Hans-Wilhelm Müller-Wohlfahrt foi médico do Bayern Munique durante mais de 40 anos, tendo chegado ao clube em 1976. Agora, aos 82 anos, recordou alguns momentos que viveu nessa longa passagem pelos bávaros, inclusivamente os conflitos que teve com alguns treinadores. O pior de todos? O que teve com Pep Guardiola, em 2015, após uma derrota (3-1) no Estádio do Dragão, frente ao FC Porto a contar para os 'quartos' da Champions. Na altura, a equipa passava por uma grande onda de lesões, sem poder contar com jogadores fulcrais como Arjen Robben, Franck Ribéry, David Alaba ou Bastian Schweinsteiger, e o treinador espanhol responsabilizou o médico pelo desaire à frente de todo o plantel.

"No tempo de Jürgen Klinsmann já tinha pensado em sair, mas o presidente Uli Hoeness não me deixou. Depois o terrível escândalo no Porto abalou-me profundamente. Esperava apoio da direção do clube, tendo em conta toda a minha história no clube. A acusação de Guardiola foi que era eu o culpado pela derrota. Isso é absurdo! Não podia aceitar e no dia seguinte demiti-me", contou Müller-Wohlfahrt, em entrevista ao jornal alemão 'Merkur'.

Na mesma conversa, o médico alemão comparou ainda o futebol atual com o dos tempos em que começou a exercer em Munique. Müller-Wohlfahrt não tem dúvidas de que os jogadores de antigamente tinham uma resistência muito maior à dor e relata uma história que envolve Sepp Maier - histórico guarda-redes do Bayern e da seleção germânico no anos 60 e 70.

"Uma vez, o Sepp Maier rompeu o ligamento lateral do tornozelo, pediu-me duas espátulas de madeira, envolvi-as com fita isoladora e continuou a jogar. O Sepp representa uma geração que reprimia muito melhor a dor, que nunca se queixava. Isso já não existe. Ainda estava no início da minha carreira e na altura devia ter tomado outras ações. Mais tarde já o fiz, mesmo quando implicava uma substituição difícil para a equipa", admite.

Müller-Wohlfahrt confessa ainda que já não reconhece no clube o espírito de comunidade que havia nos seus primeiros anos: "São tempos de mudança. Quando comecei, na década de 70, havia 16 colaboradores - agora são mais de 1.000. Hoje, o espírito 'Mia San Mia' vive-se sobretudo nas bancadas. Mas aquele sentimento que costumávamos ter quando subíamos à varanda da câmara municipal com a taça, aquele orgulho na nossa equipa, aquele enorme sentido de comunidade... já não vejo isso na equipa ou no ambiente. No entanto, a memória permanece."