Um artigo de investigação publicado na “Harper's Magazine” dá conta de que o Spotify estará a rechear as suas playlists com “artistas fantasma”, de forma a minimizar os custos que tem com os royalties pagos aos músicos.
O texto é assinado por Liz Pelly, autora do livro “Mood Machine: The Rise of Spotify and the Costs of the Perfect Playlist”, que será editado no próximo dia 7 de janeiro e que conta a história do Spotify, bem como a sua influência na forma como se consome música hoje em dia. Entre as playlists mais afetadas, pode ler-se, estão as referentes a géneros como o hip-hop, o jazz, a música clássica ou a música ambiente. Faltam nas mesmas muitos dos maiores nomes do género, abundando os temas genéricos, de autoria irreconhecível.
A prática, designada como Perfect Fit Content, foi introduzida pelo Spotify em 2017. Através dela, o Spotify cria parcerias com empresas de produção musical, muitas delas localizadas fora dos Estados Unidos, para colocar música nas suas playlists que não seja tão cara quanto a dos músicos propriamente ditos.
Um dos exemplos dados nesta investigação foi obtido através de um estudo do crítico de música David Turner, que detetou que a playlist “Ambient Chill” descartou artistas comummente ligados ao género - como Brian Eno ou Jon Hopkins - para recorrer a temas criados pela Epidemic Sound, uma empresa sueca especializada em "música de produção" - música que é usada como pano de fundo em anúncios ou programas de televisão, e cujos custos são menores.
A investigação conta com declarações de antigos funcionários do Spotify, incluindo um editor de playlists que revelou que muitos dos trabalhadores não sabiam a origem da música que era ali colocada. “Se os números subiam, mais substituições fazíamos; se o utilizador não reparar, não há problema”, disse.
O artigo da “Harper's Magazine” cita um outro, do jornal sueco “Dagens Nyheter”, que ao longo dos últimos anos descobriu que há 500 artistas no Spotify que são o produto de apenas 20 compositores. Um desses 500 “artistas-fantasma” contará com uma biografia totalmente fictícia, e as suas faixas foram escutadas no Spotify milhões de vezes. “Muitos dos editores de playlists não têm interesse em participar no esquema”, pode ler-se. “Por isso, a plataforma começou a contratar editores menos preocupados com isso”.
Algumas das playlists mais escutadas do Spotify, como as que têm como título “Ambient Relaxation”, “Cocktail Jazz” ou “Bossa Nova Dinner”, são compostas quase integralmente por música de “artistas-fantasma”. E o fenómeno tenderá a aumentar: alguns ex-trabalhadores do Spotify acreditam que a empresa irá, em breve, recorrer à Inteligência Artificial para elaborar estas playlists.
Contactado pela “Harper's Magazine”, um porta-voz do Spotify descreveu estas descobertas como “categoricamente falsas". Declarações que contrastam com aquelas prestadas por Daniel Ek, diretor executivo do Spotify, que afirmou no início do ano que os custos da plataforma com conteúdos criativos estão “próximos do zero”.