Portugal regressou esta quinta-feira ao mercado de dívida com uma operação sindicada. A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), dirigida por Miguel Martín (na foto), pretende colocar 4 mil milhões de euros através de uma nova linha de Obrigações do Tesouro (OT) no prazo de referência a 10 anos.

A operação está a decorrer através da sindicação de um grupo de bancos. A esta hora, segundo Ricardo Marques, da consultora Informação de Mercados Financeiros (IMF), “o spread foi fixado a mid swap + 55 pontos-base. Como o swap a 10 anos está a cotar pelos 2,52%, tal significa que nesta altura a taxa da emissão estará nos 3,07%”.

Neste nível de juros, a operação está a decorrer com um juro médio de emissão abaixo do registado na terça-feira na Bélgica, que foi o primeiro país do euro a lançar uma operação sindicada em 2025. A Agence Fédérale de la Dette belga colocou na terça-feira 7 mil milhões de euros no lançamento de uma nova linha de obrigações a 10 anos, a vencer em junho de 2035, tendo pago um juro médio de 3,141%. A procura foi recorde, com os livros de ordens a registarem 89 mil milhões de euros. A Bélgica programa emitir 42 mil milhões de euros em dívida obrigacionista em 2025 e realizar três operações sindicadas, tal como Portugal. Em Itália, na quarta-feira, o Tesouro colocou 13 mil milhões de euros numa operação sindicada onde pagou 3,733% e registou uma procura quase 11 veze superior.

Segundo Ricardo Marques, "estas são as piores condições de mercado desde meados de julho de 2024, mas tal reflete a fraqueza do mercado obrigacionista europeu e não propiamente nada específico de Portugal". Segundo o especialista da IMF, “estando a Alemanha a cotar no prazo a 10 anos a valores muito semelhantes ao do mid swap, o diferencial parece favorável. Se tivermos em conta que os títulos a 10 anos de França estão a negociar nos 3,38%, podemos considerar a colocação pelo IGCP como bastante positiva”.

A Alemanha foi na quarta-feira ao mercado colocando 5 mil milhões de euros numa linha de obrigações a vencer em fevereiro de 2035. A agência alemã pagou 2,51%. Em França, a Agence France Trésor ainda não realizou uma operação sindicada para lançar uma nova referência a 10 anos, mas colocou esta quinta-feira através de leilões dívida a vencer em 2034, onde pagou 3,4%, e com maturidade em 2036, tendo pago 3,49%.

Esta primeira operação de mercado do IGCP insere-se num plano de financiamento em dívida obrigacionista de 20,5 mil milhões de euros para 2025. A Agência portuguesa também programa realizar três operações sindicadas ao longo do ano, complementadas por oito leilões obrigacionistas. Este volume de financiamento será superior ao do ano anterior.

Recorde-se que, no ano passado, o IGCP realizou duas operações sindicadas, a primeira a 4 de janeiro, colocando 4000 milhões de euros numa nova linha obrigacionista a vencer em outubro de 2034 (10 anos), e a segunda a 22 de maio, emitindo 3000 milhões numa linha a vencer em 2054 (30 anos). Na operação a 10 anos pagou um juro médio de 2,997%, abaixo da linha dos 3%.

A emissão bruta de obrigações em 2024 somou 16,1 mil milhões de euros e o aumento líquido do stock destes títulos foi de cerca de 10 mil milhões. O stock obrigacionista subiu de 154,3 mil milhões no final de 2023 para 164,3 mil milhões de euros em dezembro de 2024, segundo dados do IGCP.

Também a Eslovénia realizou uma primeira operação de sindicação para 2025. Na terça-feira. colocou mil milhões de euros a vencerem em abril de 2055 (30 anos) pagando uma taxa média de 3,548%. A procura foi duas vezes superior.