Foi a Paris conquistar a medalha de prata no triplo salto, mas à chegada a casa explicou que as flores e os elogios que agradece não chegam para continuar a carreira ao mais alto nível. No fim de semana venceu a Liga Diamante e, esta segunda-feira, o Pinhal Novo, onde se instalou prestou-lhe homenagem. Embevecido com a presença da sobrinha na plateia, disse que estava ali para que no futuro existissem «muito mais Pichardos».

Depois dos aplausos e do entusiamo dos miúdos à procura do autógrafo do atleta do Benfica, que juntou a prata, ao ouro conquistado em Tóquio 2020, repetiu o pedido de apoio que deixou ao chegar dos Jogos Olímpicos. E continua à espera da reunião com Rui Costa. Para decidir o futuro.

«Ainda não consegui reunir com eles [primeiro-ministro, Luís Montenegro, e presidente do Benfica, Rui Costa]. A minha decisão em relação ao futuro da minha carreira vai depender dessas reuniões, como já tinha dito antes. Aguardo as reuniões para juntos tentarmos encontrar uma solução e continuarmos a dar alegrias ao País, que é o mais importante», sublinhou o triplista nascido em Cuba que chegou a Portugal em 2017.

Pichardo deseja que o momento em que salte das pistas para o sofá venha longe, mas assume que sem apoio é muito complicada a continuidade no alto rendimento. «Vai depender muito dessas reuniões. O que estou a reclamar é mais apoio. Estou um bocadinho cansado de ter de tirar do meu próprio bolso para competir ao mais alto nível. Quando falamos do meu próprio bolso, falo da parte financeira, para pagar muitas coisas, que, penso, deveriam ser custeadas pelas entidades à minha volta», explica dando exemplos.

«Materiais de treino, por exemplo, no ginásio, o fisioterapeuta. Eu tenho um fisioterapeuta que não trabalha comigo, trabalha com a Federação e que me acompanha, me ajuda. Quando consegue. Às vezes vem a  minha casa, outras sou eu que tenho de ir de Setúbal, onde vivo e treino, ter com ele ao Jamor. Às vezes interrompo um treino, ao fim de algumas horas, para me meter no carro e perder mais umas quantas horas para ir lá, fazer fisioterapia, e voltar. E nas competições também não tenho apoio. Ele está comigo quando estamos a representar a Seleção Nacional, mas, por exemplo, ainda agora na Liga Diamante estive sozinho.»

Uma ajuda que também não existe da parte do Benfica. «Até agora não. Tive, mas em 2019 deixou de trabalhar comigo e não me deram nenhuma explicação, só que não podia», lamenta o atleta.

«E ficámos assim. Então, a partir de 2020, comecei a trabalhar com um fisioterapeuta da Federação, o Ricardo Paulino, temos boas relações, ele acompanha-me, faz um grande esforço, mas não é só o meu. Ele tem um trabalho na Federação, não trabalha para mim, e também tem um trabalho em uma clínica, então fica um bocadinho complicado. Acaba por me fazer um favor, como eu sempre digo, e eu não quero que me façam um favor, quero um fisioterapeuta que trabalhe comigo, que me acompanhe, que trate do meu corpo. No ano passado, por causa de estar sozinho, sofri uma lesão muito grave nas costas, na lombar. Estive muito tempo afastado, não conseguia andar, não conseguia sequer deitar-me bem. Tive de ir à Alemanha procurar ajuda com o apoio da Puma.»

Qual é o tempo limite para tomar uma decisão definitiva? «Não depende de mim. Provavelmente estas pessoas estão muito ocupadas com outros assuntos também importantes. Eu encontro-me totalmente disponível. Se me disserem que é amanhã, amanhã lá estarei. Já pedi para falar com o Rui Costa, aguardo uma resposta dele.»

«É só isto que estou a pedir. E não é preciso que me deem o dinheiro a mim, ok? Depositem o dinheiro num sítio onde eu consiga ter acesso e pagar às pessoas que trabalham comigo. Ou eu ou o treinador, ou quem manda na equipa, não precisa de ser para mim!», apela o atleta.

No nosso país ninguém vai trabalhar comigo seis dias por semana, que são os dias que treino, segunda a sábado, a receber 500 euros

«Tem sido complicado, ok? E o que estou a pedir é apoio, nesse sentido, para eu também não ter de tirar sempre do meu bolso e comprar materiais de treino, pedir ajuda à Câmara Setúbal para arranjar a pista onde treino, para mudar a areia das caixas de salto, pago também ao adjunto que faz parte da minha equipa de treino, que é o René Montoro. Recebo algum apoio sim, mas sabemos que no nosso país ninguém vai trabalhar comigo seis dias por semana, que são os dias que treino, segunda a sábado, a receber 500 euros. A pessoa não vai sentar-se a trabalhar comigo por 500 euros.»