

O Sporting não foi além de um empate com o Braga por 1-1, num encontro realizado na noite de segunda-feira, relativo à vigésima oitava jornada da Primeira Liga. Se aos 3’, após o golo anulado a Viktor Gyokeres, se esperava um triunfo tranquilo por parte da equipa da casa, a pouco e pouco essa sensação foi mudando, apesar do claro domínio dos leões no primeiro tempo. O avançado sueco fez o gosto ao pé através de um livre direto, aos 15’, o que levou Alvalade à euforia generalizada.
No entanto, como tem sido habitual nas formações treinadas por Rui Borges, o conservadorismo passou a ser o mote para o Sporting. O Braga criou muito pouco, com Uros Racic e Rodrigo Zalazar como destaques positivos, mas acabou por assumir parte do controlo do jogo, conseguindo ter a bola no meio campo do adversário em várias ocasiões, sem uma grande pressão por parte da turma da casa. Afonso Patrão acabou por se estrear a marcar pela equipa A aos 16’, gelando as bancadas, que temiam que o tal golo acabasse por acontecer.
Parte deste resultado é mérito de Carlos Carvalhal e do Braga, mas o mesmo é consequência do mau jogo que o Sporting fez. Viktor Gyokeres é o único que merece verdadeiramente uma nota positiva. Fez golo, criou espaços, procurou oportunidades. Geovany Quenda e Geny Catamo procuraram desequilíbrios, mas o resto da equipa esteve vários furos abaixo. Francisco Trincão continua num péssimo momento de forma, desperdiçando várias oportunidades de marcar à antiga equipa. Zeno Debast passou ao lado do encontro, mostrando-se inútil neste tipo de jogos, com Morten Hjulmand ao seu lado. Eduardo Quaresma tem algumas culpas no lance do golo sofrido. Rui Borges tem poucas opções para o meio campo, o que lhe ‘dá uma desculpa’ para este encontro, mas o Sporting transforma-se (não é de hoje) numa equipa previsível com os dois internacionais no meio campo. Carlos Carvalhal sabia de antemão que a maioria do jogo do Sporting passaria pelas bandas, com os desiquilibradores a assumirem o protagonismo. Jogo interior seria muito pouco (foi praticamente inexistente). O Braga possui um plantel de qualidade e tinha armas mais do que suficientes para travar o Sporting com bola, focado nas transições. Victor Gómez e Gabri Martínez demonstraram algumas dificuldades no começo da partida, mas acabaram por entrar no ritmo.

Rui Borges nunca procurou intensamente que a sua equipa marcasse o segundo golo, de maneira a ‘matar’ o encontro e esse foi o pecado capital deste jogo. Não é a primeira vez que um deslize deste estilo acontece, já que contra o AVS SAD e FC Porto as situações foram semelhantes. A expressão ‘O Sporting não sabe estar a ganhar’ faz cada vez mais sentido e conta com vários motivos para ser usada.
A entrada de Conrad Harder em campo foi tardia (não ficaram bem as declarações de Rui Borges após o encontro, criticando o dinamarquês quando o mesmo soma 33 minutos de jogo nos últimos seis jogos de leão ao peito, no seu dia de anos) e não surtiu grande efeito. O Sporting ganhou um ponto, mas perdeu dois que possivelmente vão fazer falta daqui a umas semanas.
O clube conhece pela primeira vez o segundo lugar da tabela classificativa com a atual equipa técnica, permitindo uma ultrapassagem do Benfica, que vem com a moral em alta, depois de uma vitória clara sobre o FC Porto no Dragão. Mesmo que o Sporting esteja numa série positiva de resultados, esta escorregadela pode muito bem vir a ser fatal. Os efeitos deste empate serão vistos nos Açores, frente ao Santa Clara, onde é obrigatório dar uma resposta imediata, contra um adversário que promete não ser fácil.

