Foi o filho de 5 anos, o segundo mais novo de uma mão cheia e a receber tratamento para um tumor cerebral, que conseguiu o milagre, garantem os pais de Maria de Lurdes Rodrigues Silva, que "finalmente vai ter o seu espaço". "Foram precisos dez anos", diz-me, a idade do mais velho dos netos, que sorri ao lado de outros três rapazes e uma rapariga na fotografia bem recente que mostra com orgulho. Foi a ela e aos filhos que coube receber a chave 2.000 das casas que o presidente da Câmara de Lisboa (CML) já abriu aos lisboetas desde que tomou posse, em 2021.
A alegria do momento esconde cicatrizes de má fortuna, relações mal sucedidas, violência doméstica e pouca saúde. Mas tudo isso ficou lá atrás. Com o filho de um mês ao colo, o sorriso que Maria de Lurdes traz estampado no rosto ao receber das mãos de Carlos Moedas a chave da sua nova casa, na Ameixoeira, vem acompanhado de uma boa dose de confiança no futuro. Que passa também pela formação que vai começar como auxiliar de educação. A casa é o primeiro passo para a independência e para uma vida em que tudo é possível, começando por ser feliz.
"A Habitação é a nossa dignidade, ter uma casa muda a vida de uma família em todos os aspetos; é muito mais do que ter onde morar, é uma mudança ao nível da saúde, do bem-estar, de toda a forma como se olha a vida. E por isso tem sido dos maiores investimentos que temos feito e dos maiores desafios da minha vida", vincou Carlos Moedas esta tarde, na cerimónia em que entregou a mais 30 famílias as chaves de casas municipais que estavam fechadas e que a CML reabilitou para que pudessem ser habitadas.
Das 2 mil casas municipais sem uso que identificou no início do mandato, mais de 1.300 já tiveram obras e foram entregues e quase tantas outras novas receberam inquilinos que esperavam uma vaga. Mas o número total de famílias apoiadas excede as 3.500, juntando a estas as cerca de 1.500 que beneficiaram do Programa de Apoio à Renda — a autarquia garante o pagamento do valor da renda que excede um terço dos rendimentos da família (naturalmente, sujeito a tetos). "Digam aos vossos amigos que isto existe para que também eles possam ser ajudados", incitava o presidente da CML.
Na antiga biblioteca da CML, ao lado da vereadora Filipa Roseta, "que levou esta missão por diante entregando-se-lhe de coração", Carlos Moedas explicava com a simplicidade de quem fala para amigos o percurso de escolhas feitas, o investimento de 500 milhões de euros — "o maior que qualquer município europeu fez nesta área, para melhorar a vida das pessoas" — dedicado a abrir portas que inexplicavelmente se mantinham fechadas para acolher quem precisava de morada. Do lado de cá, jovens, velhos, famílias com bebés de colo e pessoas sós, algumas delas caídas em situação de sem-abrigo, partilhavam olhares de compreensão e gratidão, sem largar as chaves de uma vida melhor que ali começava. Muitas não arredaram pé sem um abraço do "amigo presidente Moedas", que "bem sabe a vida difícil" que levam. Sabe, "porque conhece, porque visita".
"Não há sítio onde me recebam tão bem quanto nos bairros municipais", reconheceu o autarca, dizendo-se por isso ainda mais empenhado em ajudar a "mudar a vida" de quem precisa. E o trabalho está longe de estar terminado. "Cuidem bem das vossas casas", pediu o autarca, deixando a promessa de continuar a trabalhar para encontrar soluções para todos. Gerindo um investimento de 560 milhões de verbas comunitárias para a habitação, não são só os bairros municipais e os arrendamentos que serão visados. A câmara está também a avaliar a abertura de mais residências para estudantes, podendo vir a disponibilizar mais 1.000 camas para os que estejam deslocados, adiantou Moedas.