Estabilidade. A palavra que assenta na perfeição a todo o percurso de SC Braga e Santa Clara nesta Liga. Equipas com identidade bem vincada, fiéis às ideias dos seus treinadores e que chegam a esta fase com objetivos vivos (e ambiciosos...) para o sprint final de época: minhotos com mira apontada ao pódio, insulares na acesa perseguição ao 5.º lugar. Pois bem, ingredientes suficientes para este ser um dos jogos de cartaz desta ronda 32 do campeonato. As expetativas, essas, foram confirmadas antes dos dez minutos com o golo prematuro de Ricardinho (o terceiro nos últimos dois jogos...) num desenho que, por certo, fará parte do livro de estilo desta equipa de Vasco Matos: bola na profundidade de MT para Calila no corredor direito que foge nas costas de Gharbi e cruzar na perfeição para a entrada de Ricardinho que finaliza com remate colocado. Fácil, simples e eficaz.  

Estava feito o mais difícil para o Santa Clara. Porque a grande valia desta equipa, sobretudo quando se encontra em vantagem, está na sua organização defensiva. No seu consistente 5x4x1, sem a beleza de um futebol apoiado, muito vistoso, é certo, mas a equilibrar com a eficácia na transformação para o 3x4x3 na construção ofensiva, competente e astuta na exploração dos espaços nas alas. Equipa sólida, compacta, solidária, forte a cair nas zonas de pressão, sem bola, enfim, uma armadura capaz de ir para todas as batalhas sem se magoar.  

Depois, o SC Braga. Uma equipa mais jovem, ansiosa, com muito coração e mais talento do que o adversário, uma irreverência que, por vezes, a expõe ao risco e que lhe acaba por custar pontos. Muito do que se passou neste jogo assenta nesta ideia. Numa entrada mais apática dos minhotos, o golo insular e, daí para a frente, um total domínio territorial bracarense, mais ocasiões, mais posse, remates... Mas é neste cenário, de maior aperto, que os açorianos até parecem sentir-se mais confortáveis, sustendo todas as iniciativas para tentar ferir num ataque rápido. E, em boa verdade, excetuando duas boas intervenções de Gabriel Batista (a golpe de cabeça de Niakaté aos 45+1’ e Victor Gomez, 45+5’) poucas foram as ocasiões claras dos minhotos na etapa inicial.  

No reatamento, os bracarenses saíram do colete forças, fruto da inspiração (e coração...) de Ricardo Horta, que assinou o seu 138.º golo em Braga, num excelente desenho ofensivo com Vítor Gomez. O Santa Clara tremeu, é verdade, mas nunca caiu. Baixou (ainda) mais as suas linhas, procurou quebrar o ritmo de jogo em momentos de maior empolgamento do SC Braga e voltou a ter sucesso. Carlos Carvalhal mexeu na equipa para lhe dar maior fulgor no ataque, com as entradas de Roger e Patrão, mas esse maior arrojo até lhe podia ter custado caro, pois foi o Santa Clara, primeiro por Gabriel Silva (72’) a fazer brilhar Hornicek e Vínicius (90+5’) que estiveram perto de dar o golpe final. Contas feitas, um empate (mais) penalizador para os minhotos que falharam o assalto ao pódio do que para os açorianos que garantiram, para já, pelo menos a 6.ª posição na Liga.