A Impresa, empresa proprietária da SIC e do Expresso, encerrou o exercício de 2024 com um resultado líquido negativo de 66,2 milhões de euros, substancialmente acima do prejuízo de 2 milhões de euros registado no ano anterior, um agravamento explicado na sua maior parte por uma perda por imparidade de 60,7 milhões de euros relacionada com os segmentos da televisão e da subsidiária Infoportugal.

Numa base recorrente, excluindo os efeitos extraordinários, como essa imparidade, o resultado líquido ajustado foi negativo em 5,5 milhões de euros, comparando com o prejuízo de 2 milhões de euros de 2023.

O ano fechou com receitas totais de 182,3 milhões de euros, mais 0,2% do que no ano anterior, tendo os custos operacionais recuado 1,6%, para 163,8 milhões de euros, informou a Impresa em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Globalmente, o EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) subiu 19,5%, para 18,4 milhões de euros, com a margem também a melhorar, de 8,5% para 10,1%. Contudo, em termos recorrentes o EBITDA encolheu 16,9%, para 15,6 milhões de euros, com a margem a recuar também de 10,3% para 8,6%.

No comunicado de resultados a Impresa explica que “face à evolução de determinadas atividades nos segmentos de televisão e da Infoportugal, bem como à tendência perspetivada dos principais mercados onde estas se enquadram, foram revistos os pressupostos-chave utilizados nos testes de imparidade destes negócios”, o que levou à já referida perda por imparidade de 60,7 milhões de euros, que, sublinha a empresa, não tem impacto na atividade operacional do grupo nem compromete a sua tesouraria.

Na prática, a Impresa fez uma reavaliação em baixa do valor da SIC (e em menor grau da Infoportugal), tendo em conta os resultados do último triénio e as tendências do mercado televisivo, passando a contabilizar aquele ativo por um valor menor do que vinha sendo registado até agora.

“Fazemos todos os anos testes de imparidade na SIC, no Expresso e na InfoPortugal, com entidades externas e auditadas, e concluiu-se que tendo em conta o triénio pós-Covid, a mudança de hábitos de consumo e a previsão de instabilidade nas receitas televisivas para o futuro, era necessário um ajustamento do goodwill [que reflete sobretudo o valor de ativos intangíveis] da SIC”, explicou ao Expresso o presidente executivo da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, notando que o último ajustamento deste género que tinha sido feito na SIC datava de 2011.

Além disso, na sequência da evolução dos processos judiciais em curso intentados contra o grupo e da aferição dos respetivos riscos e responsabilidades, o valor das provisões foi reforçado em 5,3 milhões de euros.

No segmento de televisão (que inclui os canais SIC e a Opto) as receitas subiram 0,9%, para 157,5 milhões de euros, enquanto o EBITDA avançou 9,9%, para 18,2 milhões de euros (embora numa base recorrente, ajustada de custos de reestruturação, tenha caído 19,7%, para 15,2 milhões).

No segmento “publishing” (que agrega as marcas Expresso, Blitz, Tribuna e Boa Cama Boa Mesa) as receitas em 2024 recuaram 5,1%, para 23,4 milhões de euros, enquanto os custos operacionais baixaram 6,3%, para 21,5 milhões. O EBITDA subiu 11,5%, para 2 milhões de euros, embora numa base recorrente tenha descido 11,7%, para 2,2 milhões de euros.

Dívida volta a subir e Impresa estuda venda de edifício

Em termos de endividamento, a Impresa voltou a registar um agravamento da dívida líquida remunerada. Depois de vários anos de trajetória descendente (a dívida estava em 259 milhões de euros em 2008 e chegou a 2022 nos 107 milhões de euros), a empresa viu em 2023 a sua dívida subir para 115 milhões de euros e em 2024 houve nova subida, para 131 milhões (mais 13%).

Francisco Pedro Balsemão contextualiza a dificuldade de redução do endividamento com os desafios operacionais que a Impresa enfrentou a partir de 2022, primeiro com um ataque informático (que custou cerca de 1 milhão de euros), depois com os efeitos da guerra na Ucrânia (ampliando os custos com reportagem, por exemplo) e ainda com o disparo da inflação (encarecendo várias rubricas de custos). A somar a isso, o grupo enfrentou um agravamento do custo médio da sua dívida em 2023. “Tivemos um triénio francamente negativo”, lamenta o CEO da Impresa.

A Impresa diz que “continua empenhada em avaliar alternativas para o seu nível de endividamento”, o que poderá incluir “a possibilidade de realizar uma operação de venda e subsequente arrendamento das suas instalações em Paço de Arcos”. De acordo com Francisco Pedro Balsemão, não há ainda nenhum calendário para a realização desse negócio, estando a Impresa apenas a estudar a operação e a existência de interessados.

No comunicado de resultados a administração liderada por Francisco Pedro Balsemão sublinha que o corrente ano, de 2025, marca o arranque de um novo “ciclo estratégico”, até 2028, que visa uma “otimização das operações, através de uma maior eficiência tecnológica e da estrutura organizacional”, bem como um plano para reduzir a base de custos em 10% até 2028, além de adequar a estrutura de financiamento a “novos objetivos e desafios”.

“O grupo tem já em curso um conjunto de iniciativas estratégicas para alcançar uma melhoria sustentada da margem operacional”, pode ler-se no comunicado desta quinta-feira. Isso passará pela “simplificação e otimização dos processos internos”, bem como a “diminuição dos custos de produção de conteúdos” e a “redução permanente em despesas gerais”.

“O plano para o futuro é virar a página”, enfatiza o CEO da Impresa, notando que a redução de custos no grupo deverá abranger várias linhas de encargos, incluindo os custos com pessoal, onde também “há um objetivo de poupança”, mas com a administração a dar preferência a processos de saídas voluntárias, nomeadamente com reformas antecipadas.