Esta sexta-feira, em entrevista GloboEsporte, Jorge Jesus discorreu sobre vários temas que definiram a carreira do experiente técnico. Entre eles, como não poderia deixar de ser, surgiu o capítulo Flamengo, que foi detalhado bem ao jeito do português.

Transformação do futebol brasileiro: «A minha passagem obrigou o futebol brasileiro e o próprio treinador a olhar o jogo de outra maneira. Quando chegámos, o futebol era muito de posição, de pouca pressão. Agora não. Eles já sabem o que é fazer pressão alta. Esse foi uma das componentes do jogo que fizeram mudar o futebol brasileiro, porque a qualidade que o jogador tem continua, o talento continua todo lá, mas no futebol só o talento não ganha jogos hoje em dia. O talento com a qualidade do trabalho é o que ganha títulos e jogos.

Atualmente, as grandes equipas do Brasil procuram essa mudança, como na Europa. E, sim, sinto que deixámos um legado para que os outros treinadores portugueses, como Abel e Artur Jorge, tivessem a continuidade dessa ideia de jogo. Isso fez com que três treinadores portugueses no espaço de cinco anos ganhassem. Sinto-me como o Pedro Álvares Cabral do futebol português no Brasil. O treinador português é o melhor treinador do Mundo.»

Flamengo de JJ ou Botafogo de Artur Jorge?: «Isso nem tem conversa, não há comparação possível. Não é por ter sido o treinador do Flamengo, mas estão a comparar o Flamengo do meu tempo, que ganhou tudo o que havia para ganhar. O Botafogo não ganhou, o Botafogo ganhou a Libertadores e o Brasileirão. No meu tempo, ganhámos o Estadual, o Brasileirão, a Libertadores, a Supercopa, a Recopa... Sei lá, tudo o que havia para ganhar. O Botafogo teve mérito, estive sempre a acompanhar, fiquei feliz pelo Artur Jorge ter realizado esse feito, mas não há comparação possível. A qualidade de jogo que a minha equipa tinha e a qualidade de jogo que o Botafogo tinha não dá para comparar.»

Uma passagem bastante vitoriosa @SL Benfica

Saudades do Flamengo: «Guardo o Flamengo num lugar no meu coração por tudo o que envolveu jogadores e adeptos. Você [o jornalista] é testemunha... Às vezes, coloco os vídeos para lembrar 70 mil pessoas a gritar 'olé, olé, olé, Mister...". Isso eu não tive, e nunca terei novamente, nem no meu país. Estive no Benfica, ganhei tudo o que havia para ganhar e nunca tive um jogo, um jogo que fosse, em que os adeptos gritassem por mim! Nenhum! Então, tenho de ter saudades do Brasil. Fui bem tratado por todos, até mesmo torcedores que não são do Flamengo deram-me carinho nas ruas, nunca me ofenderam, sempre gostaram de mim... Tudo isso conta.»

Quase regresso ao Brasil: «No meu último ano de Benfica, foi por uma semana que não fui treinador do Flamengo. Marcos Braz esteve em Portugal para me levar e eu ainda era treinador do Benfica. Eu disse que naquele momento não era fácil sair, mas que as coisas não estavam muito boas e que, se pudesse esperar mais um pouco, isso ia acontecer. O facto é que saí do Benfica depois de uma semana do acerto com o Paulo Sousa. O timing às vezes não dá, às vezes não é na hora e não se conjugam os interesses.»

Pelo Mengão, Jorge Jesus participou em 58 partidas; ganhou 44 jogos e levantou quatro troféus.