Enquanto mulher que acaba de assumir um cargo de relevo num clube da Primeira Liga, em certos momentos terá tido expectativas para as quais o seu perfil, em teoria, não se enquadrava. Basta ver quem desempenha funções homólogas nos restantes clubes do campeonato. Os desfechos inusitados têm que começar por ser imaginados. Além da vasta experiência em diferentes contextos, Helena Costa terá a sua dose de cumplicidade com o inesperado e se não a tem recusado ao longo do percurso, também não o parece fazer agora.
Oficializada, no primeiro dia de 2025, como a nova diretora desportiva do Estoril, salpicou o discurso de apresentação com uma palavra – “títulos” – geralmente vedada a responsáveis de clubes que não os três que se assumem como candidatos a vencer o campeonato. A menção a eventuais conquistas enrolou-se numa pergunta feita pelos canais oficiais do clube canarinho que a levou a falar sobre o legado que queria criar. “Títulos, era o que eu gostava [de deixar como legado]. Gosto de ganhar, não vou negar, mas não pode ser uma coisa do dia para a noite”, escalpelizou. “Havendo trabalho, paciência, boa coordenação e dinâmica, acho que é possível.”
Helena Costa integra o Estoril num momento em que a estrutura do clube está a sofrer alterações com a entrada de Lauren Holiday no grupo de acionistas. É o regresso ao trabalho num clube da antiga coordenadora de scouting do Watford, de onde saiu em janeiro de 2024, e do Eintracht Frankfurt. Em 2014, Helena Costa tornou-se na primeira mulher a treinar uma equipa masculina profissional, o Clermont, da segunda divisão francesa.
A “honra” de se juntar ao Estoril para “um bom desafio” começa com um jogo frente ao Estrela Amadora. A equipa da Reboleira é treinada por José Faria, técnico que, em tempos, quando orientava os sub-23 do Leixões, disse, na sala de imprensa do Estádio António Coimbra da Mota, que o “futebol tem de ser dos homens do futebol”.