Foi o herói do jogo que colocou Portugal no primeiro lugar do Grupo E. Com 15 defesas, diz a estatística que 37 por cento de eficácia, foi determinante na partida frente aos noruegueses e, provavelmente, só não foi eleito MVP porque até o herdeiro da coroa estava no pavilhão e coube a sua majestade entregar a distinção para o melhor em campo perante 11 mil adeptos.
Menos de 24 horas depois do triunfo, Gustavo Capdeville está igual. Bom, mais ou menos. «Sinto-me bem, igual. Quer dizer, tranquilo mas se calhar mais feliz», confessou bem disposto. «Conseguimos ganhar e levar quatro pontos para o main round», repetiu. «Mas ainda não ganhámos mais nada e temos de manter os pés na terra», avisa o guarda-redes de 27 anos.
«Levar estes quatro pontos para a próxima fase é importante porque ficamos mais perto do nosso sonho. Psicologicamente também por termos dado esta luta e porque isso facilitará de alguma foram o nosso caminho no main round, saímos reforçados mentalmente, com boas sensações. Acho que quem viu o nosso jogo acredita que podemos vencer qualquer equipa e nós também. Seja a Noruega, a Suécia ou a Espanha», afirmou o atleta, referindo-se, no caso dos dois últimos, aos rivais já conhecidos de Portugal na próxima fase, que começa quarta-feira.
Apesar desta mentalidade fortalecida, das exibições em crescendo e do conforto da pontuação máxima, Gustavo prefere ir com cautela. «O nosso pensamento é sempre jogo a jogo. Isto é como uma maratona, não podemos estar já a pensar na meta. É quilómetro a quilómetro. Primeiro queríamos chegar ao main round, depois com a pontuação máxima. Agora queremos chegar aos quartos de final», enumerou.
Sabendo que aos quartos só passam os dois primeiros classificados, e que a missão se vai complicar, Capdeville, que herdou o apelido do avô paterno que era francês, está otimista. Cauteloso, mas otimista e, sobretudo, confiante na qualidade do grupo. «Independentemente das equipas que vamos defrontar agora, seja quem for, sentimos que podemos vencer qualquer uma», avisou.
Acho que não mudou nada, às vezes são só detalhes, aquela estrelinha da sorte, de que tanto se fala. Desta vez os astros alinharam-se. Mas esta estrelinha dá muito trabalho!
Esta confiança não tem segredos a não ser um: trabalho. «Acho que não mudou nada, às vezes são só detalhes, aquela estrelinha da sorte, de que tanto se fala. Desta vez os astros alinharam-se», diz divertido. «Eu defendi umas bolas e não falhámos no ataque». No momento certo. «Sim… Foram uma ou duas defesas cruciais, marcámos três ou quarto golos e correu bem. Mas essa estrelinha dá muito trabalho!», apressa-se a avisar, não vá alguém achar que está tudo entregue nas mãos da sorte.
Sorte só com o alinhamento dos jogos
Portugal não entrou muito bem neste Mundial, em termos exibicionais, mas felizmente para as contas da Seleção isso não de refletiu no resultado. E, de certa forma, o calendário foi favorável a este crescimento, dado que começou teoricamente com as equipas mais acessíveis (Estados Unidos, Brasil e Noruega). Por isso, dizia o ranking, que os rivais nórdicos seriam os mais complicados. « Quando entrei pensei que ia ser muito difícil, estes clubes europeus são sempre mais complicados, tínhamos jogado com eles o torneio pré-olímpico, que não tínhamos vencido. Nos últimos dois jogos não tínhamos entrado da melhor maneira. Sabíamos que ia ser duro, ninguém entra para perder, e menos ainda a Noruega a jogar em casa», considerou o guarda-redes que veste a camisola do Benfica desde os infantis, tendo passado apenas duas temporadas no Madeira, SAD, mas não acredita que este último jogo com os nórdicos tenha sido o primeiro teste de fogo. «Seria injusto tirar o Brasil desta equação. Tinham ganho à Noruega e entraram muito confiantes contra nós. Agora vai ser o contrário no ‘main round’, vamos começar com o melhor classificado até ao pior», constatou o guarda-redes que nunca se esquece de homenagear o colega de profissão, Alfredo Quintana, que morreu subitamente durante um treino no FC Porto, em 2021.
«Acreditamos que o futuro vai ser risonho», rematou.