Entre os próximos dias 28 de agosto e 8 de setembro realizam-se os Jogos Paralímpicos de Paris 2024. Vão ser mais de 4 mil atletas dos quatro cantos do mundo a competir em 22 modalidades diferentes. Mas a edição deste ano conta com uma estreia - a participação da primeira atleta transgénero. Chama-se Valentina Petrillo, sofre de deficiência visual e vai representar Itália nas provas de atletismo feminino de 200 e 400 metros.
A velocista de 50 anos foi diagnosticada com síndrome de Stargardt aos 14 anos. Esta doença manifesta-se através da "atrofia macular bilateral, comprometimento da visão central e flecks proeminentes no pólo posterior da retina", de acordo com um estudo publicado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Numa entrevista à BBC, a atleta confessou que aos nove anos já sabia que se identificava com uma mulher. Mas foi apenas em 2019 que Valentina, que nasceu como Fabrizio, iniciou o processo de transição de género através de terapia hormonal.
"O meu metabolismo mudou. Já não sou mais a pessoa energética que era. Nos primeiros meses da transição, engordei 10 kg, não consigo comer como antes, fiquei anémica, os valores da minha hemoglobina estão baixos, estou sempre com frio, não tenho a mesma força física, o meu sono não é mais o mesmo e tenho alterações de humor", confessou à BBC .
Os efeitos secundários da transição fizeram com que o desempenho e rendimento físico de Valentina Petrillo deixasse de ser o mesmo. Mas a atleta nunca desistiu do seu objetivo final - ser feliz.
"Como desportista, aceitar que já não seremos tão rápidos como antes é difícil. Mas eu tive que aceitar esse compromisso, porque é um compromisso pela minha felicidade".
Este duro e longo processo não a impediu de conquistar duas medalhas de bronze no Campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico do ano passado. Antes da transição, já tinha arrecadado 11 títulos nacionais pela Itália ao competir na categoria masculina.
Agora cumpre o sonho de representar o seu país na competição desportiva mais importante do mundo, depois de ter falhado o apuramento para os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021.
"O valor histórico de ser a primeira mulher transgénero a competir nos Jogos Paralímpicos é um símbolo importante de inclusão", disse à BBC Sport.