Vladimir Putin celebra cada vitória de Aleksander Ovechkin como se fosse sua ou da pátria mãe e, na verdade, a cada página da história que o jogador escreve no hóquei no gelo é uma bicada na história da modalidade.

Há três dias, o atleta de 39 anos que veste a camisola dos Capitals, em Washington, acabou com uma marca de 31 anos que pertencia à lenda canadiana Wayne Gretzky, apoiante assumido de Donald Trump, ao tornar-se o melhor marcador de sempre da NHL com 895 golos.

Nesta guerra fria do hóquei no gelo, Ovechkin ganhou um lugar especial no coração dos russos, dos americanos e até dos muitos canadianos que torcem para que o russo torne Gretzky numa história. O jogador dos Capitals decidiu que vai fazer uma doação à V Foundation, para a pesquisa no combate ao cancro pediátrico, por cada golo que marcar até ao fim da sua carreira. Big 8, como é conhecido, teve direito a festa na Rússia amada e foi mostrada a sua imagem num painel gigante, em São Petersburgo, junto à estátua dos heróis da II Guerra Mundial.

Ovechkin é filho de Tatyana Ovechkina, dirigente russa do basquetebol feminino, que, enquanto jogadora, conquistou dois ouros olímpicos, seis Europeus e um Mundial com a camisola da extinta URSS, com quem nunca perdeu qualquer partida oficial!

A antiga base cedeu o palco e a genética ao filho - 1,91 metros e 100 quilos - que, aos 39 anos, bateu um recorde que ninguém imaginava fosse cair, destronando Wayne Gretzky, de origem polaca, cuja alcunha era 'O Grande'.

Plenamente justificada tendo em conta os quatro títulos da Stanley Cup e os 56 recordes que ainda detém na NHL e para muitos canadianos, segundo uma sondagem recente, a personalidade mais importante do país.

Ou era, até há pouco tempo.

Tem uma estátua junto à Crypto.com Arena, antes conhecida como Staples Center, em Los Angeles e outra em Edmonton, na cidade canadiana, que imortalizou o neto de um imigrante bielorrusso e de uma polaca, desde cedo um prodígio na modalidade, eleito oito anos seguidos o melhor jogador da Liga. Deixou de jogar em 1999 e o número que sempre usou, o 99, foi retirado de todas as equipas da NHL.

Agora, Gretzky, 64 anos, está nas bocas dos canadianos e não é pelas melhores razões.

A sua lealdade ao seu Canadá está mesmo a ser colocada em causa, devido aos laços do antigo desportista com o presidente Donald Trump, cujos comentários descarados sobre a soberania da nação vizinha deixaram o Canadá em alerta máximo.

Há várias fotografias de Gretzky a celebrar com Trump na noite da eleição e o ex-hoquista também esteve presente na tomada de posse do novo presidente americano. O silêncio de Gretzky está a perturbar os compatriotas que ainda ouviram Donald Trump sugerir ao amigo que concorra a um cargo politico para poder tornar-se governador assim que o Canadá se juntar aos Estados Unidos.

Longe vão os tempos de adoração do menino que, aos 11 anos, marcou 378 golos e 517 pontos em 85 jogos pelo Brantford Nadrofsky Steelers, que aos 13 depois de chegar aos 1000 golos foi expulso da equipa pelos pais dos seus companheiros de equipa devido à atenção que recebia e cujo casamento com a atriz americana Janet Jones, em 1988, foi transmitido em direto para o Canadá apelidado de 'Royal Weddding'.

Há um mês, a sua estátua  na Arena dos Edmonton Oilers, deitava um cheiro nauseabundo. Ninguém conseguiu apanhar o autor da partida fedorenta que besuntou a cara de Gretzky com fezes que inebriaram todo o recinto.