Barcelona desembolsou 500 mil euros para garantir a avançada de 21 anos junto do Benfica
"Em tom de desabafo, acho que traz mais responsabilidades negativas do que positivas. Pelo menos da forma como eu lido com este número, que é extraordinariamente grande e às vezes assusta. Por mais que seja feliz, e estou muito feliz, por mais que me queira esquecer desta parte dos dinheiros e só me queira focar na felicidade, às vezes estas coisas vêm ao de cima. E o dinheiro traz responsabilidade e inseguranças. E dou um exemplo muito básico: falho um passe – e isto são coisas que têm de ser trabalhadas – mas é uma pressão acrescida. Falho e em vez de pensar que a seguir tenho outro passe, penso: bolas, pagaram isso por mim e eu agora estou a fazer isto?", explica a jogadora internacional portuguesa, em declarações à 'Forbes Portugal'.
A avançada, de 21 anos, explicou depois como foi deixar o clube do coração. "Foi a decisão mais fácil e a decisão mais difícil que já tive de tomar na minha vida. É tão simples quanto isto. O Barcelona é a melhor equipa do mundo no futebol feminino, tenho de me sentir realizada no sentido em que a melhor equipa do mundo me quer. A equipa onde jogam Alexias, Aitanas, Patris, quer-me. O meu pensamento na altura era: posso vir a treinar com as melhores jogadoras do mundo, com os melhores treinadores do mundo, posso evoluir diariamente e chegar a outro patamar. Porque a realidade também é que a Liga Espanhola e a Liga Portuguesa estão em patamares diferentes. Mas falando do Barcelona em si, está em outro patamar. Seguindo esta linha de pensamento, a decisão era fácil. Vou aprender, vou ser uma jogadora melhor, vou ser eventualmente uma pessoa melhor", explicou.
Mas não foi fácil deixar o seu clube de sempre: "Depois tinha o Benfica, que continuo a ter, mas que foi uma decisão tramada e difícil. Foi uma fase tramada porque é sair de casa, é ainda mais difícil do que sair de casa dos pais e os meus pais não levam a mal eu dizer isto. Mas é ainda mais difícil porque quando eu voltar a casa, os pais estão lá e são os mesmos, ao Benfica se um dia voltar as pessoas não serão as mesmas. Nem que seja uma, já não é o mesmo. E é deixar para trás a casa que me fez crescer, que me acolheu desde o meu primeiro dia, o sítio onde eu mais aprendi, onde eu mais sorri, mais chorei, mais amizades fiz, mais sentimentos desenvolvi. É deixar para trás o motivo pelo qual estou agora no Barcelona."
A jogadora reconhece, porém, que o nível do futebol feminino em Espanha "é outro". "Lembro-me que no primeiro treino estava ‘onde é que eu me vim meter?’. Era de um lado para o outro, bola para aqui, bola para ali. No início, a Aitana, a Alexia, as que estão na seleção, estavam nos Jogos Olímpicos, então estivemos a treinar com as mais novas. É outro mundo. Eu sinto que em duas semanas experienciei coisas que nunca vi. E não digo que no Benfica não houvesse qualidade, porque há muita qualidade, mas, mais uma vez sem comparar, é outro mundo. É jogar com as melhores, é fácil jogar com elas, pensam todas da mesma forma. Por algum motivo são as melhores do mundo. A mim dá-me gosto ver dentro de campo e dá seguramente gosto a quem vê de fora o Barcelona jogar. É surreal."