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O FC Porto é, neste momento, uma equipa propícia a cometer erros. Por muito mais ousado que seja o modelo de jogo de Martín Anselmi e por mais risco que transporte ao jogo, a dimensão errática dos dragões está nos princípios mais elementares de um jogo de futebol e na vertente técnica mais simples. O empate contra a AS Roma foi demonstrativo desta tendência.
O jogo contra o Rio Ave foi o exemplo mais declarado desta tendência para o precipício em ações relativamente simples que têm sido as principais pedras no sapato que Martín Anselmi procura calçar e que, num plano mais aberto, continua a dar passos no sentido do encaixe no plantel dos dragões.
A AS Roma veio ao Estádio do Dragão para pressionar alto, com marcações individuais no campo todo e encaixes muito agressivos, facilitados pela facilidade de espelho dos sistemas. A marcação individual de Bryan Cristante a Stephen Eustáquio e de Manu Koné a Alan Varela marcou o jogo e criou um cenário repleto de espaço para aproveitar nas costas dos médios giallorossi que o FC Porto, através de saídas mais curtas ou mais diretas, procurou aproveitar. O sucesso foi, quase sempre, traído por erros.
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A saída apoiada e sustentada do FC Porto ainda apresenta limitações coletivas pelo distanciamento entre os jogadores – que torna mais longa a distância a percorrer pela bola e, consequentemente, aumenta o risco de todos os passes – mas são individuais os principais contratempos ao jogo dos dragões.
Ao longo do jogo, foram vários os passes curtos falhados, as receções que resultaram em perdas de bola e os lances que não deram resultado não pelo sucesso da pressão da AS Roma, mas por imprecisões no jogo azul e branco. Numa das explicações mais interessantes da sua passagem pelo FC Porto, Martín Anselmi destacou o carácter elementar destas ações técnicas que, a este nível, não podem passar pelo trabalho diário e pelas responsabilidades do treinador da equipa sénior.
Quando o FC Porto procurou uma saída mais direta e despejou bolas em Samu Aghehowa, revelaram-se as imprecisões técnicas do avançado espanhol a jogar de costas para a baliza. Sempre que conseguiu dar sequência aos lances, recebendo e tocando para um dos jogadores de azul, o FC Porto conseguiu criar perigo, mas foram várias as bolas que pediram para ser rendilhadas à mão e que podiam ter aberto outras saídas para os dragões.
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É neste impasse, sem o contexto ideal para sair a jogar desde trás nem sem alternativas regulares a amortecer bolas e a segurar um jogo mais direto, resistindo ao choque com os defesas adversários e diminuindo o tempo dos ataques que mais o FC Porto precisa de crescer. Porque, sempre que os dragões conseguiram entrar no espaço entrelinhas, criaram perigo.
Rodrigo Mora e Gonçalo Borges foram destaques naturais do jogo. O primeiro desperdiçou, com más decisões algo incomuns – mas normais para um jogador que, mesmo não parecendo, tem 17 anos – os melhores lances da primeira parte, mas cresceu no jogo e ganhou influência em zonas mais baixas. A marcação da AS Roma podia ser superada através de trocas posicionais (Stephen Eustáquio surgiu mais lateralizado) ou de saídas da zona da pressão. Ao recuar no terreno, Rodrigo Mora causou dúvidas em Zeki Çelik, o seu marcador direto, e conseguiu por várias vezes, receber, virar-se de frente para o jogo e superar pressões no drible. A capacidade de ter a bola colada ao pé e de ludibriar adversários é a tónica do jogo da principal referência criativa dos dragões.
Se a irregularidade de Rodrigo Mora surpreende, a de Gonçalo Borges é consequência natural do seu jogo. Ainda assim, esta foi das exibições mais interessantes do avançado do FC Porto que conseguiu agitar as águas e acrescentar alguma irreverência ao jogo dos dragões. Conseguir esconder as lacunas ao nível da decisão e das movimentações é o desafio para retirar o melhor rendimento do jogador cuja importância no jogo dos dragões diz muito sobre o nível do plantel.
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Na segunda parte, o nível e a subida de rendimento de Francisco Moura também deram dicas sobre o melhor encaixe do lateral nos dragões. Mais do que um jogador para jogar projetado, já posicionado na última linha do ataque dos dragões, pode acrescentar como elemento de chegada, projetando-se de trás para a frente para definir. Foi nesta função que melhor rendeu em Portugal e será desta maneira – ou fixando-se definitivamente em posições mais baixas – que mais facilmente verá o seu rendimento ser exprimido.
Há ainda outro desafio para Martín Anselmi: encaixar Fábio Vieira no onze dos dragões. Se originalmente se poderia pensar no médio como um dos jogadores atrás do ponta de lança, a verdade é que o português – que está a fazer uma temporada abaixo do esperado – tem tido maior rendimento jogando mais recuado, a partir do meio-campo. Tecnicamente permite colmatar algumas das imprecisões do FC Porto e acrescenta ao nível do passe, procurando a meia direita para arquear as bolas.
Os próximos meses não deixam espaço a grandes ambições imediatas, mas o projeto de Martín Anselmi tem pernas para andar. A diferença do curto para o médio/longo prazo balizará ambições e pode ditar o rumo do FC Porto nos próximos anos, numa altura em que, apesar dos resultados, a esperança já se sente no reino do Dragão (mesmo nas bancadas). Não fossem os erros e imprecisões, e o FC Porto deixaria de jogar à beira do precipício.