
Quando Francesco Acerbi, gigante defesa-central de 1,92 metros, marcou, com o faro, técnica e frieza dos pontas de lança, o terceiro golo do Inter no terceiro de cinco minutos de compensação da segunda mão da meia-final da UEFA Champions League com o Barcelona, desatou a correr como louco, tirou a camisola do Inter e a interior e depois foi abraçado pelos companheiros. Muitos não queriam acreditar que aquele jogo louco iria a prolongamento. E poucos poderiam imaginar o desfecho final e, também, que Acerbi seria um dos heróis da qualificação do Inter para a final. A história do internacional italiano também é difícil de acreditar.
Acerbi, 37 anos, já anda no futebol há muito tempo. E colheu a glória que lhe foi proporcionada por dedicação e profissionalismo tardios (e de que maneira). O percurso dele está marcado por tragédia, álcool, cancro. E também por redenção, superação e felicidade.
Acerbi chegou ao Milan, emprestado pelo Génova, com 24 anos, provavelmente muito cedo. Tinha perdido, já, o controlo da vida para o álcool. «Fazia noitadas e bebia de tudo», confessou mais tarde. O Milan, através do administrador delegado Adriano Galliani, arranjou-lhe casa a cerca de 40 quilómetros de Milão, para evitar a má vida na cidade. De nada valeu. «Saía à mesma», reconheceu o defesa-central.
Resistiria a primeira metade da época 2012/2013 no Milan, seria emprestado ao Chievo em janeiro. Explicou, em entrevista ao jornal La Gazzetta dello Sport, que se entregou ao álcool depois da morte do pai. «Era tudo para mim. Sentia-me vazio, o futebol não fazia sentido», partilhou.
No verão de 2013 foi transferido para o Sassuolo. E sobre ele caiu uma bomba. Diagnóstico, em julho, de cancro nos testículos nos exames médicos. Foi operado de urgência em Milão. Em setembro estava a jogar novamente. Mas o problema estava longe de ultrapassado. A 1 de dezembro acusou doping e foi suspenso preventivamente. Pela mesma altura recebeu a notícia de uma recidiva. Novos tratamentos duros, quimioterapia, queda de cabelo...
O Tribunal Nacional Antidoping retirou-lhe a suspensão, porque os valores elevados de gonadotrofina coriónica estavam ligados à recidiva do cancro. No verão de 2014 está de volta aos relvados. E diferente.
Chegou a contar que, numa manhã, depois de um ano de quimioterapia, se levantou com o sentimento de culpa por tudo o que tinha perdido. E que a sua segunda vida começou naquele momento. «Sem o cancro ter-me-ia retirado aos 28 anos. A minha verdadeira vida começou depois de ter derrotado o cancro. Quando se vence a doença é tudo belo», disse ao diário La Gazzetta dello Sport.
E como foi bela a noite de Acerbi com o Barcelona. Depois de ter marcado e levado o jogo a prolongamento, os nerazzurri venceram por 4-3, com golo de Frattesi aos 99 minutos. Uma vitória quase tão bonita como a de Acerbi.