€ na nossa conta, dos quais 15 M€ se destinam a financiar os investimentos que vamos fazer no estádio, modernizando o equipamento em várias áreas, proporcionando melhor experiência aos sócios e adeptos.»
Balanço da situação aquando da tomada de posse: «Quando esta administração tomou posse, a 28 de maio, a liquidez que tínhamos estava em níveis mínimos histórios. Acresce a esta liquidez reduzida que não existia nenhum processo de financimamento em curso para aceder a liquidez. A única operação a decorrer era o da Ithaka, que só teria impacto em outubro, como veio a ter. Para ela se concretizar tivemos de criar a Porto Stadco, as cisões demoram tempo. A operação não foi atrasada pela renegociação, porque a cisão estava a correr e deixamos que ela continuasse. De resto, não existia qualquer tipo de negociação com entidades para haver liquidez. Depois, compromissos, entre salários, impostos e outros pagamentos, era de cerca de 12 M€. Até final de junho havia o controlo da UEFA, havia mais pagamentos imperativos, porque se não fossem realizados levaria à desqualificação das provas europeias. Estes pagamentos a clubes eram de cerca de 16 M€. À data de 30 junho de 2024, o FC Porto tinha um desbalanceamento de tesouraria, em termos de passivo corrente, a 12 meses - chamaria o mais imperativo, como o clube -, temos um montante acima de 90 M€, para um valor a receber de clubes por transferências passadas de 7 M€. Em termos de balanço, os pagamentos as clubes e os recebimentos de clubes, temos um desbalanceamento de 82 M€, que entra no passivo, mas acresce na nossa dívida financeira. Temos muitos fornecedores nesta atividade e quando tomámos posse as dívidas vencidas a fornecedores correntes era na ordem dos 16 M€. Estamos a falar em tratamento de relva, limpeza, etc - felizmente tivemos um conjunto de parceiros pacientes, que continuaram a prestar os serviços, apesar de o FC Porto não ter honrado os compromissos normais.»
Medidas tomadas para assegurar liquidez: «O que foi feito para assegurar liquidez foi lançar um programa de papel comercial. Conseguimos levantar cerca de 12 M€ a 5%, um custo inferior ao do ultimo exercício. Tivemos investidores que acreditaram no FC Porto e que são amigos do FC Porto. Falamos de sócios e adeptos que nos apoiaram nesta fase difícil. Em segundo, tratámos de procurar gerar receita rapidamente. Lançámos um conjunto de iniciativas sem custos, campanha de sócios, lugares anuais, de esgotarmos a capacidade em termos de bilhética e corporate hospitality. A terceira área foi a contenção de custos, essencialmente salariais, quer ao nível da equipa principal de futebol, quer de funcionários e administradores - entre saídas e entradas do plantel, entre saídas e entradas da administração e algumas saídas de funcionários, temos um impacto anualizado de cerca de 6 M€, que nos ajudaram a equilibrar as contas.»
Receitas que entraram: «A janela de verão de transferências foi muito positiva, com receitas significativas provenientes de vendas e empréstimos. Receitas de cerca de 60 M€ fixas, com cerca de 20 M€ variáveis, algumas de fácil concretização. Isto permitiu cumprir o controlo de junho e o controlo de 30 setembro da UEFA. No ano passado a receita total de lugares anuais foi de 4,6 M€ e com a deste ano será de 6,1 M€. Está fechado. Se variar, é para subir um pouco. Só em lugares anuais, um aumento de 33%. No número de lugares anuais vendidos, passámos de 22 782 para 27 622. Tivemos o recorde de lugares anais desde 2004, o primeiro ano do Dragão. O número de sócios é muito importante, passámos de 125 739 sócios para 140 317. Isso mostra a dinamização. Sobre a receita de bilhética jogo a jogo: até 30 de setembro tivemos sete jogos, em seis tivemos lotação esgotada e não tivemos nenhum clássico neste período. Neste trimestre, para o número de jogos e tipologia, estamos a falar de um crescimento de 70%. De 2 M€ para 3,4 M€. Voltamos a ter credibildiade junto dos nosso parceiros. Na frente UEFA, permitiu-nos cumprir com sucesso os controlos de junho e setembro, começar a pagar compromissos antigos. Até 30 de setembro fizemos pagamentos no valor total de 34 M€, que na sua grande parte dizem respeito a transferências de jogadores passadas: David Carmo 5,6M€; Veron 5,3M€; Alan Varela 3,3M€; Otávio 3M€; Francisco Conceição 2,1M€; Samuel Portugal 1,5M€. São pagamentos imperativos. Se não pagarmos, não cumprimos o controlo da UEFA e com as consequências referidas. Relativamente a agentes de jogadores, não foi feito nenhum pagamento. Em termos de fornecedores, não conseguimos abater os 16 M€, mas conseguimos pagar os consumos correntes. Não aumentamos os saldos vencidos. Retomamos a normalidade e fomos pagando o que conseguimos.»
Garantir liquidez continua a preocupar: «A nossa preocupação a curto prazo continua a ser garantir liquidez. Tivemos os 50 M€ da Ithaka, que não foram por causa dos 6 M€ de receita antecipada. Esta operação vai permitir-nos reforçar os capitais próprios até ao final do ano. Estamos a trabalhar em operações com prazos de reembolso normais e que esperamos concretizar. A conversa com a banca internacional está a decorrer e esperamos ter novidades em breve. Além disso, outras atividades para gerar liquidez para sermos um clube que honra os compromissos nas mais diversas frentes.»
Trabalho para continuar a fazer: «Vamos continuar o trabalho no sentido de potenciar receitas operacionais, vamos manter o investimento na equipa principal, porque é critico continuarmos a ter presença assídua na Champions. Outra frente de gestão rigorosa no controlo de custos, que passará pela transformação digital. Depois, continuarmos a gerar resultados relevantes com o passe de transação de jogadores. Estamos satisfeitos com os resultados alcançados até à data na geração de receitas e controlo de custos.»
(atualizado às 10.50 horas)