O mercado de janeiro na Europa não é conhecido por mudanças agudas nos plantéis, ao contrário do que sucede na América do Sul, onde é mais extenso e trata-se da janela principal. Ainda assim, alguns clubes poderiam dar-se ao luxo de realizar uma remodelação já no começo de 2025, como o caso do Manchester United, que vive um começo de novo ciclo com Ruben Amorim nos comandos.
De facto, caso a turma de Old Trafford começasse a sua transformação no imediato, o futebol português teria muito a perder, já que muitos dos seus alvos estarão na Primeira Liga. Ainda assim, é mais ou menos público que o Manchester United não vai iniciar a sua revolução para já. Porém, isto não impede que o clube se mexa.
Na ótica da maioria das turmas, a janela de janeiro é de detalhes, estudada ao pormenor, com duas ou três mudanças para ajudar um plantel que tem falhas em X e/ou em Y. Conjuntos com alto poder de compra, como Manchester City, PSG ou Real Madrid, por exemplo, analisam o que falta nos seus conjuntos e investem em atletas que estejam na forma ideal, para conseguirem produzir rendimento nos seis meses que faltam para o apito final de uma temporada. Quem paga por isto? Os conjuntos com menos capital. Podemos pegar em dois exemplos do futebol nacional. Pedro Porro trocou Alvalade pelo Tottenham em janeiro de 2023, depois dos londrinos chegarem com 40 milhões de euros (inicialmente um empréstimo até junho), sendo que o Sporting perdeu o melhor lateral direito a atuar em Portugal, nunca encontrando um substituto (chegou Bellerín, mas nunca pareceu 100% focado). Luis Díaz rumou ao Liverpool em janeiro de 2022, quando era o abono de família do FC Porto, que ainda foi a tempo de se sagrar campeão, mas com Wenderson Galeno, que não conseguiu integrar-se inicialmente da melhor maneira (18 jogos, um golo).
O mercado de inverno de 2025 traz algum receio para Sporting, Benfica e FC Porto, que sabem que têm que comprar alguns elementos, mas que a qualquer momento podem perder as suas peças mais valiosas, mesmo que seja pela sua cláusula de rescisão. Por muito que Viktor Gyokeres possa render 100 milhões de euros aos leões, ao nível desportivo o clube vai ficar a perder, porque ficará sem a sua peça chave e no mercado não existirá um elemento como ele e que não tenha que passar por uma fase de adaptação. Claro que isto traz um efeito dominó, já que ‘os grandes comem os mais pequenos’. Todos os clubes que têm jogadores em boa forma têm que estar em alerta. Façamos uma análise do que pode ser o mercado de Sporting, Benfica e FC Porto.
Por Alvalade vivem-se tempos de mudança. Rui Borges entrou e colocou um ponto final (pelo menos para já) no clássico 3x4x3, apostando num 4x2x3x1 na hora de atacar, a fazer lembrar o Arsenal de Mikel Arteta. Mesmo coma alteração tática, o plantel é recheado o suficiente para não se realizarem profundas alterações. Jogadores como Matheus Reis ou Iván Fresneda até poderão ganhar com esta mudança, tal como Eduardo Quaresma ou St. Juste, já que não é pedida uma profundidade brutal ao ala na hora de atacar. O problema continua a estar no miolo do terreno.
João Simões tem sido uma agradável surpresa, mas falta claramente uma opção. Morten Hjulmand, Hidemasa Morita e Daniel Bragança (além de Pedro Gonçalves), são um leque curto, embora com qualidade que sobra. Caso dois deles se lesionem ao mesmo tempo, como já aconteceu e está a acontecer, o Sporting terá naturalmente um problema. Rui Borges não descartaria a chegada de um novo nome, principalmente se as suas mais valias estivessem no plano defensivo. Um novo elemento para lateral esquerdo não seria mal pensado. Com uma defesa a 4, apenas existe Matheus Reis como elemento natural. Maxi Araújo funciona como ala, mas é um extremo. Nuno Santos está fora até ao final da época. Uma opção por empréstimo cairia bem em Alvalade. Geny Catamo também já pisou os terrenos, mas com a nova equipa técnica o moçambicano será um extremo pelo lado direito.
Já o Benfica já sabe que contará com um ‘problema’ no mercado de inverno. Problema entre aspas porque se trata de um jogador que pouco ou nada contou para Bruno Lage. Issa Kaboré prepara-se para ser devolvido ao Manchester City, depois de não ter conseguido ser concorrência para Alexander Bah. O dinamarquês não pode passar meio ano sem um colega com quem possa revezar, dada a quantidade de jogos existentes. Não existe ninguém com um perfil que se possa adaptar (Tiago Gouveia encontra-se lesionado), por isso a turma da Luz terá mesmo que ir ao mercado e o ideal é procurarem uma solução definitiva.
