Após um primeiro ano desafiante, em que pagou em indemnizações o dobro do valor dos prémios arrecadados — especialmente no segmento do seguro agrícola —, a Viva Seguros ‘deu a volta por cima’ em 2024, com um lucro estimado em cerca de 1 100 milhões de kwanzas (cerca de 1,1 milhões de dólares), representando uma variação positiva de 193%.

Os resultados foram apresentados, recentemente, durante a 2ª edição do “Matabicho com o CEO da Viva Seguros”, evento lançado em 2024 com o intuito de promover o diálogo com a imprensa sobre estratégias, visões e dados relevantes do sector segurador.

Durante o encontro, que reuniu jornalistas de vários órgãos de comunicação, a conversa focou-se em três pilares: visão, estratégia e resultados da Viva Seguros.

Segundo Seomora Cristo, administradora financeira da empresa, os prémios líquidos emitidos em 2024 atingiram cerca de 29 304 milhões de kwanzas (pouco mais de 22 milhões de dólares) — um crescimento de 563% face ao ano anterior —, impulsionando significativamente a receita, que terá crescido quase seis vezes mais.

“Em 2023, o nosso primeiro ano e também o de maior investimento, encerrámos com um prejuízo de 1 184 milhões de kwanzas (1,2 milhões de dólares). Em 2024, conseguimos mitigar cerca de 93% desse impacto negativo”, explicou Seomora.

De recordar que no exercício de 2023/2024, a Viva Seguros arrecadou 650 milhões de kwanzas (cerca de 708 mil dólares) em prémios, mas pagou 1 250 milhões (1,3 milhões de dólares) em indemnizações no seguro agrícola. O prejuízo deveu-se sobretudo a eventos climáticos extremos que afectaram 44 mil dos 100 mil agricultores segurados, que no conjunto trabalharam 50 mil hectares, sendo que em alguns municípios a taxa de sinistralidade chegou aos 100%.

A recuperação financeira foi sustentada pela diversificação dos produtos, com os seguros de Saúde a representarem 44% da carteira, seguidos pelo Multirriscos (22%), Petroquímica (8%), Automóvel (4%) e Agro (3%). “Isso demonstra a confiança do mercado na Viva Seguros, refletindo a nossa credibilidade e transparência”, destacou a administradora.

A empresa reconhece que o crescimento no ramo Saúde foi impulsionado pela conquista de um contrato com a Assembleia Nacional [de Angola]. “Participámos no primeiro concurso e perdemos. No segundo, ficámos entre os dois finalistas. A nossa proposta não foi a mais barata, mas conseguimos demonstrar o valor agregado. Fizemos o pitch e vencemos”, contou um membro do Conselho de Administração.

Além da Assembleia Nacional, a seguradora afirma estar actualmente a assegurar fábricas avaliadas em cerca de 500 milhões de dólares, graças ao desempenho da sua equipa comercial.

“Admitimos que a experiência financeira inicial não foi positiva, mas o impacto social foi extremamente relevante.”

Em 2024, a Viva Seguros registou 1 500 sinistros, com um custo de 2 616 milhões de kwanzas (2,8 milhões de dólares) — um aumento de 66%, alinhado com o crescimento dos prémios. A taxa de sinistralidade manteve-se dentro da média do mercado, em torno dos 14%. A margem técnica subiu 1 481%, atingindo 7 429 milhões de kwanzas. “A nossa estrutura de proveitos técnicos absorveu os custos e impactou positivamente os resultados”, reforçou Seomora.

Os activos da mais nova seguradora do mercado angolano cresceram para 30 263 milhões de kwanzas (32,9 milhões de dólares), um aumento de 322%. Os capitais próprios subiram 121%, para 2 338 milhões de kwanzas (2,5 milhões de dólares), enquanto os custos operacionais ascenderam a 5 305 milhões de kwanzas (5,7 milhões de dólares), uma variação de 152% em relação ao ano anterior.

“A estrutura de custos da Viva cresceu, contudo, em linha com a nossa estratégia. Investimos fortemente em formação, pois nos preocupamos com a qualidade dos nossos quadros, com o nível de excelência dos nossos serviços e também muito voltados para a responsabilidade social, naquilo que é a literacia dos seguros. Investimos forte também em tecnologia, incluindo soluções como a inteligência artificial, para garantir respostas à altura das exigências do mercado”, afirmou a gestora.

