Numa altura em que tanto se fala de resultados e metas na Educação, há um fator essencial muitas vezes esquecido: o afeto. Quando há empatia, respeito e proximidade, o ambiente de aprendizagem transforma-se, o aluno sente-se seguro, motivado e mais disponível para aprender.

EDUCAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO<br>Alunos do secundário, estudantes universitários, professores, líderes institucionais e especialistas reuniram-se para refletir sobre desafios e oportunidades do sistema educativo na Grande Conferência Educação e Transformação, organizada pela WIN World, que contou com o Expresso como media partner. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta online), sem interferência externa.
EDUCAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO
Alunos do secundário, estudantes universitários, professores, líderes institucionais e especialistas reuniram-se para refletir sobre desafios e oportunidades do sistema educativo na Grande Conferência Educação e Transformação, organizada pela WIN World, que contou com o Expresso como media partner. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta online), sem interferência externa.
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É por isso que a palavra afeto marcou a Grande Conferência sobre Educação e Transformação, organizada pela WIN World. Como afirmou Pedro Abrantes, professor na Universidade Aberta, “a relação professor/aluno é a chave para aprender”. À margem do evento, Inês Rodrigues reforçou: “Há situações tão difíceis que vivemos nas escolas, que nós nunca imaginaríamos como é que aquele aluno está ali a aprender quando já passou por tanto.” Para a docente no Agrupamento de Escolas de Águas Santas “ser professor também é dar o ombro” quando os alunos precisam: “Podermos ser pais e mães quando muitas vezes eles não têm. A empatia não se ensina, adquire-se.”

José Lourenço, diretor do Agrupamento de Escolas da Baixa da Banheira, uma TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), ou seja, escolas situadas em contextos socioeconómicos mais desfavorecidos, foi perentório: “Escola é vida.” Um princípio que se foi alastrando pelas intervenções, tornando-se unânime que as escolas primárias, os liceus e as universidades têm de ser “sempre” um espaço de inclusão, cidadania e bem-estar e que os afetos são sempre importantes, independentemente do contexto social do aluno.

Alunos querem ser mais ouvidos

Nesta reflexão sobre o presente e o futuro da escola em Portugal, além de professores, profissionais da educação e investigadores, no auditório da reitoria de Universidade Nova de Lisboa estiveram também alunos do ensino secundário e universitário, que pediram para ser mais ouvidos.

“Tenho o privilégio de estar numa escola onde sou ouvida, onde os alunos têm voz, mas há avanços a fazer, pois às vezes desvaloriza-se o que os alunos pensam”, sublinhou Matilde Ricciardi. A intervenção da aluna do 11º ano da Escola Secundária Pedro Nunes, em Lisboa, foi muito aplaudida, ela que é a cara de uma equipa que está a desenvolver uma tecnologia que deteta alterações nos tecidos mamários e que, por isso, foi distinguida o ano passado, em Itália, com o Prémio FedEx.

Gabriel Rosa, da Escola Secundária Júlio Dantas, em Lagos, foi mais longe e disse que “a escola está de portas e janelas trancadas” e isso tem “um impacto maior” do que aquilo que achamos: “Os alunos deviam ser ouvidos nas tomadas de decisão”, reforçou.

Medidas, IA, números

Nuno Crato considerou que “regressar a um currículo exigente e organizado” é a primeira medida estrutural a tomar no sistema educativo português. “A segunda mudança é regressar a um sistema de avaliação frequente, sistemático, ligado ao currículo e fiável. A terceira é restituir um modelo de apoio aos alunos com mais dificuldades, mas que seja centrado nos aspetos cognitivos.” O antigo ministro da Educação e Ciência (2011-2015) apontou para a Estónia como exemplo a seguir: “O país mais avançado da Europa” nesta matéria.

Alexandre Castro Caldas, professor catedrático na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, falou de um tema nem sempre pacífico: telemóveis nas escolas. “Se queremos as crianças na escola, não lhes vamos tirar os telemóveis, mas sim adaptá-lo às circunstâncias”, disse.

Quanto a liderança, João Trigo, diretor-geral do Colégio Efanor, afirmou que “a que interessa nas escolas não é tanto a dos diretores, mas sim dos professores e do que se passa na sala de aula. Isso é que faz a diferença”.

Bernardo Caldas, especialista em tecnologia, dados e inteligência artificial, e cofundador da Associação Data Science for Social Good Portugal, defendeu que se a IA “conseguir ajudar o professor a chegar a cada aluno, e se ajuste ao seu ritmo de aprendizagem, é extraordinário. Há uma revolução na maneira de aprender, assumindo que há motivação do lado dos alunos para isso”.

Foi ainda apresentado uma parte do estudo “A Voz dos Professores”, da Fundação Pedro Queiroz Pereira. Ficaram alguns números para reflexão: em Portugal, em cada 100 professores, 60 têm mais de 50 anos e apenas dois têm menos de 30 anos; 40% reformaram-se, ou reformam-se, entre 2020 e 2030; quatro em cada 10 professores dizem que o seu reconhecimento vem dos alunos; dois em cada três usam inteligência artificial.