
Com a inflação em desaceleração contínua e as preocupações de depressão económica a ganhar força na Europa, no meio de um abrandamento económico global, tudo indica que o Banco Central Europeu deverá, amanhã, voltar a cortar nos juros. Serão menos 25 pontos-base nas taxas, um corte semelhante ao que a organização liderada por Christine Lagarde fez há um mês, antecipa a equipa de economistas especialistas do BNP Paribas, que acredita que a Euribor chegará a junho nos 2%. Depois disso? Há apenas nuvens de incerteza, sopradas dos Estados Unidos, com as tarifas de Trump, e da China, com as contra-tarifas em retaliação, numa guerra comercial que ainda está no início.
A expectativa de nova regressão nas taxas do banco central, inicialmente moderada, transformou-se em consenso quase inevitável entre os analistas, face aos riscos crescentes de recessão global. Até há pouco mais de uma semana, o Conselho do BCE estava dividido entre manter as taxas e avançar com novo alívio, com as preocupações de subida da despesa na Europa e potenciais efeitos inflacionistas das tarifas a alimentar os argumentos daqueles que preferiam manter os juros nos atuais 2,5%, mesmo poque também o crédito bancário dava sinais de recuperação. Mas a escalada nas tensões comerciais e uma deterioração das condições financeiras na zona euro, mesmo com a suspensão que Donald Trump decretou para as tarifas a aplicar para a Europa, adiadas agora para 14 de julho, alterou radicalmente o panorama.
Com os riscos de desaceleração global cada vez mais prementes, os economistas do BNP Paribas explicam que os receios em torno de "uma nova vaga de inflação" foram deixados para segundo plano, conforme cresce a incerteza criada pelos novos impostos alfandegários para produtos que chegam aos EUA, cuja escala deixou os mercados em choque, desencadeando uma reavaliação das condições económicas. O "choque de incerteza" foi já "suficientemente forte para justificar uma ação preventiva", leia-se, nova descida dos juros já amanhã, antecipam os especialistas.
Com o Eurostat a confirmar hoje que a inflação na zona euro abrandou para 2,2% em março, Lagarde fica com mais argumentos para voltar a mexer nos juros já, de forma a aliviar a pressão sobre as economias europeias, sobretudo as maiores, ensombradas pela recessão que as tarifas viera agravar — com impacto brutal na produção e exportações dos maiores países, como França e Alemanha, mas também dos seus clientes, como Portugal. Recorde-se que Berlim confirmou já o segundo ano consecutivo de recuo, registando em 2024 uma nova contração, agora de 0,2%, e França conseguiu escapar à recessão mas já recuou 0,2% no último trimestre do ano. A economia da zona euro cresceu 0,9% em 2024 e a da União Europeia (UE) 1,0%, ainda antes de estalar a Guerra Comercial.
Com a inflação subjacente em mínimos de quase três anos, com especial destaque para a desaceleração nos serviços, e a combinação entre a valorização do euro, a queda nos preços da energia e a estabilidade das expectativas de inflação, os analistas do BNP Paribas antecipam que o limite dos 2% pode ser conseguido mais cedo do que o BCE previa em março. O relatório alerta, contudo, que a trajetória para lá de junho permanece incerta. "Embora se espere que o BCE reduza a taxa para 2% até ao verão, a continuidade ou reversão desse caminho dependerá da evolução das tarifas e da resposta política europeia. Caso as tensões comerciais se agravem e se confirme uma recessão, poderão ser necessários cortes mais agressivos, mas uma resolução rápida dos conflitos e medidas de apoio robustas poderão travar o ciclo de cortes."