"O filme chegou num dos pontos mais altos, que é Cabo Verde. Já foi apresentado em mais de 30 festivais, em todos os continentes", mas apresentar no arquipélago, país onde foi produzido, "é uma sensação diferente, muito curiosa", afirmou Denise Fernandes.

A estreia no arquipélago decorreu entre sábado e domingo, com sessões na cidade da Praia e na ilha do Fogo, onde a longa-metragem foi filmada.

"É um momento que esperámos durante muito tempo. Estamos de coração cheio", acrescentou.

A receção do público tem sido "fantástica", com destaque para os comentários de quem se revê nas personagens, nos ambientes e nos temas abordados.

"É importante que as pessoas sintam essa ligação, porque o filme toca em realidades muito próximas das de Cabo Verde", frisou.

Com um elenco maioritariamente composto por atores não profissionais, a realizadora explicou que essa escolha representou um grande desafio.

"Fazer cinema não é um jogo. Implica muito esforço porque queremos que tudo pareça natural. Para alcançar essa naturalidade, foi necessária uma grande preparação. Ao mesmo tempo, muitos dos não-atores conseguiram transmitir momentos de genuinidade tão pura, quase como se não existisse a ficção. Foi um dos maiores desafios, mas também a parte mais enriquecedora do processo", disse.

O filme é uma coprodução entre Cabo Verde, Portugal e Suíça, com o apoio do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, da Embaixada de Portugal em Cabo Verde e do Batalha Centro de Cinema.

A realização foi uma oportunidade para reforçar a importância das produções em Cabo Verde.

"Não há muitas produções no país, e foi importante dar ao filme uma base sólida, encontrar uma rede de profissionais experientes", explicou.

"Há aspetos do país que são impossíveis de explicar com palavras. A linguagem do cinema permite-nos comunicar temas e sentimentos difíceis de transmitir verbalmente", disse ainda, acrescentando que apesar do sucesso, está focada ainda na divulgação.

"Ainda há muito a fazer em termos de divulgação, e depois vamos ver o que virá", disse, apontando que tem várias estreias programadas, incluindo duas sessões em Nova Iorque e em Portugal, agendada para maio.

A história acompanha Nana, uma menina que vive na ilha do Fogo, de onde todos desejam partir, menos ela.

Abandonada pela mãe, Nia, acometida por febres misteriosas, é levada ao vulcão para ser curada, entrando num universo entre o sonho e a realidade.

Alice da Luz Gomes, filha de pais cabo-verdianos, nascida e criada em França, é a única atriz profissional no elenco e interpreta a mãe.

"Esta mãe representa muito as mães cabo-verdianas", disse à Lusa Alice, considerando que a experiência "foi muito interessante".

"Já trabalhei com atores formados, mas aprendi imenso com quem não tem formação. Nunca pensei fazer um filme aqui, em crioulo", acrescentou.

Fábio Barros, estreou sem qualquer experiência e confessou que foi "muito difícil", mas a vontade de participar falou mais alto.

"Acreditei em mim e entrei de cabeça erguida. Agora gosto mesmo de representar. Já estou a gravar vídeos e penso viajar para aprofundar os meus conhecimentos", disse.

'Hanami' já recebeu vários prémios, incluindo o Ingmar Bergman, no Festival de Cinema de Gotemburgo (Suécia), em fevereiro, e o de revelação no Festival de Locarno (Suíça), em 2024.

Foi ainda distinguido em festivais de Chicago (EUA) e São Paulo (Brasil).

Denise Fernandes, que já realizou as curtas-metragens 'Nha Mila' (2020), 'Idyllium' (2013), 'Pan sin mermelada' (2012) e 'Una notte' (2011).