Já no centro da defesa, Jorge Mendes tem feito uma pressão brutal para que António Silva se mude para a Juventus e olhando para o sucesso de Francisco Conceição, é credível que uma hipotética cedência se torne numa mudança em definitivo. Assim sendo, Rui Costa terá que procurar mais um central para o lote. Tomás Araújo continuará a ser titular indiscutível, Nicolás Otamendi seguirá no onze pelo detalhe de ser capitão (são vários os erros em 2024/25) e Adrian Bajrami terá a missão de ser um dos suplentes, mas necessitará de companhia. Cleiton Santana tem sido falado, mas acredito que um elemento com experiência de futebol português fosse uma solução a explorar, devido ao tempo de adaptação e ao conhecimento das competições internas (a probabilidade de quem vier somar vários minutos é elevada, tendo em conta que Otamendi não é um jovem e se poderá lesionar).
A direção do Benfica poderia igualmente pensar em libertar um outro atleta que teria que ser substituído. Renato Sanches acrescentou pouco ou nada desde que aterrou em Lisboa no verão e não parece ter as valências necessárias para tirar o lugar a um elemento da dupla Florentino Luís – Fredrik Aursnes. Não sei se é possível a devolução ao PSG, mas era uma ideia que deveria ser avaliada por Rui Costa. Por fim, entre Gianluca Prestianni e Andreas Schjelderup, um deles deveria ser emprestado, idealmente a um clube de Portugal.
O FC Porto vive um momento financeiro distinto dos rivais de Lisboa, mas ainda assim consegue estar na luta pelo título em janeiro, com um plantel notoriamente inferior em algumas posições, embora conte com um onze inicial de muita qualidade. Vítor Bruno começou a apostar no que pode vir a ser o verdadeiro reforço de inverno. Rodrigo Mora tem brilhado quando pisa os relvados, à frente da dupla de meio campo, recordando craques de outrora, sendo que mais tarde ou mais cedo a camisola 10 lhe estará destinada.
Com um meio campo completo, a principal necessidade do FC Porto está na ala esquerda. Francisco Moura foi dono e senhor do lugar até que Wenderson Galeno foi recuado. Parece claro que Wendell e Zaidu Sanusi (este lesionado) não vão entrar nas contas do dragão, sendo que o brasileiro tem pé e meio no São Paulo. Apesar de Wenderson Galeno dar outra profundidade ao ataque da equipa pelo lado esquerdo (seria interessante ver o antigo jogador do Braga a atuar consecutivamente num 3x4x3), Francisco Moura tem que ter um concorrente direto. Aparentemente, a direção do FC Porto está a trabalhar na antecipação e o nome de Valentín Barco está perto de ser fechado para a segunda metade de 2024/25.
O argentino é o reforço ideal. Embora não se tenha afirmado em Sevilha, seria facilmente um dos melhores laterais esquerdos do futebol português, além de ter a capacidade de atuar como médio interior e como extremo, com a sua versatilidade a ser um dos pontos fortes. O FC Porto não está bem ao nível de contas por isso o atleta chegará cedido. Caso outros atletas cheguem à Invicta, os negócios serão feitos pelos mesmos moldes.
Não se descartaria uma saída de Marko Grujic, devido ao seu pelo no orçamento salarial, de modo a entrar um outro médio mais jovem como Tomás Handel (que tem sido falado), mas não é uma operação urgente.
Claro que tudo isto pode mudar. As cláusulas de rescisão dos craques das três equipas podem alterar o cenário e os emblemas têm que estar preparados para tal situação, contando com equipas-sombra com quatro ou cinco elementos para cada posição. Certo é que ninguém quer perder os seus melhores jogadores, principalmente numa fase em que todas as equipas seguem vivas nas competições (exceto o FC Porto na Taça de Portugal).
Numa era em que são necessários plantéis longos, ao mesmo tempo que as equipas B têm que produzir um ou dois talentos anualmente, o mercado de janeiro é perfecionista, ao contrário do de verão, onde por vezes são angariadas peças não necessárias. Neste caso, tem que se saber o que se quer e para o que se quer, nunca esquecendo que o clube proprietário vai sempre apontar para a cláusula de rescisão, quando a mesma existe, ou para uma verba superior àquilo que vale o jogador. Janeiro promete ser um mês decisivo para o que falta da época. É sentar, ler o jornal, e verificar todos os rumores que são libertados, de maneira a desfrutar de uma das melhores fases da época, o mercado de transferências.