O Vitória é de Guimarães e quem ganha é Portugal. Os nove triunfos consecutivos do clube vimaranense nesta campanha são recorde nacional na Europa e ajuda preciosa a um país, leia-se Liga, necessitada de pontos num ranking UEFA que define muita coisa, dinheiro incluído.

Essa é, afinal, a grande notícia de ontem no D. Afonso Henriques, onde houve uma pequena revolução. E estas, independentemente do tamanho, trazem sempre consigo algum sofrimento, nesta ocasião provocado por culpa própria de quem mandava em casa.

O jogo decorria no relvado, mas era fora dele que estava a melhor imagem para aquilo que se passava no D. Afonso Henriques. Rui Borges era um homem agitado na linha lateral. O treinador dos vimaranenses passou muito tempo a gritar para dentro do campo e por aí se explicava que o Vitória estava aquém do que o treinador tinha idealizado, com as seis mudanças no onze inicial, em relação ao jogo anterior.

As opções do técnico para o onze inicial não explicavam tudo. O Mladá Boleslav tentou equilibrar jogo, com uma linha de três na defesa e a povoar o meio-campo. O Vitória teve dificuldades em quebrar linhas contrárias e, por isso, tentou ir à volta: abrir bola nos flancos, para que Kaio César de um lado e Arcanjo do outro pudessem colocar habilidade no jogo e desequilibrar.

Os vimaranenses tentaram pressionar em 4x4x2, com João Mendes, o da camisola 17, a subir no terreno e a deixar a linha de meio-campo entregue aos Silvas, Tiago e Manu. Foi percetível que Rui Borges queria melhorar as coisas desde a linha lateral, e, enquanto o Vitória rematava sem grande perigo à baliza de Kral – Arcanjo, Kaio César e Ramirez tentaram entre os 14 e os 29 minutos – os checos pouco respondiam. O remate à trave de Tiago Silva e a cabeçada de Krali a obrigar Bruno Varela a defesa apertada deram alerta de golo num jogo em que isso parecia ainda longe de suceder. Mas aconteceu, graças a uma penalidade cometida sobre Kaio César e convertida por Tiago Silva. O médio foi, mais uma vez, perfeito na execução e ao intervalo podia sublinhar-se: o Vitória demorou a desequilibrar, mas quando chegou ao golo já estava em controlo e, assim, o 1-0 justificava-se. 

E mesmo que alguém duvidasse da ideia anterior, o início do segundo tempo tratou de as desfazer. Os vimaranenses entraram bem, Ramirez podia ter feito o 2-0 e enquanto os checos não desistiam de tentar qualquer coisa e lançavam um ponta de lança para a lide, o Vitória confirmava que não era apenas no papel que era superior.

Ainda que longe de uma exibição para a lembrança, a equipa estava segura do que fazia e o 2-0 de Rivas foi a lógica do que sucedia no duelo de forças. O nono triunfo pareceu garantido ali, mas a complacência por vezes surge quando as coisas parecem feitas. Claramente não só não estavam, como o Vitória iria sofrer: um golo numa distração difícil de aceitar, mas também nos nervos, pois o Mladá Boleslav acreditou que podia garantir o primeiro ponto na Liga Conferência e atirou-se com o que tinha à baliza de Bruno Varela. Aos 81 minutos, esteve mesmo perto de empatar.

Rui Borges foi ao banco buscar alguns nomes – Nélson Oliveira e Gustavo Silva – para que o Vitória voltasse a ver a baliza de Kral e o 3-1 esteve perto, num jogo com sofrimento a mais para o que se antevia, ainda para mais autoinfligido, e um alerta para que a mínima distração pode redundar em dissabor, seja nesta Europa de sonho que o Vitória está a fazer, seja numa outra noite ou tarde qualquer.De resto, nove jogos europeus seguidos a vencer. Não é para todos, pois não, em Portugal é só mesmo para o Vitória.