Foi um dia de reconciliação. Foi uma festa, sim, foi uma homenagem, sem dúvida, mas foi, sobretudo, um acordo de paz.
Juan Martín Del Potro precisava de assinar este contrato para cessar hostilidades. Necessitava fechar um enorme capítulo da sua vida com alegria, não com dor.
Porque foi com dor que o argentino se retirou em fevereiro de 2022. Com dores, mesmo. Foi um fim de carreira “forçado”, não “desejado nem querido”, confessou o ex-tenista ao “La Nación”.
Del Potro deu muito ao jogo da bola amarela e a modalidade retribui-lhe. Vencedor do US Open 2009, número 3 do ranking ATP, 22 títulos, finalista das ATP Tour Finals, prata no Rio 2016, bronze em Londres 2012, a Taça Davis 2016. Mas a vida das raquetes também o fez sofrer.
Foram quatro operações ao joelho direito entre 2018 e 2021. Três intervenções cirúrgicas ao pulso esquerdo entre 2014 e 2015 e mais uma ao pulso direito em 2010. No total, esteve cinco anos e meio da sua carreira sem estar apto para jogar.
Quando deixou o circuito profissional, Del Potro foi-se embora com esta mágoa. Com esta dor. Foi por isso que, mais de dois anos e meio depois, quis oferecer-se um adeus diferente.
Perdeu peso. Voltou a treinar. Reuniu patrocinadores antigos. E, em Buenos Aires, organizou uma despedida de gala: um dia cheio de convidados e presenças ilustres, com Carlos Tévez, Sergio Romero, Diego Schwartzman ou Bizarrap entre os espetadores. Mensagens de homenagem gravadas por Roger Federer ou Manu Ginóbili e, como grande estrela convidada, Novak Djokovic, que disputou um encontro de exibição contra la torre de Tandil.
A despedida foi vendida como um grande acontecimento. Houve uma cobertura televisiva exaustiva e um desfile de tributos a Del Potro. Do alto dos 1,98 metros que o separam do chão, o gigante viveu um dia bem diferente das mágoas da retirada, em 2022, quando afirmou estar a viver “um pesadelo” devido ao seu joelho.
Um dos pontos altos da tarde foi um duelo entre Djokovic e Del Potro. O encontro deu-se em ritmo lento, suave, mas, mesmo para conseguir disputar aquele ténis a baixa velocidade, Juan Martín teve de lutar contra o seu corpo, conforme foi explicando, nos últimos dias, à imprensa argentina.
Novak, cuja presença — que se também deveu à coincidência de alguns dos seus patrocinadores pessoais com os patrocinadores da homenagem — gerou montanhas de elogios na imprensa argentina, perdeu por dois sets a zero, como cabe à etiqueta dos convidados. No seu espanhol com toques de italiano, o sérvio classificou Del Potro como “um exemplo para todos: “Tenho-o perto do meu coração. Celebramos, hoje, a carreira de personalidade do Juan Martín. É uma grande pessoa e um grande amigo”, disse o recordista de vitórias em torneios do Grand Slam.
Depois do desafio de singulares, Gabriela Sabatini — antiga número 3 do WTA e vencedora do US Open 1990 — e Gisela Dulko — ganhou quatro títulos em singulares e foi líder do ranking de pares e vencedora do Open da Austrália na variante em 2011 — juntaram-se aos dois homens para um encontro de pares mistos.
Sabatini, que na Argentina é tratada como uma estrela de primeiríssimo nível, não deixou de colocar o dedo na ferida, afirmando “conhecer todo o calvário” de Del Potro e desejando que o compatriota consiga “encontrar a solução para levar uma vida tranquila”.
Numa entrevista, também ela de despedida, ao “La Nación”, Del Potro disse, há poucas semanas, ainda estar “num processo para entender como é a vida sem o ténis”. Em fevereiro cumprir-se-ão três anos do fim, mas a passagem para ex-jogador continua a ser difícil.
“Achava que conseguia defrontar qualquer coisa que se pusesse no meu caminho, mas sabem que mais? Não sou tão forte como vocês achavam. Sim, choro, não durmo, tenho ansiedade e às vezes estou deprimido. Faço mais terapia do que aquela que teria de fazer porque não me consigo sobrepor a certas coisas da vida”, confessou, na mesma entrevista.
Foi para ajudar a fechar este capítulo que Del Potro teve esta despedida. Esta reconciliação. Chorou, mas foram lágrimas de alegria: “Termino a minha carreira da melhor maneira, de uma maneira de sonho, e vou-me embora feliz. Ainda que chore, prometo que estou feliz. Muito obrigado por todos estes anos. Adeus!”, disse, perante o aplauso de pé do público e o olhar ternurento de Djokovic.