Em declarações aos jornalistas à margem de uma visita a um jardim de infância na Pontinha, em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado sobre o facto de o Chega ter anunciado que se irá abster na votação da proposta do PS para aumentar as pensões em 1,25 pontos percentuais, permitindo a sua aprovação, caso os partidos da esquerda votem a favor.
"Tudo aquilo que venha acima daquilo que a lei obriga, é sempre bem-vindo. Portanto, não é por nós que isso será inviabilizado", respondeu Paulo Raimundo.
No entanto, o secretário-geral comunista salientou que a primeira proposta sobre aumento extraordinário das pensões que irá ser votada na especialidade vai ser a do PCP, que propõe um aumento de 5%, com um mínimo de 70 euros para cada pensionista.
"E a pergunta que se tem de colocar hoje, até em função da própria afirmação do Chega - daquilo que eu ouvi, afirmou que ia abster-se em todas as propostas que visassem o aumento das pensões - é o que é que o PS vai fazer, perante a nossa proposta, que é a primeira a ser votada?", disse.
Paulo Raimundo salientou que, se o PS acompanhar a proposta do PCP, no atual enquadramento parlamentar e com o voto do Chega, ela será aprovada.
Confrontado com o facto de o Chega ter dito que só aprovaria propostas que fossem "orçamentalmente responsáveis e que garantam o equilíbrio e a sustentabilidade das contas públicas", Paulo Raimundo defendeu que é o caso da do PCP.
"A nossa proposta prevê, grosso modo, um aumento, face àquilo que está hoje em vigor, de 1.800 milhões de euros. Está dentro da margem orçamental. Ou melhor, é preciso que o Chega vote a outra nossa proposta, que é acabar com os benefícios fiscais", disse, frisando os benefícios fiscais custam atualmente ao Estado precisamente 1.800 milhões de euros.
Nestas declarações aos jornalistas, Raimundo foi ainda questionado se considera que o Governo se deve retratar após as declarações do ministro da Presidência, António Leitão Amaro, que aparenta associar a taxa de alcoolémia dos maquinistas à sinistralidade ferroviária, o que o próprio entretanto já veio rejeitar.
"É claro", respondeu Raimundo, que disse que lhe custa que haja responsáveis políticos em Portugal, e em particular o ministro das Infraestruturas, que não saibam "as regras e as normas rígidas pelas quais se regem os seus trabalhadores".
"Este Governo é muito ágil na propaganda, no empurrar para a frente, utilizar cada problema para o negócio do privado. Mas acho que foi um bocadinho para lá disso e, se o Governo não se retrata, também revela bem a intenção de fundo da sua afirmação", disse.
O secretário-geral do PCP reforçou que os maquinistas da CP estão sujeitos a regras e controles "muito intensos" e afirmou que o ministro das Infraestruturas, "para além de servir os interesses da Vinci", também "tem a obrigação de conhecer como é que funcionam as empresas públicas de transportes, nomeadamente a CP".
Entretanto, esta quarta-feira, o PCP enviou uma pergunta a Miguel Pinto Luz, através do parlamento, em que considera que as declarações do ministro da Presidência são "totalmente lamentáveis".
No documento dirigido a Miguel Pinto Luz, o PCP questiona se o Governo "vai pedir desculpas aos maquinistas e a todos os trabalhadores ferroviários insultados".