
A seleção portuguesa de sub-21 perdeu por 2-4 frente a Inglaterra. Foi a sexta derrota nos últimos nove jogos contra uma nação que, mais que nunca, parece estar a despejar talento no mundo do futebol. Mas não é por acaso. Trata-se de um plano, assinado em 2011, que já dá frutos aos britânicos. O exemplo de planeamento em longo prazo, que não olhou a meios para criar uma base de formação que permitisse mudar. 14 anos depois, o Plano de Performance de Jogadores de Elite continua a mostrar resultados.
A Inglaterra sempre foi uma fonte para o desporto-rei. Desde a geração campeã do Mundo em 1966 à famosa Turma de '92 do Manchester United, que juntava Beckham, Gary e Phil Neville, Paul Scholes e Nicky Butt ao galês Ryan Giggs, passando por outros como Gerrard, Owen, Rooney, Lampard ou Terry, muitos foram os nomes que, no início deste século, carregaram a herança do futebol inglês. Só que, chegada a 2010, essa geração começava a dar ar de desgaste e de, mais uma vez, nada dar em títulos aos Três Leões. O Mundial 2014 veio provar isso mesmo: a equipa apanhou um grupo difícil mas, perante Costa Rica, Itália e Uruguai, ficou no último lugar.
À chegada do Campeonato do Mundo do Brasil, porém, essa noção já estava presente nos clubes ingleses, que, três anos antes, haviam votado para uma renovação da forma como se formavam jogadores no país. Tratava-se do Plano de Performance de Jogadores de Elite (EPPP, sigla em inglês).
Eis o plano de revolução: o EPPP
Investimentos de milhões levaram à atualização de várias academias, com a do Manchester City, potenciada pela chegada de Txiki Begiristain e de alguns treinadores de formação do Barcelona, à cabeça de todas as outras. Phil Foden, Jadon Sancho, Cole Palmer ou Liam Delap são apenas alguns dos nomes que, desde então, saíram do lado azul de Manchester. Man. United, Chelsea e Arsenal também seguiram este percurso e, com o aperto das regras do Fair Play financeiro e com a saída de Inglaterra da União Europeia, dificultando a contratação de jogadores estrangeiros, os jovens começaram a ganhar mais protagonismo.
As academias foram categorizadas em quatro grupos, com as de categoria 1, as melhores, a necessitarem de um orçamento anual de 3 milhões de euros e 18 pessoas a trabalhar a tempo inteiro. Cada jogador jovem que chegue às 10 partidas na Premier League depois de passar pelo processo de formação tem direito a cerca de 180 mil euros. Foi abolida a Regra dos 90 minu11 ImageA seleção de Inglaterra campeã do Mundial sub-17 de 2017 (IMAGO)Image width:100Image alignment:LeftOpens in: Same window12 tos, que ditava que um jogador tinha de viver a hora e meia da academia e foi instaurado um campeonato com sistema de divisões para poder fomentar a competição de melhores contra melhores.
Mais dinheiro, mais organização, melhor sistema. Com esta base, a formação inglesa explodiu. Segundo números do The Athletic, em 2024, o número de minutos somados jogadores sub-21 na Premier League foi de quase 90 mil em 2023/24, quando, em 2016/17, era de pouco mais de 40 mil. Nessa altura, e apesar de não se ver ainda o sucesso nos escalões seniores, já havia excelentes indicações. Desde 2014, o número de treinadores de formação a tempo inteiro passou de 250 para 800.
Foi nesse ano que a formação dos Três Leões conquistou o Euro sub-19 e os Mundiais de sub-17 e sub-20. Nesta última, jogavam Dean Henderson, agora no Crystal Palace, Tomori, que representa o Milan, Solanke, avançado do Tottenham e Ademola Lookman, que escolheu representar a Nigéria e foi considerado o Melhor Jogador Africano de 2024. Na equipa sub-19, jogava Marcus Edwards, ex-Sporting, Mason Mount, do Manchester United e campeão europeu pelo Chelsea ou Reece James, capitão dos blues. Nos sub-17, Danny Namaso, do FC Porto, e Jonathan Panzo, do Rio Ave, faziam parte da equipa, tal como Phil Foden, do Manchester City ou Jadon Sancho, do Chelsea.
Em 2023, a seleção de Inglaterra venceu o Euro sub-21 sem sofrer qualquer golo na competição. E a este facto surpreendente junta-se o facto de os melhores... não terem ido. Jude Bellingham, Phil Foden ou Sancho, por exemplo, já representavam a equipa principal dos ingleses e não se juntaram. Anthony Gordon, Cole Palmer e Emile Smith-Rowe levaram o caneco para casa pela primeira vez desde 1984 e, este ano, têm esperanças de voltar a consegui-lo. Se não der, uma coisa é certa: há de haver mais tentativas, até porque já há 10 jogadores na calha para, em 2027, voltarem a lutar pelo troféu. Isto, claro, se já não forem parte da seleção sénior nessa altura, como já é o caso de alguns destes prodígios.