
Se Fafe é a catedral dos ralis, o troço que inclui a famosa descida do Confurco é, por assim dizer, o altar-mor. Foi nesta classificativa, agora com 11 quilómetros, que Sébastien Ogier segurou a prova e alcançou mais uma vitória – a sétima – em Portugal. Atrás dele só o lendário Markku Alen, com cinco.
Falava-vos na crónica anterior de uma possível surpresa e cá está ela. Com a devida autorização da direção do rali na pessoa do diretor de segurança, Jaime Santos, tive oportunidade de percorrer o troço de Fafe após o final da primeira passagem e a entrada na classificativa do carro vassoura conduzido, como habitualmente, pelo infatigável Silvério Gonçalves.
Primeiros quilómetros entre árvores
Eis, portanto, as minhas impressões ao volante. Os concorrentes largam dos arredores da zona industrial de Fafe, mais precisamente do lugar de Paredes. Os primeiros 4,7 quilómetros fazem-se ao longo de uma pista que serpenteia, sobe e desce pelo meio da mata e não ficariam mal no prólogo de uma prova de TT, ainda que o piso se apresentasse substancialmente melhor. A minha pick-up Isuzu, não sendo um carro de ralis nem nada que se pareça, portou-se à altura mesmo nas partes mais sinuosas. Ia era a menos de metade da velocidade dos concorrentes…
Voos no Pereira
A partir da passagem pela orla de Santa Eufémia (ao quilómetro 4,7) o perfil da pista muda. Entra-se numa zona de planto com eólicas e percorre-se um estradão largo, rapidíssimo, mas algo escorregadio. Cerca de 3 quilómetros depois surge o famoso Salto do Pereira, lugar das mais famosas fotografias do rali de Portugal. Aqui os mais rápidos voam mais de 70 metros, o que é obra.
Segue-se a parte mais difícil do itinerário; a descida do Confurco, muito sinuosa, estreita e escorregadia que vai atravessar a estrada nacional vinda de Cabeceiras de Basto e Várzea Cova para Fafe e logo começa a subir num portentoso gancho à direita, emoldurado por uma bancada natural com milhares de espetadores.
Subida até novo salto
A pista sobe fortemente com uma armadilha (gancho à esquerda entre taludes) pouco depois da travessa do asfalto e continua monte acima até à tomada de tempo. Esta é antecedida por outro salto famoso, o da Pedra Sentada, onde o japonês da Toyota Katsuta foi o primeiro a arrancar uma estrondosa ovação. Logo depois termina o troço e por ali andam mais uns milhares de espetadores chegados, às vezes, três dias antes com equipamento completo: tendas, lampiões, grelhadores, cornetas, cobertores e, claro, hectolitros de vinho e cerveja. É a festa no alto do monte, uma romaria, ou não estivéssemos no Minho.
Luta até ao fim
Apesar do último combate de Ott Tänak, a avaria da véspera deitou a perder as suas hipóteses de vitória, conseguindo, mesmo assim, recuperar o segundo lugar domingo de manhã. O domínio da Toyota foi esmagador: sete carros nos dez primeiros lugares. A completar o pódio, o Toyota Yaris de Kalle Rovanperä e Jonne Altunen. Confirma-se a perda de competitividade dos Ford cujas melhores posições foram sétimo e oitavo. Quanto à Hyundai, averbou, além do segundo de Tänak, o quarto do campeão do mundo em título Thierry Neuville. Como habitualmente Armindo Araújo (em Skoda Fabia) foi o melhor português.
Resumindo, um rali disputado até ao último segundo, com dramática alteração dos lugares cimeiros no sábado à tarde e que o público acompanhou em massa, ainda que com multidões um pouco menores que o ano passado (coisa patente, por exemplo, no troço de Fafe).