Sir Jackie Stewart, de 85 anos, criou a fundação Race Against Dementia após a esposa, Helen, ter sido diagnosticada com demência frontotemporal em 2014, desenvolvendo com o tempo sintomas e mudanças de comportamento aterradoras, que faz com que a lenda da Fórmula 1 viva há mais de uma década no meio de um doloroso drama familiar.

Em conversa com a BBC, Jackie Stewart recordou, com emoção o momento em que Helen se esqueceu de quem ele era: «Era hora do jantar, ela levantou-se, eu estava sentado ao lado dela e ela disse: 'Onde está o Jackie?'. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Um mau pressentimento apoderou-se de mim».

O ex-piloto diz que a mente da esposa está num «novo mundo».

As mudanças que observou foram o principal motivo que o levou a fundar a Race Against Dementia, que financia um novo teste sanguíneo desenvolvido pela Universidade de Cambridge. O estudo espera detetar sinais de demência frontotemporal décadas antes do seu desenvolvimento.

A evolução da doença

Sir Jackie Stewart, que nasceu na Escócia, em Milton, relatou como a sua esposa – casados desde 1962 – foi diagnosticada com demência depois de perder o controlo do carro, que capotou.

Ninguém ficou ferido, garantiu, mas o incidente levou a uma «consciencialização de que algo não estava bem». Uma década depois, Sir Jackie salientou que a evolução da doença foi de tal ordem que Helen já não consegue andar e acabou por se tornar agressiva.

«Sei que a Helen não tem intenção quando se vira repentinamente e me bate a mim ou às enfermeiras que cuidam dela», disse à mesma fonte. «Ela pode bater em alguém com bastante frequência, usa uma linguagem que nunca usou na vida e eu digo-lhe: 'Querida, querida, não digas isso'. Ela responde: 'Porquê?'. Isto acontece geralmente depois das 17h.»

O sundowning é uma característica comum da demência, quando o cérebro fica cansado e a pessoa fica mais agitada ao final do dia.

Uma doença real

Para diminuir os riscos, Sir Jackie mudou-se para uma casa na Suíça, sem escadas ou obstáculos, e contratou enfermeiras e neurocirurgiões especializados.

Ele está ciente do privilégio que a sua carreira na Fórmula 1 lhe proporcionou, sabendo que para muitas famílias a única opção são os lares. «Visito lares para pessoas com demência e saio a chorar porque as pessoas estão completamente perdidas», confessou.

Uma em cada três pessoas desenvolverá demência ao longo da vida, o que Sir Jackie Stewart descreve como um «desastre». Para o tricampeão mundial, compreender o cérebro é um desafio «maior do que chegar à Lua».

Os progressos na investigação têm sido «muito lentos», os médicos «têm falhado até agora» e doenças como o cancro são prioritárias, acrescentou.

A esperança pela cura

A sua organização de beneficência financia agora o desenvolvimento de um novo teste sanguíneo para detetar sinais de demência frontotemporal entre 10 a 20 anos antes de ser diagnosticada.

Sir Jackie afirmou que a Fórmula 1 trouxe fundos e perspicácia empresarial para a investigação na área da saúde. A mais recente angariação de fundos foi o One Lap Challenge, antes do Grande Prémio do Bahrein.

A Dra. Maura Malpetti, investigadora principal da Universidade de Cambridge, que coordena o novo teste sanguíneo, espera que organizações de beneficência como a Race Against Dementia possam transformar a investigação, ajudando-a a progredir mais rapidamente.

Por fim, Sir Jackie acrescentou que espera que uma cura possa ser encontrada durante a sua vida. «Quero que isto aconteça tanto quanto quis ser campeão mundial», confessou: «É extremamente importante.»