Antigo internacional português lembra os ambientes difíceis
Vindo do bairro, Ricardo Quaresma enfrentou várias adversidades até alcançar o topo. Mas, como se sabe, a personalidade sempre foi um traço forte do craque, superando todos os obstáculos e brilhando nos ambientes mais hostis. "A rua ensina-te muita coisa. Podes não ter muitos estudos, mas se tiveres a escola da vida, vais sobreviver. É mais uma questão de personalidade. Os jogos que gostava eram os que tinham esses ambientes. Estive em plantéis com grandes nomes, grandes jogadores, mas que quando chegava o momento da verdade, aquilo tremia tudo. E a mim dava-me prazer ir ao Estádio da Luz e ser insultado do início ao fim. E eu era insultado porquê? Porque eles temiam, sentia que eles tinham medo de mim e era isso que me entusiasmava", lembra sobre os jogos contra o Benfica pelo FC Porto.
"Racismo? Hoje olhamos para o Vinícius, que também procura isso. Mas eu ouvia muita coisa. Agora, vou deixar de jogar porquê? Por me chamarem cigano? Eu sou cigano. Por chamarem-me preto? A minha mãe é africana. Vais sair de campo porque te estão a chamar isso? É a minha cor, é o meu santo. Deem-me a bola que vou calá-los. Era o que me movia. Adorava fazer golo na Luz e ver aquela águia", brinca.
Sempre bem tratado
Ainda assim, o Mustang vinca que foi sempre "bem tratado" pelos adeptos rivais, ressaltando: "A rivalidade dentro de um estádio é normalíssima e um jogador que entra ali não pode ligar ao que está cá fora."
Valdo lembra infância
Natural de Siderópolis, uma pequena cidade do estado brasileiro de Santa Catarina, Valdo começou a carreira no início da década de 1980 no Figueirense, rumando depois ao Grêmio de Porto Alegre, pelo qual conquistou a Taça Intercontinental em 1983. Mas nem tudo foram rosas e, quando era jovem e abdicou dos estudos para se focar no futebol, o pai não gostou...
"Um dia chego a casa e a minha mãe disse: ‘então, meu filho, como está a escola?’. E falei ‘está difícil, hein...’. E a minha mãe... [imita o choro]. Pensei: a casa caiu, já sabe tudo. Passei a maior vergonha da minha vida. ‘O teu pai vai matar-te, meu filho’, eu com 15 anos. E eu ‘pode deixar, eu falo com o pai quando ele chegar’. O meu pai chegou e perguntou ‘aconteceu alguma coisa ao Valdo? Bateram nele?’. ‘Não, parou de estudar’. Só ouvi a voz do general: ‘Valdo! Tu vais fazer o quê, ser jogador? Vai trabalhar, vagabundo! Começas amanhã como servente de pedreiro’. E eu ainda pensei ‘vou ficar um negão forte para caramba, como o Éder, agora em campo vou atropelar todos. Trabalhei uns dois anos, eu pesava 45 quilos, a saca 50. Como é que pega a criança? Sofri para caramba [risos]."
O elogio do Rei Pelé
Adepto assumido do Vasco da Gama, Valdo sonhava ser como Roberto Dinamite e, um dia, jogar no Maracanã. Em 1987, foi considerado o melhor jogador brasileiro pelo... Rei do futebol. "Deixou-me bastante feliz, até porque querendo ou não, era o Pelé. Quer dizer que estava no bom caminho", recorda.
Dani aborda a curta carreira
A carreira de Dani prometia, e apesar de ter jogado em vários grandes clubes, poderia ter sido muito melhor. No entanto, o antigo craque considera que teve a vida que quis. "Fui para o Sporting com 8 anos e com 14 já queria deixar de jogar. Dizia ao meu pai ‘pá, eu quero é jogar à bola com os meus amigos na rua, não quero ter um treino formatado’, embora naquela altura não fosse tanto como hoje em dia. Desde sempre houve uma coisa dentro de mim que era um bocadinho de inveja dos amigos, da minha irmã, por irem para a universidade viver uma vida paralela à minha no futebol. Achava que tinha um fascínio enorme por aquilo. Outros não, têm o foco total no futebol. Eu não tinha tanto esse objetivo de ser o melhor jogador do Mundo, ganhar a Bola de Ouro. Não era para mim", garante.