Os verde e brancos continuam a apenas depender de si para se sagrarem bicampeões. A diferença é que passa a ser obrigatória uma vitória em todas as partidas, nomeadamente na Luz, encontro marcado para o dia 10 de maio, a partir das 18 horas. São poucas as dúvidas de que esse jogo será fundamental para o futuro a curto prazo da equipa, podendo mexer com o próximo mercado de transferências (é diferente ter o dinheiro da presença na fase principal da Champions League do que não ter) e até com o futuro de Rui Borges, que é cada vez mais criticado pelos adeptos (embora o seu discurso amigável, com nenhuma soberba, referindo sempre que a ‘malta’ está unida pelo mesmo objetivo). O português tem créditos perante Frederico Varandas, mas a sua situação já foi mais confortável.
Já o Braga de Carlos Carvalhal não foi superior ao Sporting, mas conseguiu alcançar o pódio da Primeira Liga, ultrapassando o FC Porto de Martín Anselmi, que vive um momento terrível. O ponto, a subida de um posto e a aposta na formação, apagam da memória da maioria dos adeptos a exibição de um nível pobre, mas pedia-se aos minhotos algo mais, especialmente num campeonato que tem sido tão irregular por parte dos eternos candidatos ao título. Há mérito da equipa em ter chegado ao terceiro posto? Claro que sim, mas o demérito dos outros também tem que entrar nestas contas e com uma percentagem bem elevada. À semelhança do que ocorreu precisamente neste jogo. A luta pelo título e pelo terceiro posto promete estar ao rubro até à última jornada, com todas as equipas a contarem com encontros de um grau de dificuldade (pelo menos no nível teórico) elevado.

Bola na Rede na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: Já se sabe que o Sporting constrói muito pelos corredores, sobretudo o esquerdo. Como é que preparou a estratégia ofensiva para desbloquear a estrutura do Braga e taticamente onde tem sentido mais dificuldades nesse aspeto?
Rui Borges: Nos primeiros 30 minutos foi claro o que pensamos em termos estratégicos, defensivamente e ofensivamente. Fomos claramente superiores. A equipa estava ligada a 100%, a nível de intensidade, qualidade de jogo, perceber os espaços e alguns comportamentos do Braga. Sabíamos que o Braga ia entrar numa linha de 5 com o Gabri [Martínez] e sabíamos onde tínhamos de ir buscar os espaços para conseguirmos encaixar e entrar no último terço. Sentimos dificuldades físicos para continuar a ser pressionantes e deixámos o Braga crescer um pouco mais com bola nos últimos 15 minutos. Começámos a tomar más decisões, perdemos bolas muito rápida mesmo sem grande pressão do adversário. Tinha muito a ver com o cansaço difícil e mental naquele momento do jogo. No que era estratégico, top. O espaço estava lá, principalmente à nossa esquerda. À direita, o Quenda dava-nos o 1×1 na largura. Dificuldades? Não senti grandes dificuldades, a equipa esteve bem e tem a ver um pouco com a diferença de ter Morita, ter Pote. São jogadores que dão clareza com bola, gerem momentos de jogo. Não os temos. Às vezes, não há grandes coisas a fazer. Refrescámos com o Edu [Felicíssimo], é um miúdo que está em crescimento, mas não dá essa capacidade. O Zeno [Debast] também, de perceber timings de jogo, acelerar, quebrar. Não é. Às vezes, em termos táticos, torna-se a dificuldade de não ter esses médios tão claros com bola, sobretudo no processo ofensivo. Têm sido muito competentes.
Bola na Rede: O Braga entrou com o Víctor Gómez na lateral direita e o Gabri Martinez a médio direito, a fechar numa linha de 5. Pergunto se esperava uma entrada do Sporting tão forte e com tanta insistência pelo corredor e como procurou proteger-se nesse aspeto.
Carlos Carvalhal: Esperava uma entrada forte do Sporting, mas acho que tivemos umas dificuldades no passe na parte inicial. Depois houve uma altura em que que assentámos, rodámos mais o jogo, ficámos mais com a bola e fizemos um ou outro remate à baliza, a longa distância. Não fomos surpreendidos. Foi uma entrada forte do Sporting, sim. Cometemos alguns erros de passe e permitimos algumas transições ao Sporting, eles são muito fortes a transitar ofensivamente. Ainda assim, creio que fomos dando conta do recado. Fiquei muito agradado com o comportamento tático de toda a equipa, assim como do Victor Gómez e do Gabri Martínez. Sabemos que não é fácil jogar contra a capacidade ofensiva dos jogadores do Sporting, principalmente dos jogadores dos corredores e do Viktor Gyokeres.