
A Câmara Municipal de Paris obteve este domingo, dia 23, o apoio dos cidadãos para o projeto de pedonalização e ecologização de 500 ruas, que se juntarão a outras 300 onde o trânsito já é proibido atualmente.
Com o “sim” obtido na consulta pública, a mudança vai implicar a eliminação de 10 mil lugares de estacionamento, cerca de 10% do total existente na cidade. Participaram cerca de 4% dos eleitores parisienses, com quase 66% dos votantes a aprovar a ideia proposta pelo executivo municipal.
A equipa liderada pela socialista Anne Hidalgo quis legitimar nas urnas a ideia de retirar os carros de 500 ruas, embora sem apresentar a lista de ruas que serão afetadas e, por conseguinte, escreve a Agência Lusa, sem saber que forma assumirão em termos de acessibilidade ou plantação de árvores.
A ideia foi criticada pela oposição de direita, que recrimina a presidente da câmara por continuar uma política que consideram ser dirigida contra os automobilistas, mas também por não cuidar suficientemente das zonas verdes já existentes na cidade.
Aurélien Véron, vereador do grupo de oposição “Change Paris”, queixou-se da ambiguidade da pergunta feita no referendo ["A favor ou contra a plantação de vegetação e a pedonalização de mais 500 ruas em Paris, em todos os bairros?"], mas também do facto de a alteração da configuração urbana de muitas ruas poder dificultar a mobilidade, nomeadamente de pessoas com mobilidade reduzida.
Para a equipa de Hidalgo, no entanto, “a questão da vegetação e da pedonalização é um imperativo”, como afirmou na passada sexta-feira a vereadora responsável pelo planeamento urbano, Lamia El Aaraje, insistindo que a cidade deve estar preparada para as alterações climáticas e, em particular, para cenários extremos que podem atingir temperaturas de até 50 graus celsius.
Além disso, a equipa municipal também assume plenamente a política de eliminação dos lugares de estacionamento na rua (o objetivo é eliminar 60 mil no total, 60% dos existentes), porque os carros ocupam 95% do espaço público.
Baixa participação domina referendos locais
Apesar de uma maioria de quase dois terços dos eleitores terem aprovado a proposta do referendo local, a participação eleitoral foi de apenas 4% dos eleitores: só 55.000 dos cerca de 1,4 milhões recenseados votaram.
Já esperado que o nível de participação fosse baixo, depois de duas consultas anteriores aos cidadãos - uma em 2022 sobre a retirada de trotinetes dos passeios pedonais e outra sobre a taxa de estacionamento para veículos utilitários - não terem chegado também aos 10% de afluência.
Se nestes dois anteriores processos de consulta a participação já tinha dado origem a controvérsia sobre o significado a atribuir-lhe, desta vez a participação foi ainda mais baixa.