De resto, considera que, pela sua popularidade que gozava na altura fora dos relvados, acabou por ser mal compreendido, pois não era algo muito habitual. "Eu ganhava tanto dinheiro em Inglaterra e na Holanda com a imagem como com o futebol, e eram bons contratos. Mas cá em Portugal isso não era visto como uma situação positiva", lamenta. "O jogador de futebol é um produto, mas tem de ser acarinhado, potenciado e compreendido. Carlo Ancelotti diz que treina jogadores de futebol, mas é um líder de homens, de seres humanos."
"Racismo? Hoje olhamos para o Vinícius, que também procura isso. Mas eu ouvia muita coisa. Agora, vou deixar de jogar porquê? Por me chamarem cigano? Eu sou cigano. Por chamarem-me preto? A minha mãe é africana. Vais sair de campo porque te estão a chamar isso? É a minha cor, é o meu santo. Deem-me a bola que vou calá-los. Era o que me movia. Adorava fazer golo na Luz e ver aquela águia", brinca.
Sempre bem tratado
Ainda assim, o Mustang vinca que foi sempre "bem tratado" pelos adeptos rivais, ressaltando: "A rivalidade dentro de um estádio é normalíssima e um jogador que entra ali não pode ligar ao que está cá fora."
Valdo lembra infância
Natural de Siderópolis, uma pequena cidade do estado brasileiro de Santa Catarina, Valdo começou a carreira no início da década de 1980 no Figueirense, rumando depois ao Grêmio de Porto Alegre, pelo qual conquistou a Taça Intercontinental em 1983. Mas nem tudo foram rosas e, quando era jovem e abdicou dos estudos para se focar no futebol, o pai não gostou...
"Um dia chego a casa e a minha mãe disse: ‘então, meu filho, como está a escola?’. E falei ‘está difícil, hein...’. E a minha mãe... [imita o choro]. Pensei: a casa caiu, já sabe tudo. Passei a maior vergonha da minha vida. ‘O teu pai vai matar-te, meu filho’, eu com 15 anos. E eu ‘pode deixar, eu falo com o pai quando ele chegar’. O meu pai chegou e perguntou ‘aconteceu alguma coisa ao Valdo? Bateram nele?’. ‘Não, parou de estudar’. Só ouvi a voz do general: ‘Valdo! Tu vais fazer o quê, ser jogador? Vai trabalhar, vagabundo! Começas amanhã como servente de pedreiro’. E eu ainda pensei ‘vou ficar um negão forte para caramba, como o Éder, agora em campo vou atropelar todos. Trabalhei uns dois anos, eu pesava 45 quilos, a saca 50. Como é que pega a criança? Sofri para caramba [risos]."
O elogio do Rei Pelé
Adepto assumido do Vasco da Gama, Valdo sonhava ser como Roberto Dinamite e, um dia, jogar no Maracanã. Em 1987, foi considerado o melhor jogador brasileiro pelo... Rei do futebol. "Deixou-me bastante feliz, até porque querendo ou não, era o Pelé. Quer dizer que estava no bom caminho", recorda.
Dani aborda a curta carreira
A carreira de Dani prometia, e apesar de ter jogado em vários grandes clubes, poderia ter sido muito melhor. No entanto, o antigo craque considera que teve a vida que quis. "Fui para o Sporting com 8 anos e com 14 já queria deixar de jogar. Dizia ao meu pai ‘pá, eu quero é jogar à bola com os meus amigos na rua, não quero ter um treino formatado’, embora naquela altura não fosse tanto como hoje em dia. Desde sempre houve uma coisa dentro de mim que era um bocadinho de inveja dos amigos, da minha irmã, por irem para a universidade viver uma vida paralela à minha no futebol. Achava que tinha um fascínio enorme por aquilo. Outros não, têm o foco total no futebol. Eu não tinha tanto esse objetivo de ser o melhor jogador do Mundo, ganhar a Bola de Ouro. Não era para mim", garante.
De resto, considera que, pela sua popularidade que gozava na altura fora dos relvados, acabou por ser mal compreendido, pois não era algo muito habitual. "Eu ganhava tanto dinheiro em Inglaterra e na Holanda com a imagem como com o futebol, e eram bons contratos. Mas cá em Portugal isso não era visto como uma situação positiva", lamenta. "O jogador de futebol é um produto, mas tem de ser acarinhado, potenciado e compreendido. Carlo Ancelotti diz que treina jogadores de futebol, mas é um líder de homens, de seres humanos."