
Mostra na Biblioteca Pública de Évora decorre em simultâneo com a representação do Alentejo na Expo Universal do Japão. Ana Paula Amendoeira realça simbolismo cultural e diplomático de um espólio único no mundo.
No dia 9 de maio, Dia da Europa, foi inaugurada na Biblioteca Pública de Évora (BPE) uma mostra documental dedicada aos «Papéis do Biombo», um conjunto de documentos raros do século XVI que integram o espólio da instituição e que se encontram também em exibição na Expo Osaka 2025, no Japão, no âmbito do programa «O Alentejo em Osaka». A iniciativa é promovida com o apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDR Alentejo).
Em declarações à imprensa, Ana Paula Amendoeira, vice-presidente da CCDR Alentejo com a pasta da Cultura, afirmou que a abertura da mostra em Évora «tem também esse simbolismo que gostávamos de sublinhar, o Dia da Europa, e representa uma ação paralela à representação do Alentejo na Expo de Osaka».
A responsável sublinhou que esta iniciativa procura dar visibilidade à riqueza patrimonial da região: «Portugal foi um país pioneiro nas relações com o Japão. Estabelecemos laços que não foram apenas comerciais, mas também culturais, religiosos e diplomáticos. Estes documentos representam isso mesmo: a profundidade dessas relações e o seu valor histórico único».
Os documentos, conhecidos como «Papéis dos Biombos», foram encontrados no século XX dentro de um biombo namban. Estavam escritos em japonês antigo e são datados entre 1583 e 1587. Estavam guardados no interior de um biombo que terá sido trazido para Portugal pelos jesuítas, possivelmente por via do Frei Manuel do Cenáculo, fundador da BPE. «Aqui na biblioteca há uma fita com uma moldura que é a única coisa que sobra desse biombo», referiu Ana Paula Amendoeira.
A mostra patente na BPE inclui réplicas fiéis dos documentos, produzidas com o apoio de mecenato japonês. «Contámos com o apoio do professor Genji Hirohito, que foi responsável por captar esse mecenato japonês, não só para restaurar os documentos, mas também para criar estas réplicas, entregues à Biblioteca em 2015», explicou.
Entre os documentos expostos encontram-se os Analectos de Confúcio, a tradução do catecismo do Padre Valignano, advertências aos missionários jesuítas, um memorando com a lista de trabalhadores da fortificação de Osaka e uma carta relativa à construção de um biombo para oferta ao Arcebispo de Évora. «É muito interessante, por exemplo, o documento que tem a lista de pessoas que trabalharam na construção da muralha de Osaka. Vejam a coincidência: esse documento está hoje exposto em simultâneo em Osaka e em Évora», referiu.
A vice-presidente da CCDR salientou também o papel da Biblioteca Pública de Évora na preservação e divulgação deste espólio: «A equipa da biblioteca foi extraordinária. Desde o início estiveram de portas abertas para este trabalho em conjunto, que nos permitiu montar uma mostra de documentos únicos no mundo».
A importância simbólica e diplomática deste espólio foi reforçada em 2015, com a visita oficial do então primeiro-ministro japonês a Évora. «Há fotografias na sala de leitura que documentam esse momento. Foi esse primeiro-ministro, que infelizmente viria a ser assassinado, que veio visitar os originais destes documentos e também o órgão da Sé de Évora, que está diretamente ligado à missão Tenshō, a primeira missão diplomática japonesa à Europa», recordou.
A mostra em Évora cumpre também o objetivo de manter uma presença portuguesa permanente durante o período da Expo Universal, ao contrário da exposição em Osaka, que decorre entre os dias 9 e 11 de maio. «Decidimos que, enquanto decorre a Expo em Osaka, teríamos esta ação em Portugal, com estes documentos em exibição até outubro. É um orgulho muito grande que este espólio esteja acessível ao público num espaço que simboliza o encontro de culturas», afirmou Ana Paula Amendoeira.
Uma conferência internacional sobre os documentos e as relações entre Portugal e o Japão será promovida em outubro, assinalando o encerramento da Expo. «A missão Tenshō, os papéis do biombo, o órgão da Sé de Évora — tudo isto nos liga de forma direta ao Japão e reforça a nossa identidade como ponte entre culturas», concluiu.