Mergulhado numa grave crise financeira sem precedentes, o Barcelona viveu nos últimos dias mais um capítulo negro que mancha a história de um clube tão histórico, com a não inscrição de Dani Olmo e Pau Victor, dois jogadores do atual plantel da equipa principal do emblema catalão.
E este é apenas mais um dos seus vários episódios absolutamente inusitados nos últimos tempos.
Há apenas uns dias, um comunicado conjunto da LPFE (Liga Profissional de Futebol Espanhol) e da RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol), veio comprovar aquilo que já se suspeitava: a inviabilidade da inscrição de Dani Olmo e Pau Victor, não lhes concedendo a licença necessária para continuarem a exercer a sua profissão.
Devido ao fato do Barcelona não cumprir os devidos regulamentos financeiros, o clube catalão provavelmente ver-se-á privado de um dos seus maiores ativos e jogadores do seu plantel profissional. Esta questão não pode nem está a ser encarado de ânimo leve pelos seus adeptos, com alguns deles a exigirem a demissão imediata do presidente Joan Laporta.
Dani Olmo foi apresentado como a grande contratação para esta época desportiva. Pretendido por vários clubes de topo de futebol europeu, decidiu regressar ao seu clube de coração (rejeitando propostas superiores à do Barcelona), de onde tinha saído pela porta pequena ainda adolescente para os croatas do Dínamo Zagreb.
Mesmo com essa saída prematura para o futebol croata, Dani Olmo não deixou de ter o objetivo de regressar um dia a sua casa e quando viu finalmente concretizado esse sonho (e apesar de estar consciente da atual situação financeira do clube), jamais pensou que esse sonho iria virar um pesadelo menos de seis meses depois.
E agora, um dos jogadores mais entusiasmantes do futebol mundial, vê-se desta forma enganado e traído pelo seu presidente e consequentemente, pelo seu clube de coração. O seu rendimento desportivo já não vinha sendo o mesmo dos primeiros meses, e certamente que tal se explica por todas as dúvidas que já pairavam na cabeça do talentoso médio criativo.
Laporta tem vivido constantemente no improviso, tendo despendido das suas próprias economias, para fazer face aos problemas financeiros do clube.
Mas se em tempos, conseguiu inscrever Gavi (numa decisão a seu dia extremamente polémica e muitíssimo contestada pelos outros clubes), já devido ao fato do clube violar as regras do fair-play financeiro, ia haver um dia em que as máximas instituições que regem o futebol espanhol deixariam de assobiar para o lado e haveriam por acabar por ceder à pressão dos restantes clubes para que o Barcelona não recebesse um tratamento especial.
Quando contratou Dani Olmo e Pau Victor no Verão passado, o Barcelona apenas os tinha conseguido inscrever devido à baixa de longa duração do defesa-central dinamarquês, caso contrário muito provavelmente não iria conseguir inscrevê-los.
O escândalo foi evitado uma primeira vez e o Barcelona teve quatro meses para resolver todas as questões relacionados com o seu incumprimento do fair-play financeiro, e volvidos quatro meses, o presidente Laporta e a sua direção, não conseguiram solucionar este problema, algo absolutamente inadmissível para um clube desta dimensão.
Laporta sempre pautou a sua liderança por um discurso muito populista. A sua constante comparação com o rival Real Madrid, é também algo que cai na graça dos adeptos catalães, sempre e quando a equipa tenha rendimento desportivo, e que a responsabilidade dos fracassos do clube, não sejam apenas e só do seu presidente, como o é neste caso.
Há que reconhecer que o presidente Laporta tem feito de tudo para que o Barcelona cumpra as regras do fair-play financeiro, mas o que não pode fazer é prometer coisas que não dependem de si mesmo única e exclusivamente, como quando garantiu aos adeptos do Barcelona de que iria poder continuar com os serviços de Leo Messi, o maior ídolo do clube catalão.
Naquela altura, em Agosto de 2021, Laporta tinha apenas quatro meses de presidência, e os adeptos do Barcelona foram na sua generalidade extremamente pacientes e compreensivos e atribuíram essa dramática saída do craque argentino à gestão danosa do antigo presidente Josep Maria Bartomeu.
Desta vez, a sua paciência está prestes a esgotar-se com Laporta e a sua direção e é natural que assim seja. Tem sido uma quantidade infindável de promessas, que não têm sido cumpridas.
O Verão foi marcado pela novela Nico Williams. O endiabrado extremo basco do Athletic (que vinha de ser um dos melhores jogadores do último Europeu ganho pela seleção espanhola), foi um nome que não saiu da boca de todos os adeptos do Barcelona durante vários meses.
