
A ópera em três atos, com duração de uma hora 20 minutos, tem música, encenação e direção artística de Jorge Salgueiro, libreto de Humberto Santana e António Cabrita, coreografia de Iolanda Rodrigues, figurinos de Mariana Morgado e videocenário de Diogo Marrafa.
Em declarações à agência Lusa, Jorge Salgueiro disse que esta ópera "tem um formato ligeiramente diferente das óperas tradicionais", com "atos mais curtos, porque a estrutura original é para cinema".
"Esta ópera estreia-se este mês nos palcos, mas foi concebida para uma longa-metragem de animação com estreia prevista em 2027 nos grandes ecrãs, logo tem uma estrutura de texto diferente da das óperas escritas originalmente para palco".
O enredo é um amor juvenil, entre uma cristã, Leonor, e um cristão-novo (um judeu recém-convertido ao cristianismo), Benjamim, que "é apanhado nestes trágicos acontecimentos" ocorridos em abril de 1506 e morre. Leonor refugia-se num convento onde terminou os seus dias, sempre a pensar no seu amor, Benjamim, e se "se reencontra com ele" na hora da morte, explicou Salgueiro.
Este reencontro "pode ser interpretado como um delírio de morte ou a crença da vida numa outra dimensão", acrescentou.
O compositor defendeu a ópera como o género ideal para tratar este tipo de temática.
"A maior parte das óperas tem uma parte dramática muito grande, que envolve mortes e dramas fortes. Eu acho que a ópera é o meio ideal para expressar estes grandes acontecimentos, não só porque tem os meios, orquestra, coros e as vozes líricas, que são vozes muito grandes e transportam em si este dramatismo. O facto de ter uma orquestra e coro dá uma dimensão à representação, que é característica da ópera e permite colocar de forma naturalmente estilizada estes acontecimentos trágicos da nossa história".
O massacre dos judeus foi descrito por Garcia de Resende. Frades dominicanos instigaram população cristã de Lisboa contra os judeus, considerando-os culpados da seca, fome e peste que assolavam o país.
Este motim, ao qual as tropas do rei puseram fim, tendo os culpados sofrido pesadas penas, é também referenciado como "progrom de Lisboa" ou "matança da Páscoa", tendo causado a morte a 4.000 pessoas.
A ópera "foi feita originalmente para ser uma longa-metragem de animação, talvez seja até a primeira, um formato novo que concorreu ao Instituto do Cinema e do Audiovisual [ICA], e foi aprovado pela sua originalidade. Trata-se de um formato novo que é um piscar de olho ao musical, mas é uma ópera, apesar de ter personagens jovens, como a Leonor e o Benjamim, o que remete para outro tipo de vozes, que não são grande vozes de ópera, já formadas".
O compositor destacou o "elenco enorme", com 24 de personagens, e o facto de vir do cinema, o que "implica mudanças repentinas de cena", em palco.
O elenco é constituído por Rita Cortez, em Leonor jovem, Pedro Torres, como Benjamim, Diogo Oliveira e João Merino, como frades dominicanos, Mariana Chaves e Maria do Mar, como monjas, Gonçalo Martins, como nobre, Paula Morna Dória, como Leonor monja, Tiago Saad, como Zarolho da Perna de Pau.
Completam o elenco, Ricardo Panela como Barba Ruiva, Jonathan Mongelos, como pai de Benjamim, Lucas Bontea, como filho do sacristão, Helena de Castro e Lucas Thaumaturgo, respetivamente mãe e pai de Leonor, Carolina de Jesus e Santiago Pereira, como sefarditas (judeus descendentes de antigas comunidades ibéricas), Célia Nascimento e David Martins, como facínoras, Néu Silva, no papel de marinheiro. João Rato é Celestino e o seu irmão é desempenhado por Gonçalo Santos, João Carlos Carvalho, o mensageiro e Ricardo Arrábida, o escravo.
O Coro Setúbal Voz e Academia de Dança Contemporânea de Setúbal assumem as personagens coletivas. O conjunto é acompanhado pela Orquestra do Norte, em gravação.
A ópera é uma produção da Associação Setúbal VOZ e a produtora cinematográfica Sardinha em Lata.
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