Por sua vez, o CEO da empresa, Damien Veerapatren, considerou 2024 “um ano de conquistas e desafios”. A seguradora emitiu 130 mil apólices — média de 11 mil por mês — e processou cerca de 125 sinistros mensais, com o apoio de 62 colaboradores, cuja média de idade é de 29 anos.

Durante o evento, Veerapatren destacou que a Viva Seguros oferece actualmente mais de 35 soluções adaptadas às necessidades das famílias e empresas angolanas. “Tenho orgulho deste  caminho e o nosso compromisso é consolidar este crescimento. E, para isso, apostamos na valorização das pessoas. Sem elas, nada acontece; com elas, tudo é possível”, afirmou.

O gestor classificou como sendo “fundamental” investir-se na formação para permitir que se tenha quadros capazes de fazer face aos desafios. “A caminho de dois anos no mercado, esta trajectora me dá muito orgulho”, enfatizou.

A Viva iniciou as suas actividades a 29 de Dezembro de 2022, com a ambição de ser uma referência no sector segurador angolano, comprometida com a visão de “assegurar o futuro com a protecção de hoje”.

O seguro agrícola, destaque na primeira edição do “Matabicho”, foi uma das grandes apostas da empresa. Actualmente, a Viva assegura cerca de 100 mil agricultores, em 17 municípios de sete províncias angolanas. “Desde o início suportámos a sinistralidade, o que reforça a importância desta solução para o mercado”, disse Veerapatren, acrescentando que a empresa quer expandir o produto, agora abrangendo culturas como feijão, trigo, arroz, algodão e soja, além do milho.

Até Agosto de 2024, todos os sinistros registados foram pagos, num total de 1 200 milhões de kwanzas, com apoio de resseguradoras internacionais.

“Admitimos que a experiência financeira inicial [do primeiro ano de actividade] não foi positiva, mas o impacto social foi extremamente relevante”, reforçou o CEO, dando nota que, em Dezembro, a empresa lançou um segundo produto paramétrico: o seguro baseado em índice climático.

O desafio agora passa também por consolidar as conquistas já alcançadas, apostar na inovação e foco no cliente, um caminho que considera fundamentalmente a formação de quadros para fazer face as ambições da seguradora.

Mais próximo dos clientes

O homem que lidera a Viva Seguros adiantou que a estratégia comercial da companhia se foca em estar mais próxima dos seus clientes. Inclui ainda a expansão da rede por meio de parcerias com bancos, que está a garantir a presença da seguradora em todo o país, por via das agências bancárias. Em Luanda, província em que a Viva está sedeada, a empresa tem já dois pontos de vendas e um terceiro está em vias de abertura.

Outro canal que está a ser privilegiado nesta estratégia são os corretores, que o CEO da Viva Seguros classificou como uma “extensão do cliente”, com os quais estão já assinados mais de 25 acordos.

Em Angola, a contribuição do sector dos seguros para o Produto Interno Bruto (PIB) ainda é baixa, em torno de 0,6%, embora tenha mostrado sinais de ligeiro crescimento em 2023, ano em que atingiu os 0,8%, como mostram dados da ARSEG – Agência de Regulação de Seguros do país, consultados pela FORBES ÁFRICA LUSÓFONA. A actual taxa de penetração continua longe dos objectivos do regulador, que anseia atingir a média da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), estimada em 3%.

Para Damien, fazer crescer o sector é uma responsabilidade colectiva, que envolver cada seguradora, o regulador e demais actores. “É preciso quebrar o paradigma de que seguro é custo. Seguro é investimento no futuro. Temos de comunicar isso de forma simples às pessoas”, afirmou.

Sobre o futuro, o presidente da comissão executiva diz acreditar que o mercado passará por uma fase de consolidação. “Os operadores pequenos terão dificuldade em sobreviver, com as novas leis. Entretanto, a perspectiva é que a companhia continue a crescer organicamente. “Quanto ao crescimento por aquisição, ainda não faz parte dos nossos planos”, concluiu.