"O exercício que vos apresentamos hoje tem de ser visto assim mesmo: é apenas um exercício. Estas são umas eleições especiais, com mais abstenção do que as legislativas, com protagonistas diferentes e onde foi possível pela primeira vez votar em qualquer mesa de voto, o que naturalmente tende a enviesar esta análise." O aviso prévio é deixado por João Gomes de Almeida, dono da agência GDA & Associados, que decidiu estudar os resultados das Europeias de dia 9 de junho à luz de diferentes perspetivas, não apenas criando estatísticas sobre os resultados mas fazendo uma extrapolação sobre o que sucederia caso os resultados destas europeias fossem transpostos para o cenário político nacional.

Para que serve esse exercício, se nada mais é do que ficção? "Se as Eleições Europeias não contassem para nada nos cenários internos de cada país da União Europeia, não teríamos um terramoto político em França, Scholz na Alemanha a ter o pior resultado de sempre desde a Segunda Guerra Mundial para o SPD, o Vox a comemorar o terceiro lugar em Espanha - o que levou a vice-presidente de Espanha Yolanda Diaz a demitir-se de presidente do Sumar (mas não do governo) - e na Bélgica o primeiro-ministro Alexander Croo a demitir-se do governo (o seu partido teve apenas, pasmem-se, 5,7%)."

Para João Gomes de Almeida, há sempre algum efeito que passa para o território nacional. E se aqui isso significaria pouco no bloco central, com AD e PS a manter o empate (o PS ganhou em votos e mandatos mas a AD manteve o peso), há um sabor a derrota inequívoco que se cola à boca de André Ventura. "Os grandes vencedores da noite foram mesmo a CDU, que todos julgavam que não elegeria, e a IL, que surpreendeu em todos os sentidos", conclui o analista político.

Mas afinal o que diz o estudo da GDA & Associados? Em primeiro lugar, que Portugal continua a ligar pouco a Eleições Europeias.

Portugal foi o quinto país onde a taxa de participação mais subiu, mas mantém-se no top dos abstencionistas, com 63,4% dos portugueses a não ir às urnas. Pior, só República Checa, Eslováquia, Letónia e Bulgária (todos na casa dos 60%), Lituânia e Croácia (mais de 70% de abstenção).

Abstenção
Abstenção

A maioria dos eurodeputados eleitos vem de Lisboa (seis) ou do litoral norte (nove, vindos de Porto, Braga, Coimbra e Aveiro), havendo apenas Isilda Gomes (PS) a representar o sul — menos dos que os quatro deputados que vêm das Regiões Autónomas (três da Madeira e um dos Açores).

Mapa Europeias
Mapa Europeias

"A média etária dos eurodeputados eleitos foi de 49 anos", conclui ainda o estudo, com dois socialistas a representar os mais velhos e os mais novos: Isilda Gomes, com 73 anos, e Bruno Gonçalves, com 27. Quanto às famílias europeias em que cada um dos 21 eurodeputados se integram, há representantes para quase todos os gostos: os oito mandatos do PS vão integrar a S&D - Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu; os sete da AD juntam-se ao PPE - Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos); os dois do Chega ficarão no Grupo Identidade e Democracia e os dois da IL no Renew Europe; os deputados únicos de PCP e BE vão formar fileiras no The Left. Verdes, Conservadores e Reformistas não terão representantes portugueses.

Feitas as contas, será esta  composição final do Parlamento Europeu, após os resultados finais das eleições de domingo, dia 9 de junho.

Parlamento Europeu 2024
Parlamento Europeu 2024

E se os resultados das Europeias tivessem repercussão no Parlamento nacional? O exercício de extrapolação feito pela GDA & Associados revela uma Assembleia pouco alterada no bloco central mas com mudanças significativas no que respeita aos restantes grupos. "Com a distribuição dos votos da emigração, tendo em conta o último escrutínio em legislativas, o Chega cairia para o quarto lugar, em número de deputados, e a Iniciativa Liberal passaria para terceiro lugar, com a diferença de um deputado para o Chega."

Parlamento extrapolado
Parlamento extrapolado