Laporta prometeu por diversas vezes de que acontecesse o que acontecesse, Nico Williams seria jogador do Barcelona no início da época, e precisamente pelo fato do jogador desconfiar de que poderia passar pelo que Dani Olmo e Pau Victor estão a passar, o extremo espanhol recuou à última da hora e recusou assinar pelo Barcelona, pois não confiou de que pudesse vir a ser inscrito.
Quando um clube de futebol deixa de conseguir inscrever os seus jogadores, costumamos dizer que é um clube falido e perde credibilidade junto do mundo do futebol. E só não o dizemos no caso do Barcelona, apenas e só por ser um clube desta dimensão.
E também é por ser um clube de topo do futebol mundial, que muitas benesses lhe foram concedidas anteriormente, e que receberam um tratamento diferente de outros clubes, tal e qual acontece com o Manchester City em Inglaterra.
Mas também é por ser o Barcelona, que faz com que esta situação da não inscrição destes jogadores se torne vergonhosa e inconcebível. O presidente Laporta terá de assumir as devidas responsabilidades, deixando de procurar a culpa em fatores externos. E o que se tem verificado ultimamente, é um verdadeiro castelo de mentiras e promessas infundadas.
Por exemplo, em relação ao estádio Camp Nou, que neste momento está a ser alvo de uma profunda remodelação (que o tornará num dos melhores e maiores estádios do mundo, com capacidade para mais de 100 mil espectadores), no qual foi prometido por Laporta aos seus sócios, que as obras estariam terminadas em Novembro do ano passado, algo totalmente alheio da realidade.
Os sócios do Barcelona têm de se deslocar a um estádio de difícil acesso como o Estádio Olímpico de Montjuic para poderem ver a sua equipa, e salvo alguns jogos grandes e dos jogos do início fulgurante de Flick (que vê a sua equipa perder o folêgo e brilhantismo inicial na altura em que se começam a decidir os títulos), muitas vezes o Barcelona joga perante bancadas parcialmente vazias.
Muitos dizem que este atraso na reinauguração do mítico Camp Nou, é algo propositado com o intuito de que Laporta não enfrente o descontentamento de uma massa associativa profundamente indignada com os últimos acontecimentos.
E eu começo a pensar que tal poderá corresponder à realidade. Laporta não quer estar perante o escrutínio dos seus adeptos, escudando-se em comunicações e conferências de imprensa perante um grupo restrito de sócios, numa atitude bastante covarde do presidente de um clube tão grande como o Barcelona.
Além disso, Laporta prometeu que com o dinheiro que ia ingressar com a renovação do contrato com a marca desportiva Nike até 2038 (e que se torna um dos maiores contratos desportivos da história do desporto mundial com a equipa catalã a arrecadar mais de 1 bilião de euros durante esses catorze anos de contrato), que seria suficiente para solucionar a incerteza nas inscrições de Pau Victor e principalmente, de Dani Olmo.
Algo que, como disse anteriormente, dificilmente irá acontecer. Nos próximos dias, o Barcelona vai recorrer ao Conselho Superior de Desporto para conseguir ter uma providência cautelar que permita que ambos jogadores possam jogar a Supertaça de Espanha, cuja meia-final contra o Athletic se irá disputar durante esta semana na Arábia Saudita.
Já quase ninguém compra a narrativa de que é o Real Madrid que está por trás desta decisão dos órgãos máximos do futebol espanhol. Já são muito poucos aqueles que se deixam ludibriar pela fanfarronice de Laporta e que acreditam nas suas palavras.
O Barcelona tem sido motivo de escárnio em Espanha e no mundo inteiro, muito em parte por decisões equivocadas de Laporta e da sua direção.
Caso o Barcelona não consiga inverter esta situação, Dani Olmo poderá mesmo ativar uma cláusula que lhe permita rescindir o contrato (já se fala no interesse do Milan e do Manchester City em assegurar os seus serviços), algo que seria ruinoso a nível financeiro para o clube, que teriam de pagar os 50 milhões remanescentes do contrato do futebolista, além de perderem uma determinada percentagem numa possível venda futura.
O Barcelona anunciou na noite de 3 de janeiro que havia conseguido voltar a entrar na famosa regra de 1:1 (isto quer dizer que o clube já pode operar gastando o que ganha). Estas são definitivamente boas notícias, pois desta forma o clube catalão poderá voltar a contratar, contudo, os seus adeptos chegaram ao seu limite e exigem soluções imediatas.
A primeira é muita simples: que deixem de os enganar e comecem a dizer a verdade.