
Depois de ouvir o arrepiante hino betico (conhecido pelos adeptos como «Balas de cañón») – que coloca até os mais insensíveis em pele de galinha -, entoado a plenos pulmões por mais de 40 mil nas bancadas do velhinho (e icónico) Benito Villamarín, é muito difícil (para não classificar como impossível) que essa energia não transpareça para dentro das quatro linhas e motive os 22 protagonistas.
Os quase dois mil adeptos vitorianos que se deslocaram até ao sul do país vizinho não quiseram ficar atrás e deram também um grande espetáculo no topo superior norte, calando em vários momentos o restante estádio pintado maioritariamente a verde e branco. Apoio incansável que durou 90 minutos.
Nesse sentido, até porque já se previa um duelo ibérico bem quente, a contenda foi pautada pela alta intensidade e um grande equilíbrio nos minutos iniciais. Ora os vitorianos criavam perigo pelo corredor direito, através de arrancadas de Embaló, ora os sevilhanos ameaçavam a baliza de Bruno Varela. Os adeptos da casa até chegaram a festejar aos 14 minutos, depois de Bakambu fazer abanar as redes, mas o lance foi prontamente anulado por posição irregular do congolês.
Os conquistadores não se assustaram com o ímpeto inicial do Betis, arregaçaram as mangas e colocaram a linha recuada dos espanhóis em sentido (e que calafrios causaram). Hevertton, que se estrou como titular, teve tudo para colocar os minhotos em vantagem, depois de um passe delicioso de João Mendes, mas atirou ao lado.
Faltou alguma acutilância atacante no terço final para recolher aos balneários na frente, mas os vimaranenses deixaram uma imagem tremendamente positiva no primeiro tempo em casa do 6.ª classificado da La Liga, que dias antes havia derrotado o todo-poderoso Real Madrid no mesmo palco.
LOUCURA NA ETAPA COMPLEMENTAR
Com motivação redobrada depois da primeira parte personalizada e imbuído de ideias renovadas ao intervalo, a formação lusa regressou... a perder.
Bakambu aproveitou uma bola solta na pequena área, após alguma confusão, e assinou o primeiro. O vulcão verde e branco explodiu de alegria, mas a erupção doi rapidamente contida.
Com um autêntico míssil, colocadíssimo, de fora da área, João Mendes restabeleceu a igualdade e nem deu tempo aos beticos para saborearam a vantagem. Golaço do número 17 dos conquistadores levou os adeptos portugueses à loucura.
Em busca de reconquistar a superioridade no marcador, a turma de Pellegrini tomou conta da posse de bola e pelos pés de Bakambu esteve a milímetros de o conseguir, não fosse o tiro de calcanhar do avançado esbarrar no poste e depois a recarga defendida por Varela com reflexos felinos.
A partida acabou por esfriar após a hora de jogo, mas, à entrada para os últimos 15 minutos, volrou a aquecer (e de que maneira).
Isco não perdoou dentro da área, após cruzamento açucarado de Ruibal, e devolveu a vantagem ao conjunto espanhol, mas o espírito de conquista dos comandados de Luís Freire foi encarnado no tiro certeiro de Nélson Oliveira, seis minutos depois. Prémio justíssimo para a exibição vitoriana em Sevilha.
Enorme jogo de futebol no Benito Villamarín só não teve mais golos porque... acabou. Tudo em aberto para a segunda mão no castelo, casa dos valentes minhotos, cujo sonho de conquistar a Europa continua bem vivo.